segunda-feira, 21 de março de 2016

160 - ESTUDO das ARTES – ARTE e INDÚSTRIA no BRASIL


A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA e a ERA INDUSTRIAL no BRASIL

Criando simultaneamente uma Escola de Belas Artes, ‘los nobles artes’, e uma escola de desenho para as artes e ofícios, se possa preservar a primeira pela segunda. Lebreton, 12 de junho de 1816

Grandjean de Montigny –Vista do interior da Praça do Comércio – Rio de Janeiro
Fig. 01 – O arquiteto Auguste Henri Victor Grandjean de MONTIGNY (116-1850) trouxe os seus auxiliares e foi eficiente em alterar a estética dos prédios oficiais e particulares dando-lhes uma face estética e funcional  completamente diferentes do barroco colonial   Esta tipologia criou a face visível do IMPÉRIO BRASILEIRO. Porém isto não afetou a infraestrutura técnica, econômica e mesmo política herdada do Regime Colonial do Brasil

O projeto da interatividade da ARTE com a INDÚSTRIA - e vice versa - é resultante do iluminismo e do enciclopedismo europeus. Este projeto motivou e alimentou as esperanças de Napoleão Bonaparte de colocar a França na frente desta revolução tecnológica e nova infraestrutura da cultura humana
Agentes expressivos da corte de Napoleão Bonaparte procuraram abrigo no Brasil após derrota e destituição do seu imperador. Agentes que desembarcaram no Rio de Janeiro em março de 1816, e ficaram conhecidos como MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA. Portavam o projeto da França de estar na frente da revolução tecnológica e nova infraestrutura da cultura humana em profunda interação com a ARTE.
A derrota napoleônica - pelo império liderado pela Inglaterra - estraçalhou o projeto não só o politico francês, mas também o econômico e industrial. A indústria e o comércio britânico iniciaram e pavimentaram o colonialismo do século XIX com a derrota das pretensões hegemônicas francesas.
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848)  “Negresses cuisinieres marchandes d'Angou”
Fig. 02 – O total analfabetismo da população brasileira  era indicado pela falta total de algum cartaz ou letreiro no comércio de rua. A cultura oral era absoluta. Os panos ingleses e  sombrinha chinesa indicam a carga que os navios “AMIGOS”  que aportavam ao Rio de Janeiro. Na imagem de DEBRET existe ausência de qualquer objeto industrial brasileiro além do artesanato elementar e os dois sujeitos sentados e se servindo com as palmas das mãos do prato colocado no chão.

A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA, uma vez em solo brasileiro, defrontou-se internamente com a realidade de uma mentalidade colonial, com o trabalho movido pelo braço escravo. Externamente reinava o franco favorecimento oficial lusitano aos interesses britânicos. A corte no Rio de Janeiro sentia-se comprometida com devido a efetiva ajuda britânica nas três invasões francesas de Portugal. Enquanto isto a indústria e o comércio franceses permaneceram estagnados por duas décadas perdidas diante do avanço britânico.

Fig. 03 – Arsène ISABELLE experimentou a  dura realidade da ruina do comércio e indústria francesa que encontrou, na década de 1830, como negociante do Havre na Bacia do Rio da Prata, além de praças comerciais da três Américas  ilustra o fracasso do projeto industrial e comercial francês. De outro lado evidencia a inciativa privada não recusando a dura prova de viajar 45 dias em carretas de duas rodas  de São Borja até Rio Pardo. A nota otimista é registro do encontro da colônia de São Leopoldo em plena construção e gerando necessidades para o desenvolvimento da indústria e comércio.


 É o que depreende do livro do comerciante do Havre,  Arsène ISABELLE (1795-1879)[1],   escrito após as suas experiências de campo na América ao longo dos anos de 1834 e 1835

 “Visitei Buenos Aires, a cidade mais comercial da América do Sul depois do Rio de Janeiro. Visitei Montevidéu, Rio Grande, Porto Alegre; tive relações com Valparaiso, Rio de Janeiro, Vera Cruz e Havana; acompanhei a marcha dos nossos negócios no exterior e adquiri, corando de pudor nacional a humilhante certeza de que o nosso comércio é infinitamente inferior ao de outras nações marítimas, não somente nos lugares que visitei como também (e nem receio um desmentido) em todos os pontos do continente americanoISABELLE, 1835 p. 265

Apesar de haver trazido mais técnicos do que artistas, os ideais da  MISSÃO ARTISTICA FRANCESA viram-se reduzidas ao mundo estético e educacional francês. Estes técnicos, sem fontes de energia de máquinas e de operários qualificados, além do braço do escravo e animal, foram compelidos a regredir ao artesanato manual de luxo da Idade Média. A densidade populacional destes técnicos, esclarecidos e profissionalizados,  era menos do que uma mísera gota num oceano de ignorância, de desconfiança e de satisfação com o Regime Colonial.
Grandjean de Montigny – PROJETO da BIBLIOTECA NACIONAL– Rio de Janeiro
Fig. 04 – Por melhor que tenha sido a intenção  arquiteto Auguste Henri Victor Grandjean de MONTIGNY (116-1850) um projeto para uma biblioteca era algo não coerente num pais de analfabetos. Isto significava a absoluta incongruência de instalar no Brasil um PROJETO de INDUSTRIALIZAÇÂO. Não só o empreendedor necessitava da capacidade de ler, mas especialmente o operário, o vendedor e o consumidor necessitavam deste recurso.

De nada adiantaram os conselho  de Joaquim LEBRETON ao CONDE da BARCA em carta, do dia 12 de junho de 1816:
"Acho que o Brasil poderia entrar bem mais frutuosamente na partilha das perdas que enfrenta a indústria francesa, e com as quais se beneficiam o norte da Alemanha, a Bélgica holandesa e os Estados Unidos. Por uma única operação pode-se trazer de Paris pelo menos cem operários escolhidos segundo o emprego que deles fosse proposto fazer, e que se repartiriam por oficinas organizadas nos pontos mais úteis".
Estes conselhos  de Joaquim LEBRETON indicam a existência deste projeto industrial com um dos ideais da  MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA no Brasil. Este ideal teve de se contentar com projetos  da decoração do palácio régio e alguns registros gráficos esporádicos destes eventos. Registros que foram dados ao mundo no retorno de Debret para o mudo industrial da França na década de 1830.
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848)  “Escravos transportando o dono”
Fig. 05 – O artista Debret, da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA, encontrou vestígios culturais anteriores a invenção da roda. A roda desconhecida do indígena americano e pouco usada pela cultura africana era algo a sr incorporada aos hábitos e técnicas brasileiras. O lusitano ainda andava nas carretas de duas rodas introduzida em Portugal pelos romanos. Dar o salto para a ERA INDUSTRIAL era uma utopia numa cultura destas.

O centralismo do poder e o férreo regime monocrático também não toleravam qualquer sombra da iniciativa dos cidadãos avulsos. Assim o projeto de Joaquim LE BRETON ao CONDE da BARCA não passou além de quimera:
“O contrato, eu fixaria em 5 anos, as oficinas estariam estabelecidas, pois mesmo supondo – o que certamente não seria geral – que os mestres operários quisessem trabalhar por conta própria a nação teria adquirido que toda a indústria, e o estabelecimento isolado não deixaria de ser uma vantagem. Não é um sonho, sr, Conde, pois um dos negociantes locais, a quem quero bem e estimo, já começou a realizar parte este plano no Rio de Janeiro, com alguns operários franceses vindos comigo".

Na ausência de qualquer projeto consistente de tecnologia própria e coerente com a realidade política, econômica e social  brasileira era abrir os portos para as NAÇÕES AMIGAS.  Nesta abertura os LIVROS, os PERFUMES e a MODA FRANCESA eram pagos com LIBRAS ESTERLINAS. 
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848)  Un veiillard comvalescent portant a l'eglise son offrande portée par la reconnaissance
Fig. 06 – O “REI da VELA” era alguém que prosperava, as custos do outros,  num pais de OBSCURANTISMO e CRENÇAS absurdas. Certamente a metáfora do “REI  da VELA”  de Oswald de ANDRADE[1] continuou em plena vigência e sustentando caciques e coronéis moribundos mas que não abdicavam do seu poder arcaico e centralizador.  O projeto de uma indústria honesta e civilizada era uma empresa que poderia escapar do controle de suas mãos.

CONTRADIÇÃO FRANCO-BRITÂNIA era paga com a COMPLEMENTARIEDADE e com a COMPLACÊNCIA BRASILEIRA.



[1] OSWALD de ANDRADE (1890-1954) o “REI da VELA”.   http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/o-rei-da-vela.html
DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848)  Escravos carnavalizam a colheita de café
Fig. 07 – A carnavalização do trabalho braçal e escravo tirava qualquer noção do valor e do destino dos produtos agrícolas brasileiros.  Até o presente a Alemanha industrializa, comercializa e gera muito mais lucros do café do que o Brasil,  apesar de não colher um único grão em seu território nacional 

O BRASIL foi parceiro e consumidor de muita pesquisa realizada na FRANÇA. Basta lembrar as pesquisas fotográficas de Hercules Florence. De outra parte as pesquisas de Santos Dumont nos primórdios da aventura da dirigibilidade dos balões e no mais pesado do que o ar uniu FRANÇA e BRASIL.
Contudo o BRASIL não conseguiu se livrar do complexo de COLÔNIA e da ESCRAVIDÃO VOLUNTÁRIA. Estes complexos o mantiveram na minoridade e ao abrigo de assumir a sua AUTONOMIA, sua LIBERDADE e a POSSIBILIDADE de ser CULPADO de ALGO. Este conforto da heteronímia intelectual, moral e estético manteve a cultura brasileira no útero materno. Minoridade incapaz de correr os riscos e as perdas de alguma eventual mudança da sua condição de um país agrícola e agro produtor cujo valor é agregado por países que estão em marcha resoluta para a ERA PÓS-INDUSTRIAL
Marcha para a maioridade evidente na ERA PÓS-INDUSTRIAL e expressa na AUTONOMIA, na LIBERDADE e CRIATIVIDADE de sua ARTE.  Os países que estão em marcha resoluta para a ERA PÓS-INDUSTRIAL cumprem o projeto de Le Breton de  que as artes e ofícios preservam a primeira pela segunda”.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

BARATA Mário (*20.09.1921 +14.09.2007) Manuscrito inédito de Lebreton – Sobre o estabelecimento de dupla escola de Artes no Rio de Janeiro, em 1816.  RIO DE JANEIRO: MINISTÉRIO da EDUCAÇÂO e CULTURA REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL Nº 14– 1959 –  pp. 283-307  http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/RevPat14_m.pdf
CUNHA, Luiz Antônio (1943 - ) O ensino de ofícios e manufatura no Brasil escravocrata (2ª ed.) São Paulo: UNESP; Brasília: DF FLACSO – 2005 - 243 p.          ISBN 85-7139-631-0
ISABELLE Arsène (1795-1879)  Viagem ao Rio da PRATA e ao Rio Grande do Sul 1834-1835 - Brasília: Senado Federal 2006, XXXII + 214 p.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

Auguste Henri Victor Grandjean de MONTIGNY (116-1850)


CARTA de LE BRETON ao CONDE da BARCA

DEBRET, Jean-Baptiste (1768-1848)
DEBRET e os ofícios no Brasil

ISABELLE Arsène Viagem ao Rio da PRATA e ao Rio Grande do Sul 1834-1835

INGLATERA e FRANÇA DIVIDEM o MUNDO

Grandjean MONTIGNY

OSWALD de ANDRADE (1890-1954) o “REI da VELA”.
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