quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

151 – LOGÍSTICA em ESTUDOS de ARTE: Indústria e Arte no Brasil em 1816



 CARTA de LE BRETON ao CONDE da BARCA

O texto,  a seguir, teve um curto e obscuro sentido administrativo nas ARTES do Brasil.  Durou de 12 de junho de 1816  até 12 de agosto de 1816. O publicamos, aqui, pois acreditamos que o PENSAMENTO é o que permanece. Neste caso é o PENSAMENTO de um PROJETO anterior ao FAZER.  É necessário perceber -  no projeto de Joaquim LE BRETON  -  que a EDUCAÇÃO INSTITUCIONAL das ARTES só e possível AVALIAR a partir de um PROJETO. Este texto  de LE BRETON  constitui um PROJETO acima da estética, da técnica,  da estética, dos agentes e da logística institucional.  Este PROJETO teve origem na experiência do chefe da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA na  sua prática institucional nas ARTES levadas a efeito ao longo da Revolução Francesa. Por isso ele colocou este projeto no início da ação e do caminho ser  feito o NOVO MUNDO. Ele seguiu a lógica de que não adianta correr, saltar obstáculos realizar rupturas epistêmicas sem ter um PROJETO  de quem sabe  para onde ele vai, de gastar fortunas e de realizar escolhas irreversíveis.
É necessário cotejar este texto de Joaquim LE BRETON  com numerosos outros escritos  da época que se interrogam em relação à NATUREZA, os CUSTOS e os BENEFÍCIOS das ARTES no âmbito da emergente ERA INDUSTRIAL.  Neste sentido para o chefe da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA  faziam sentido os escritos, as ações e as instituições criadas pelos irmãos VON  HUMBOLDT, como declara no início de sua carta.
O caminho apontado por JOAQUIM  LE BRETON, em 1816 - e que foi abandonado - permite compará-lo com a NATUREZA,  os CUSTOS e os BENEFÍCIOS do outro caminho escolhido. Outro caminho escolhido, em 12 de agosto de 1816, na criação da Escola Real de Belas Artes e Ofícios e na efetiva implantação, em 1826, da Imperial Academia de Belas Artes (IABA).
Este texto de LE BRETON ao CONDE da BARCA, foi traduzido por MÁRIO BARATA (*20.09.1921 +14.09.2007) e por ele publicado, em 1959,  na prestigiosa revista do:
 MINISTÉRIO da EDUCAÇÃO e CULTURA
REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL
Nº 14
RIO DE JANEIRO – 1959

REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL
Órgão da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Diretor Rodrigo M. F. de ANDRADE
Rua da Imprensa, 16, 8º andar
MINISTÉRIO da EDUCAÇÂO e CULTURA
Rio de Janeiro   Brasil
REVISTA do PATRIMÔNIO ARTISTICO NACIONAL - nº 14 -  1959

REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL
SUMÁRIO deste NÙMERO
Azulejos no Brasil – Comunicação destinada ao Colóquio de Estudos Luso – Brasileiros na Bahia, 1959. .João MIGUEL dos Santos Simões... p. 9


Manuel de Araújo Porto Alegre – Sua influência na Academia Imperial das Belas Artes e no meio artístico do Rio de Janeiro...Alfredo Galvão......p.19

Formação urbana do Arraial do Tejuco ......... Sílvio de Vasconcellos.... p.121
O Forte de Santo Antônio da Barra...... ..........................Carlos OTT.....p.135
Igreja das Mercês de Ouro Preto – Documentos do seu arquivo... Cônego Raymundo Trindade...161
 Manuscrito inédito de Le Breton – Sobre o estabelecimento de dupla escola de Artes no Rio de Janeiro, em 1816.......Mário Barata..... p283 

MANUSCRITO INÉDITO de LE BRETON

SOBRE o ESTABELECIMENTO de DUPLA ESCOLA de ARTES no RIO de JANEIRO, em 1816. 
MÁRIO BARATA (1921-2007) biografia e obras
Fig. 01 – Os créditos da descoberta e da divulgação das duas cartas similares,  datadas de  1816, de Joaquim LE BRETON ao Conde da BARCA (Antônio de Araújo e Azevedo 1758-1817) deve-se a MÁRIO BARATA  (*20.09.1921 +14.09.2007). O lapso de tempo, entre 1816 até 1959 em que esta correspondência esteve nos arcanos esquecidos dos documentos brasileiros,  certamente é um índice da logística, das estratégias e das táticas reservados à memória da Arte  nacional . Arte entregue  aos hábitos e costumes de uma região com uma cultura fechada ao longo de três séculos, movida com  o trabalho  ESCRAVO e com a maioria da POPULAÇÂO ANALFABETA.


Em conferência pronunciada a 26 de março de 1958, por indicação da congregação da Escola Nacional de Bels Arte, em sessão comemorativa da chegada da Missão Artística Francesa e da vinda de D. João VI para o Brasil, revelamos publicamente aspectos essenciais de dois inéditos de Le Breton, sobre a organização do ensino das artes no Rio de Janeiro, respectivamente datados de 12 de junho de 1816 e de 9 de julho do mesmo ano, e endereçados ao Conde da Barca. Esses importantes documentos, que renovam parcialmente a história da vinda e da atuação da Missão Artística, acham-se desde o século passado no arquivo do atual Palácio Itamarati, aonde, possivelmente chegaram misturados com outros papeis referentes  a Lebreton, em face das complicações diplomáticas resultantes de certas atividades do entusiástico bonapartista francês.
Afonso de E. Taunay[1] cita a sua existência, baseado em relação publicada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo IV, 395[2], em que também menciona manuscrito de Francisco José Rodrigues Barata, sobre a Capitania de Goiás.
Taunay não chegou, porém – por motivos que desconhecemos – a consultar esses planos de Le Breton para o estabelecimento de uma dupla escola de artes no Rio. Trata-se de versões ou rascunhos de documento definitivo, que deve ser entregue ao Conde da Barca, pois a ele, como vimos, sã endereçados.
Vendo a referência de Taunay, foi-nos fácil encontrar os documentos, e rapidamente compreender sua magna importância para a história de nossa arte – pela extensão e significado de suas informações – e mesmo para a história do ensino artístico em geral.
Na conferência da Escola Nacional e Belas Artes, estendemo-nos sobre as revelações dos citados inéditos, para história da Missão. Eles indicam, entre outras coisas, que Le Breton quis que o pintor brasileiro Manuel Dias de Oliveira figurasse como professor na Escola a ser fundada; que critica levemente o aspecto não clássico do desenho de Nicolau Antônio Taunay e explica porque  coloca, em relação de professores, abaixo de Debret. É que – diz- seria demasiado estranhável na Europa que, numa Academia, um pintor de gênero  figurasse acima a cima de um pintor de História. Em várias ocasiões o autor exige e marca o caráter clássico do ensino a ser ministrado na novel instituição.
Se estes elementos indicam a forte orientação neoclássica do ensino proposto pela missão, outras partes do texto esclarecem melhor a largueza da metodologia aconselha aquisição de coleção de telas e, sobretudo, o entusiasmo com que propugnou pelo que chama de dupla-escola de arte: um  ramo – paralelo aos das belas artes – destinado ao ensino das artes-ofícios, em correspondência com ateliers, cuja criação sugere, de modo prático. Destaque-se, ainda, que o autor grafava o seu nome Le Breton.
É extremamente rica a messe de informações que se podem recolher, nos referidos inéditos. Dá-lhe maior valor a circunstância de ser fornecida pelo próprio homem que teve a iniciativa da Missão e a primeira ideia, possivelmente, de criar-se a referida Escola de Artes, no Rio de Janeiro.
Realmente, nas indicações dadas pelo texto comprovam a influência de Humboldt sobre Le Breton, no tocante à criação de uma escola de Artes, mas delas se deduz, definitivamente, o fato de que a Missão Artística foi concebida pelo antigo secretário do Instituto de França, ficando com o Conde da Barca e D. João VI o mérito ( já bastante grande) de terem aceito a proposta e procurado de certo modo realizá-la.  O decreto de 12 de agosto, posterior apenas de um mês e três dias a data do segundo rascunho, já não seguia, porém, as linhas do plano de Le Breton, nem  o projeto de leu por ele elaborado.
Publicamos, nesta Revista, a convite de seu diretor, a fiel tradução do primeiro manuscrito, datado, como já dissemos, de 12 de junho de 1816. Colocamo-lo, assim, a serviço de todos os estudiosos do assunto.
O segundo manuscrito é uma variante deste com poucos acréscimos, e que comentaremos em outra oportunidade, nesta mesma publicação.



[1]  - A. .E. Taunay – Missão Artística de 1816, Rio, publicação nº 18 da DPHAN, p. 72.

[2] - Com o título “ Relação dos manuscrito a respeito do Brasil, existentes no Arquivo da Secretaria de Estados dos Negócios Estrangeiros”, pp. 394398. Na p. 395 estão indicadas “Cartas e Memórias do Mr. Chevalier Jochim (sic) Le Breton para o estabelecimento  das Escola das Belas Artes no Rio de Janeiro”.
Fig. 02 – Retrato de Joaquim LE BRETON (1760-1819) realizado pela pintora Adelaïde LABILLE-GUIARD (1749-1803) na  época em que  ocupava o prestigioso cargo de SECRETÀRIO PERPÉTUO do INSTITUT de FRANCE. Perdeu este  cargo com o retorno dos Bourbons ao trono francês.  Sob a  alta coordenação do Conde da Barca foi convidado para recrutar e chefiar a MISSÂO ARTÌSTICA ao BRASIL Homem das LUZES e doa ENCICLOPÉDIA FRANCESA, tentou associar a Arte aos Ofícios e aos primórdios da lógica da ERA INDUSTRIAL .Porém a ERA INDUSTRIAL a ENCICLOPÉDIA e as LUZES da RAZÂO eram vetores absolutamente estranhos aos hábitos e costumes de uma região cultura fechada ao longo de três séculos onde o trabalho era ESCRAVO e com a maioria da POPULAÇÃO ANALFABETA.

MEMÓRIA DO CAVALEIRO JOACHIM LE BRETON PARA O ESTABELECIMENTO DA ESCOLA DE BELAS ARTES, NO RIO DE JANEIRO[1].

Rio de Janeiro, 12 de junho de 1816.

A Sua Excelência o Senhor Conde da Barca[2], Ministro do Estado.
Senhor.
Nenhuma cidade do novo Continente, sem excetuar as dos Estados Unidos, oferece estabelecimentos científicos tão grandes, tão sólidos, quanto  da capital do México.
Humboldt, Ensaio político sobre a nova Espanha. Vol.2, p. 11 edição in 8º[3]

Foi refletindo sobre este enunciado surpreendente de um viajante célebre, sobre os fatos citados como prova e sobre conversações aprofundadas com o mesmo viajante, que eu concebi o projeto de concorrer para dar as mesmas vantagens ao Brasil com despesas infinitamente menores.
As artes do desenho, que produziram em poucos, no México, surpreendente melhoria em muitos ramos da indústria e das Belas Artes, e a propagação simultânea do desenho nas artes e ofícios que dele podem aproveitar, devem ter em todos os lugares o mesmo efeito; mas eu proporei não se esperar a sucessão de tempo necessária para que a influência de vossa principal escola chegue às oficinas do Artesão, e ofereço-me para organizar, com o ensino das Belas Artes, a propagação simultânea do desenho nas artes e ofícios que dele podem tirara proveito.
A Academia de los Nobles Artes do México, deve sua existência ao patriotismo de diversos particulares mexicanos e à proteção do Ministro Galvez [4]. Pensei que os habitantes do Brasil amariam tanto a sua pátria quanto os mexicanos, e sabia que no Rio de Janeiro existia um Ministro mais esclarecido que Galvez e que também inflamado pelo zelo ardente pela prosperidade de sua nação. Disso conclui que aconteceria no Rio de janeiro como ocorreu na capital do México, com poucas modificações; que o Rei viria pelo menos consolidar um estabelecimento no qual o patriotismo de seus súditos poderia dar a primeira existência. Sua Majestade fez melhor, deu o exemplo.
Mas quer seja a munificência real quer seja a generosidade dos moradores ricos que venha a receber os elementos por mim colocados no solo que preferi, indicarei a maneira pela qual creio que posso colocá-los do modo mais útil para o Brasil.



[1] - O original não possui título (Nota do tradutor )
[2] - No original está Comte de la Barque (N, t.)
[3] - O título do libro está em francês  (N.t.)
[4] - “Organisation del Academie de Mexico, Son Influence” no vol. 2, p. 11,12,13e 14  e vol. 4 nos lugares indicados


Não foram somente aspectos econômicos que me orientaram quanto a número e emprego dos artistas  que ofereço ao Rei. Tenho a intenção de não exceder o que é necessário para fundar uma escola, sem impor ao Governo a carga de um estabelecimento de luxo e de representação; assim, a Escola das Belas Artes Brasileiras dará inicialmente menos prazer do que o prepara; não brilhará tanto, quanto útil por sua influência.
Professores de uma dupla escola das artes do desenho bastarão para todo o ensino dessas ates, e mesmo de suas aplicações aos ofícios.
Mas é essencial que se determine bem o emprego de cada um, e não se deixe  ao patronato, desprovido de luzes, nem às pretensões pessoais dos artistas, a possibilidade de intervir ou enfraquecer a ordem do ensino pela invasão de qualquer Professor medíocre ou não clássico, pois a escola, desde o início, germes de fraqueza e de torpor que não tardariam a prejudicá-la.


Esta arte se divide em duas partes principais: o gênero histórico, ou grande gênero, o que se denomina simplesmente pintura de gênero, a qual abrange apaisagem, as cenas familiares e até os mínimos pormenores da natureza. Ainda que esta divisão possa parecer ideal, em algumas circunstâncias, e choque o amor próprio dos pintores ditos de gênero, possui grande fundo de realidade, que não deve se perder de vista na organização do ensino. É fora de dúvida que a pintura de gênero é útil agradável; penso ainda que em país como este, ao qual a natureza prodigalizou todas as riquezas, os Pintores de gênero terão uma mina inesgotável de assuntos de quadros, e que o gosto dos particulares sentirá e encorajará de preferência a pintura de gênero, em vez da  outra.
Trata-se, porém, do ensino e dos princípios elementares da arte de pintar em geral. Desse  ponto de vista, é necessário que todos os amos saiam do tronco que é o gênero histórico. Não houve nunca, nas grandes escolas da Itália e da França, lições públicas de pintura de gênero, e as Academias não reservaram senão pequeno numero de lugares honoríficos. O Instituto de França apenas concedeu dois, ocupados pelo sr. Vanspaendock[1], que suscitou grande progresso na arte de pintor de flores,  e pelo sr. Taunay, que adquiriu bela reputação, pintando cenas familiares e paisagens, quadros em que algumas vezes se aproxima do gênero histórico, pela concepção e sentimento. Não é o bastante para o ensino; cumpre ensinar o aluno pintor a desenhar e a pintar, inicialmente em grande, podendo descer aos pequenos assuntos, caso deseje. Então, poder-se-á ter esperança de vir a ocupar um lugar ao lado do Poussin, de Berhhem, de Waumermans[2] e de Vernet, o único pintor francês de gênero que é grande desenhista: também havia ele estudado o gênero histórico e começara mesmo por praticá-lo.
Para todos os gêneros, portanto, os estudos acadêmicos será os mesmos até o ponto de partida, que será logo indicado; os dois professores pintores, o escultor e o gravador farão desenhar, pintar ou modelar figuras acadêmicas, figuras segundo moldagens do antigo ou segundo modelo vivo. Sem isto teríeis rapidamente, sr. Conde, um formigueiro de artistas-abortos, saídos de vossa escola, e que seriam mais importunos que úteis.
 O inimitável Claude Lorrain não fez alunos.  Era incapaz de ensinar; pintava com instinto e o sentimento. Em nossos dias, Greuze fez grande número de quadros cheios de encanto e de sentimento, e se o gênero e de sentimento, e se o gênero pudesse confundir-se com a pintura histórica, serie Greuze que se operaria a fusão. Pois bem. Ela não pôde operar-se, e Greuze não deixou alunos e não poderia jamais ter sido admitido a lecionar numa escola de França, nem em qualquer escola bem organizada.
Partindo destas bases, eis o modo e os graus do ensino: o da pintura se dividiria em três graus[3].
1º) Elementos gerais do desenho, desde seus princípios elementares até a academias, e cópias segundo modelos desenhados pelos professores e assinados por eles.
Caso se usasse modelos gravados, eles deveriam ser adotados por deliberação conjunta dos professores. É precaução para o futuro, contra a preguiça e a fraqueza dos mestres.
2º) Desenho segundo o vulto, até a figura acadêmica da natureza. Os professores pintores, escultores e gravadores serão empregados cada um a seu turno, nestes dois graus do ensino. O escultor poderá começar fazendo modelar na escola, a partir do segundo grau.
3º) A figura acadêmica pintada, segundo modelo vivo no atelier do pintor de história. Os alunos destinados à paisagem fariam pelo menos um ano destes estudo, a fim de aprender a dar vida e correção às figuras que colocarem em seus quadros.
Os que pintarem plantas, flores, animais, poderão estudar noções de botânica. O reino vegetal do Brasil interessa demasiadamente às ciências naturais para que não o tornemos conhecido com fidelidade, mesmo na pintura. A descrição dos insetos do Surinã é preciosa, pois a arte, dirigida pela ciência, representou  esses pequenos animais, nas plantas de que se nutrem. Assim, tornou-se gora necessário pintar a história natural. Falo da pintura de flores e de animais, mesmo a partir da origem da escola, pois M. Debret está em condições de ensiná-lo; tenho sua permissão para assumir o compromisso em seu nome.



[1]  - Trata-se de Gerada Vanspaendock, nascido em Tilburgo, na Holanda, e falecido em Paris, em 1822, e comumente incluído entre os franceses. Antes de 1790 era membro da Academia Real de Pintura; em 1795 foi eleito para o Instituto, cujos membros, cujos membros eram em número menor que os da Academia. Foi professor  de Iconografia no “Jardin des Plantes”. Camille Vanspaendock, seu irmão e aluno, foi também pintor de flores. Cf. ,  a respeito dos dois, Ch. Gabet, Dicionaires des Artistes de l’École Française, au XIX, Siècle. Paris, Chez Madame Vergne, 1831, pp. 676/7 (N.t.),

[2] -Assim parece escrito no original. O nome certo é Wouwermans ou Wouwermann. Conhecemse vários artistas holandeses com esse nome de família, no século XVII, destacou-se o de prenome Philips, nascido em Harlem, 1619, e ali falecido em 1668; foi pintor de paisagens, batalhas, e d quadro da vida elegante de sua época. (N.t.)  https://en.wikipedia.org/wiki/Philips_Wouwerman
[3] - Na margem à esquerda, lê-se, escrito pelo autor: Modo e graus do ensino (N.do t)


Este ensino se compõe dos dois primeiros graus do desenho, sendo que em vez do 3º grau do estudo dos pintores, os alunos escultores modelarão no atelier do professor de escultura, segundo os seus conselhos, e, na escola, com modelo vivo.


Consistindo na ciência do desenho a base desta arte, os alunos, sem exceção, seguirão todos os curso da escola que tem por finalidade criar bons desenhos.
O trabalho da gravura só pode ser ensinado no atelier do mestre, mas os estudos de desenho, a serem feitos nos cursos de ensino público pelos alunos, serão submetidos à assembleia dos professores em épocas marcadas, e julgados nessa reunião.
O julgamento será consignado por escrito e dele se dará ciência ao Ministro sob cuja jurisdição se ache a escola; ocorrerá o mesmo em relação a todos os cursos.


O ensino completo desta arte, cuja utilidade se aplica a todos os graus da civilização, seria já por si um benefício para o Brasil, e posso felicitar-me por apresentar na pessoa de Mr. Grandjean um professor capaz de realizar semelhante tarefa, em sua vasta extensão, ao mesmo tempo em que poderá reunir os exemplos aos preceitos.


O curso de arquitetura poderá ser teórico e prático. A parte teórica se dividirá em três seções, a saber: história da arquitetura e seus princípios, estabelecidos segundo os monumentos antigos e modernos; construção e estereotomia. Esta última parte, assim como a perspectiva, útil também aos outros artistas, se conterão em um número limitado de lições.



O ensino teórico, porém, exigirá alunos já um pouco adiantados; em consequência, o professor começará por formar os primeiros alunos, e exprimir ideias pelo desenho, em imitar e tomar conhecimento das dimensões. Só colocará diante deles exemplos escolhidos entre os mais perfeitos modelos da antiguidade e entre os mais belos monumentos da arquitetura moderna.


Quando os alunos tiverem adquirido bastante conhecimento para passar à composição, haverá todos os meses um concurso de esboços e de projetos acabados. Estes concursos serão julgados pelos professores reunidos e dele será dado conhecimento ao Ministro competente. Todos os anos em época determinada, como o dia do aniversário do Rei ou de sua chagada ao Brasil, poder-se-ia fazer exposição pública de todos os trabalhos da escola, tanto de professores como dos alunos, e distribuir prêmios aos que houvessem demonstrado mais talento ou feito maiores progressos. Quando o tempo permitir a formação e alunos de nível bastante elevado para presumir-se que possam tornar-se grandes artistas, será necessário enviá-los por alguns anos à Itália.

Desejaria que um bom ensino musical completasse o Instituto, academia ou escola das artes, porém não há necessidade de meu zelo, nem das minhas fracas luzes para esta organização. É portanto, um simples voto que exprimo, e retorno às artes que em o desenho por base.

Creio não haver omitido nada de essencial no sistema de seu ensino, nem nas proporções convenentes. Cada arte tem o seu quadro, e as relações entre elas estão estabelecidas. As funções dos professores são determinadas e é preciso que o sejam, de maneira tão positiva, que tanto os mestres como os alunos sejam colocados dentro de uma organização não somente mais forte do que cada um deles mas também superior a todos o os motivos de relaxamento e de anarquia. A igualdade de nível e de salário entre professores é indispensável para a concórdia, sendo também conforme a justiça. Se alguns professores devem esforçar-se mais do que do que outros, afirmando-se de utilidade mais ampla, tais como Arquitetura e Pintura histórica, poderão encontrar compensação no exercício de sua arte.

Resta-me duas considerações que julgo de grande importância submeter à sabedoria de Vossa Excelência, antes da organização de uma escola de  belas artes: uma relativa aos professores, e a outra aos alunos.

Tomei das escolas da Europa – sobretudo a da França, que incontestavelmente é bastante superior a todas as outras escolas em que se ensinam belas artes – o que existe de melhor no sistema de ensino; mas quando se faz um estabelecimento inteiramente novo, haveria perigo na imitação completa daqueles que possuem uma longa existência, pois o tempo lhes traz abusos, que se enraízam como musgo nas velhas árvores e que lhes esgotam a seiva, com prejuízo da frutificação. Por exemplo, para não falar senão da escola francesa, como não se teve o cuidado de verificar que há certo grau de velhice em que não pode mais lecionar as belas artes com resultado, ocorreu, necessariamente, que pelo fato de cada professor falecer em sua função, a maioria se encontra sempre em estado de declínio ou mesmo de caducidade.

Embora haja em Paris remédios que não existem aqui, para neutralizar este mal – a saber: um grande número de artistas hábeis, exposições públicas e observação vitalizante das obras primas – posso assegurar que sofreríamos com esse inconveniente, tão grande que já nos ocupamos em fazê-lo desaparecer, quando as últimas desgraças da França detiverem todos os projetos de melhoria.

 Caso isto acontecesse aqui, o que poderia ocorrer mesmo antes que a escola houvesse alcançado grande força, eu recearia bastante os efeitos desse mal. Os sentidos são necessários para inspirar e bem dirigir os alunos das belas artes: a apatia e o gelo da velhice são incompatíveis com as artes da imaginação. É, pois, prudente cogitar da aposentadoria por invalidez, tão depressa esta apareça: poder-se-ia atribuir dois salários – um a título puramente acadêmico, ouro às funções de professor? Quando estas cessassem, o outro que seria.....[1] continuaria com o título honorífico. Restaria apenas encontrar um suplemento que se assegurasse ao professor aposentado o otium cum dignitate do sábio.

Não deve ser deixado livre ao professor o fazer-se substituir, por sua escolha, no caso de doença ou de ausência autorizada; seria uma porta aberta por onde a mediocridade e a intriga se insinuariam nos cargos de professor titular, e um meio de enfraquecer o ensino.

Não proporei criar, relativamente a este caso, como na França, adjuntos escolhidos pela congregação de professores, os quais só são pagos quando no exercício. Aqui, não se teria como formar esta segunda linha, mas professores podem ser obrigados a substitui-se entre si, nos casos previstos, deduzindo-se dos honorários do ausente o salário daquele lhe faz o serviço, se a ausência se prolongar por tempo demasiado longo.

Após a primeira organização, a admissão do professor deverá processar-se através de provas irrecusáveis, isto, é de obras de ordem clássica, que possam garantir ensino acadêmico rigoroso. O próprio concurso pode ser empregado em caso de necessidade, sendo os assuntos dados e julgados pela congregação.

 A observação relativa aos alunos é igualmente apoiada em enorme inconveniente da escola da França, inconveniente que tentei remediar em esforço inútil, junto com dois Ministros dispostos a secundar-me.

Consiste ele no fato de se admitirem à escola de Paris todos os alunos que se candidatem com fraco começo de desenho, sem exigir qualquer grau de educação primária, nenhuma instrução de qualquer ordem.

Como o ensino é inteiramente gratuito, a pobreza para ali envia seus filhos, em lugar de coloca-los em oficinas de artesões, onde teriam de para pela aprendizagem. Cedo a vaidade da criança ou da família o impede de retroceder; entretanto, o maior número dos que ele imitou e daqueles que por sua vez seguirão seu exemplo deveriam naturalmente dedicar-se a ofícios.

Imagine-se, sr. Conde, a quantidade de fermento grosseiro e a falta de liberalidade que, desta maneira, pode penetrar e que realmente penetra nas belas artes. É de desejar que esta má semente não se introduza no berço de nossa escola; que, pelo contrário, a profissão de artista fique, em geral, numa região média da sociedade: que o pintor e o escultor sintam prazer com a leitura dos poetas e dos historiadores e se inspirem neles; que o arquiteto seja capaz de erudição e de penetrar, até certo grau, nas ciências matemáticas.

Como não há ainda necessidade de grande número de artistas, talvez seja menos difícil tornar-nos exigentes com relação à qualidade dos alunos, e obriga-lo a adquirir instrução. Isto seria, pelo menos, bastante desejável no  próprio início.

Talvez criando simultaneamente uma Escola de Belas Artes, los nobles artes[2], e uma escola de desenho para as artes e ofícios, se possa preservar a primeira pela segunda, classificando e mantendo nesta, que não poderia chegar a ser demasiado frequentada, todos que não conviessem à outra.



[1] - No original parece escrito: viager (N.t.)
[2] - Em espanhol, no original (N.t.)



[1]  - À margem à esquerda deste parágrafo, escreveu Lebreton, em ocasião posterior, como a tinta o revela, “trabalhos anuais a dar aos Professores: motivos de utilidade desses trabalhos” (N.t.)


Embora a distribuição dos professores seja determinada pelo sistema de ensino e pelas observações que lhe acrescentei, não será útil representá-la de maneira precisa, e sopesar o mérito e a influência de cada um.
Sendo a ciência do desenho a base da arte, os que melhor e de modo mais geral ensinem a desenhar serão os mais úteis à escola, sobretudo em pintura, escultura, gravura e ofícios que se ligam ao luxo. A prática de pintar com cores, de modelar e  esculpir com argila ou com matérias duras, só se alcança posteriormente e deve ser considerada secundária, pois não é nada sem princípio básicos.  O exercício e o estudo refletido dos bons quadros e dons modelos de escultura, ajudados pelos conselhos de um mestre farão resto. Isto é, colocam jovem artista no ponto de seguir o seu talento e imitar a natureza segundo suas próprias sensações.
Os senhores Debret e Taunay, o escultor Pradier, como desenhista e o próprio Grandjean, considerado deste ponto de vista, abstração feita de seu saber e de seu talento como arquiteto, são, portanto, colunas da escola brasileira, sobre as quais se pode estabelecer vigoroso ensino do desenho. O talento do sr. Taunay, o mais velho, embora muito destacado, não pode ser tido como clássico, sob este ângulo, mas seus conselhos terão utilidade, sobretudo nos primeiros estudos de paisagem, e seu nome ilustrará a escola.
Há no Rio de Janeiro um pintor que estudou na Itália e que é capaz de ensinar; cumpre conservá-lo na escola, por justiça e por utilidade, se estiver em condições de ensinar desenho de academias; porque, não sendo necessários adjuntos nem suplentes, que formaram um ninho de mediocridade, seis professores não seriam demais para o serviço e para se substituírem se fosse preciso. Aliás, esse mestre já percebe salário, e isso não constituiria despesa inteiramente nova.
Cada um lecionará na escola alternando, cada mês, elementos e desenho e o estudo segundo os dois gêneros de modelo, com exceção do arquiteto, cujos cursos serão separados e mais contínuos.
Não tenho base suficiente para determinar, com precisão, os salários dos professores, pis ignoro em quanto s deve orçar aqui uma existência digna, que é necessário assegurar a todos; considerar como devendo fazer a abastança dos artistas, os trabalhos de pintura, de escultura e de gravura que os particulares possam encomendar, isso seria, no mínimo, restringi-la por longo prazo à mediocridade. Entretanto, para que o primeiro germe das artes s beneficie, em pais estrangeiro, é de todo necessário que o solo alimente com liberdade, sem o que perecerá  ou se transplantará espontaneamente.
Partindo desta primeira conveniência e entrosando-a com os aspectos  da utilidade para aescola e o Governo e com os princípio de ordem e de emulação, eis como eu eu organizaria a existência dos professores
Para o titulo acadêmico, um salário ad vitam de....
Para as funções de professor, um salário de.....
Para uma aposentadoria, um salário graduado de...
Além disso[1], seria dado, cada ano ou mesmo de dois em dois anos, aos pintores e ao escultor um quadro, um busto ou um baixo relevo a serem feitos para o Rei ou para a cidade. Seu preço e dimensões, bem como o assunto, seriam determinados. Tomar-se-iam estes  assuntos, em geral, à história nacional. O gravador teria do mesmo modo uma prancha a gravar, que constituiria também propriedade do Governo ou da cidade, e poderia ser vendida em benefício da escola.
O arquiteto faria um projeto de monumento ou de edifício de utilidade pública, para idênticos proprietários, e que no presente ou no futuro pudesse ser executado.
Por este meio bastante natural, cuja despesa não seria assustadora, a escola brasileira, desde o nascimento, iniciaria um Museu Nacional interessante, que se enriqueceria, cada ano, e logo se estenderia até a descrição pitoresca do País.
Tendo os professores trabalhos lucrativos assegurados, estariam defendidos, para o futuro e, circunstância que me parece muito importante, não se estiolariam na inércia.  Seriam, pelo contrário, forçados a estudar por si mesmos e a sustentar a sua reputação. Todos estes trabalhos se exporiam publicamente no aniversário natalício do Rei. O folheto explicativo da exposição poderia ser vendido em proveito da escola.
Relativamente a esta venda observei, sem procurar estabelecer paridade, que no caso da Academia Real das Belas Artes de Londres, é o produto d exposição anual que faz inteiramente sua valiosa renda, e ela não possui senão um meio século de existência. É com este capital acumulado no Banco, que são pagos o Presidente, os professores da Academia, os modelos, os prêmios, as viagens e a estada dos alunos enviados à Itália para ali se aperfeiçoarem.
Na véspera do dia em que as salas da mostra se abrem ao público, a academia oferece um grande banquete no próprio local em que se acham expostos os trabalhos do ano. Os Príncipes da família real, os Ministros, os lordes, enfim, desde o zelo ate a vaidade “tachável”, todos são convidados. Após os toast ao Rei e à propriedade da Academia Real, faz-se coleta cujo produto, sempre abundante, é depositado em conta de banco da academia.
No dia seguinte o público começa a pagar seu tributo, na porta, dando um shilling pelo folheto ou catálogo; todavia é necessário comprar outro, cada vez que a visita se renova. O produto desta venda é também colocado no Banco. Fez-me a Academia Real, a honra, certo ano, de convidar-me a ir de Paris ao seu banquete solene. Falo, assim, de visu.
Seria impossível, Senhor Conde, copiar em ponto pequeno, em benefício da nova escola das artes, esses hábeis calculistas ingleses?  Onde não se achasse zelo nem gosto, poder-se-ia encontrar a ostentação, que é de todos os países. E previsto que o exemplo seja dado por aqueles que gostamos de imitar, poderiam ser feitas úteis coletas para a escola. Confio esta ideia à sua sabedoria.
Mas, ousaria recomendar-lhe particularmente uma precaução, sem a qual se perderia um dos melhores efeitos dos trabalhos dos trabalhos que devem formar a coleção acadêmica. Trata-se de lhes consignar um lugar, uma destinação, logo após a exposição pública; sem isto, ficariam de algum modo coo o diamante talhado que voltássemos a colocar nas entranhas da mina. Mais frequente, pelo contrário, eles suscitarão por si mesmos o gosto, contribuindo  para fazê-lo nascer.
Caso ainda não existam locais, poder-se-ia aproveitar recintos provisórios ou mesmo colocar as obras da escola de belas artes com hóspedes de honra, em casas de ricos particulares e em corporações.



[1]  - À margem à esquerda deste parágrafo, escreveu Lebreton, em ocasião posterior, como a tinta o revela, “trabalhos anuais a dar aos Professores: motivos de utilidade desses trabalhos” (N.t.)


Com relação aos diversos graus do ensino do desenho [1], falei dos modelos em gesso, moldados do antigo; é necessário voltar aos mesmos e completar o ponto dos modelos em geral, tirados das belas obras de arte. Diz o barão de Humboldt que a coleção de gesso transportada para o México, em benefício da academia, custou ao Rei de Espanha, Carlos IV, perto de 200 mil francos.... e que não se encontra, em nenhuma parte da Alemanha, uma coleção de gesso copiada do antigo tão bela[2]. Este gênero de modelos é indispensável, mas não nos devemos assustar com a despesa feita pelo Rei da Espanha; inicialmente foi-lhe necessário mandar moldar na Itália; atualmente têm-se os mesmos gessos em Paris, sem pagar o custo dos moldes. Por outro lado, o  sr. Marquês de Marialva me disse que o Governo Português possuía alguns muito belos. Enfim, caso se acredite não dever privar-se Lisboa deles, achar-se-á em Paris por menos de vinte mil francos[3] tudo que se possa razoavelmente desejar em modelos, seja de figuras, seja baixos relevos, ornamentos, e esses modelos serviriam não somente para a escola debelas artes, mas, em parte, para a de artes e ofícios.
É igualmente necessário possuir modelos para a pintura, pois cada pintor estudou os grandes modelos de sua arte e se esforçou para deles apanhar alguma coisa; mas nenhum pintor que ensina pode substituir-se às obras dos grandes mestres. Pelo contrário, os professores, de alguma maneira, delas tem tanta necessidade quanto os alunos, para demonstrar os princípios e a fim de se sustentarem a si próprios; sem isto, nem o mais hábil impediria um estabelecimento de ensino de cair numa maneira qualquer que tornaria um vício geral de escola, caso os alunos só tivessem diante dos olhos os seus quadros.
Há mais. O mestre tem talvez tanta necessidade quanto os alunos de ligar-se, ele próprio, aos modelos que o inspiram, o retificam, o impedem de desviar-se; aliás, terminada a aprendizagem, resta ainda ao jovem pintor a tarefa de dar ao seu talento um caráter, uma fisionomia. E como o faria, se conhecesse somente os quadros do mestre e aqueles que o acaso lhe oferecesse aqui, em número demasiado pequeno, e que talvez ainda não fosse suficientemente clássicos?
É portanto necessário reunir quadros de diversas escolas, telas que possam servir às lições práticas, como demonstração, ao mesmo tempo em que guiem e mesmo inspirem professores.
Embora somente com grande despesa se possa formar uma coleção de quadros para um Soberano, não é difícil reunir para uma escola, com despesa moderada, o necessário e o útil em quadros[4], escolhendo bem e pondo de lado a pretensão e a mania de possuir coisas demasiados raras.



[1]  À margem esquerda deste parágrafo, há esta indicação do autor ” Modelos necessários para os alunos e para os mestres” (N.t.)
[2] - Vol. 2, p. 12.
[3] - Sublinhado pelo autor. (N.t.)
[4] - Como exemplo de variante, consigna-se que, no texto de julho, o capítulo assim termina, após a palavra quadros: isto é, possuir de todas as escolas e em todos os gêneros, excelentes motivos de estudo e de meditação. Basta apenas  não ter a pretensão de possuir coisas demasiado raras, e evitar fantasias onerosas” (N.t.)

Este segundo estabelecimento, embora de natureza diversa do primeiro, se amalgama dos princípios básicos do desenho até o estudo que diz baseado no vulto; serão os mesmos professores, a saber, o sr Debret e o professor português, já empregado que se encarregarão desta parte do ensino; coloco aí o sr. Debret com tendo grande[1] experiência do ensino elementar do desenho, bem como do de pintura, porque ele não somente dirigiu durante 15 anos o atelier dos alunos de David; foi durante 10 anos o único mestre de desenho do melhor e mais numeroso colégio de Paris, o colégio de Ste. Barbie.
Assim, os mínimos elementos lhe são familiares e não o atemorizam; aliás, é inútil que na escola dos ofícios se aprenda a desenhar flores e animais, e Debret concorda em encarregar-se desse ensino.
Após os primeiros passos do estudo da figura, vem o desenho de ornatos, de aplicação tão variada e tão útil em todos os ofícios em que o gosto pode ornamentar e embelezar, seja pela escolha das formas, seja nos acessórios. Aqui a escola passa quase inteiramente para a influência do professor de arquitetura; porque os móveis, vasos, objetos de ourivesaria e bijuteria, marcenaria, etc., são de sua competência ao mesmo tempo em que ele ensinará ao carpinteiro e ao fabricante de carroças a traça, com regras de precisão e exatidão que devem guiar todos os artesões.
Proponho, assim, que se coloque o sr. Grandjean à frente dessa escola. V. Exc., verá na bela obra que ele publicou sobre a arquitetura toscana, em sua seleção de túmulos de Itália e sobretudo nos seus de álbum, com quanto gosto, elegância e facilidade ele desenha o ornato, e sabe também gravá-lo.
Conviria juntar-lhe seus dois alunos, pois eles seriam muito úteis em diversas partes de pormenores, principalmente para os ofícios de pedreiro, marceneiro e serralheiro. Não seriam professores titulares, mas ajudantes quase indispensáveis, que permaneceriam ao lado dos alunos, o que seria impossível exigir do sr. Grandjean, que frequentemente será chamado alhures, pelas suas ocupações. Estes alunos lhe seguirão a orientação, e por isto se lhes atribuiria um salário módico[2].
Um pequeno curso de geometria prática seria bastante útil  essa escola. Poder-se-ia começa-lo pelo ensino da aritmética da qual os artesões tem diariamente necessidade. Se a  academia do México foi estabelecida em escala maior[3], do que aquela que terá a do Brasil, afirmo sem hesitação que a segunda escola, proposta por mim, ligada como imagino à nova academia e ajudada pelos socorros práticos que exporei mais abaixo, fará caminhar a indústria nacional, bem mais rapidamente do que a do México. V. Exc. O perceberá daqui a pouco.
É verdade que, desde 1803, Humboldt encontrou a ourivesaria não só na capital, mas até nas pequenas cidades do México, em estado de perfeição e de atividade surpreendentes; grande número de operários brancos, mestiços e índios enchiam os ateliers, em que se fabricavam serviços de baixela de prata “no valor de 150 a 200 mil francos e que pela elegância e acabamento podem rivalizar com tudo que se faz de mais belo nesse gênero nas partes mais civilizadas da Europa[4]
Certamente, a repartição dos benefícios da mão de obra, consideráveis nesse gênero e indústria, é vantagem digna de inveja, tanto mais quanto, segundo estimação do mesmo viajante, a fabricação empregou, em média - de 1798 a 1802 -   985 marcos de ouro e 26.803 marcos de prata[5].
É a influência da academia de belas artes, que se atribuem, com justiça, todos esses graus de perfeição. Creio, Senhor Conde, que marchamos para o mesmo objetivo, por três movimentos no lugar de um só. E esperando que o gosto da magnificência chegue até aqui, os ofícios se ocuparão das modestas necessidades do estado social.
Estes três movimentos combinados seriam a grande escol de belas artes e ofícios, e os ateliers práticos, a respeito dos quais devo explicar-me.
Mas[6] antes de expor esta parte de meu plano, com os seus meios de execução, devo, para não inverter a ordem das ideias, formular ainda algumas observações sobre a influência de uma escola apropriada às artes e ofícios.
Citarei um fato digno de atenção. Em Paris é reconhecido, por todos os homens capazes de observar as causas e seus efeitos, que é à escola gratuita de desenho, estabelecida por volta de 1763, que se devem a feliz revolução do gosto, e o grande aperfeiçoamento experimentado pela indústria francesa em todos os ofícios relacionados ao luxo. A Academia de Belas Artes não influiu neles, pois só admitia e só queria formar artistas.
Um de seus membros, pintor bastante medíocre de flores e animais (Bachelier), mas homem de espírito e muito ativo, imaginou a escola tal como ainda existe em Paris (antiga rua des Cordeliers, hoje l’École de Medecin). Fez melhor; persuadido de que os melhores projetos podem cochilar durante muito tempo e esvair-se antes que os governos se ocupem ativamente de realiza-los, começou esse a sua custa, alugou o colégio Autun para situá-lo e finalmente nele investiu os 64.000 francos que ganhara e que constituíam toda a sua fortuna.
A velha academia, então bem má, se escandalizou porque um de seus membros se abaixava até os operários, prostituindo assim a nobre arte do desenho. Embora só se tratasse de um pintor de gênero, jamais lhe perdoaria a ofensa. Ele viveu bastante e sempre considerado, mas o tempo não apagou esse delito perante os antigos acadêmicos.
Entretanto, o estabelecimento venceu e, três anos após a fundação, adquiria existência legal por meio de carta patente registrada no Parlamento. Mas o governo não lhe deu dotação de maneira alguma; somente o Rei concedeu três mil francos, no primeiro ano. Foi o artista Bachelier quem criou a renda, como criara o projeto, e é neste ponto que o exemplo se torna interessante. Como fui um dos subscritores, desde 1788, e depois, por mais de 15 anos, lhe presidi a administração, pode V. Exc. , contar com a exatidão do que lhe exponho.
Em 1789, tinha essa escola 44.000 francos de renda anual, que o artista lhe havia conseguido a começar do primeiro escudo. Cada dia, 1.500 alunos, crianças, adultos e mesmo homens amadurecidos, recebiam ensinamento, renovando-se no auditório e as lições durante seis horas. Ali eu vi Granadeiros do Regimento das.....[7] francesas dar exemplo de assiduidade e decência. Quatro professores e dois sub- inspetores, encarregados somente de manter a ordem, faziam todo o serviço sob a direção do fundador.
Mas V. Exc.ª deve estar impaciente para por saber como se constituiu a renda: vou satisfazê-lo. Bachelier, que sabia viver em sociedade e tinha maneiras insinuantes, mesmo gastando os seus 64.000 francos, fazia sentir a utilidade pública de sua escola, o que não lhe era difícil; e quando alguém  se mostrava interessado pela mesma, ele tirava do bolso o livro de subscrições, exibia nomes importantes, ressalvando a vantagem que cada subscritor tinha de enviar à escola um aluno à sua escolha, ao qual forneciam lápis, papel, modelos e ensino durante 5 anos, tudo isto pela soma de 30 francos, dada anualmente pelo subscritor.
Avalie, meu Senhor, como era então fácil, na França – achar subscritores para essa grande obra; também a corte, o alto clero, as grandes corporações, toda a gente qualificada  pelo nascimento, posto, mérito ou opulência, foram seduzidos ou, pelo menos, inscritos. Bachelier procurou os “Jurandes”[8] fazendo-lhes ver quanto o estabelecimento era especialmente vantajoso para corporações de ofício que eles presidiam. Ofereceu-lhes a prerrogativa de enviar à escola 30 alunos, e obteve que lhe seriam concedidos 50 soldos, tirados da recepção de cada novo companheiro patenteado; seis francos de cada mestre, o que dava para e escola um renda anual de 12.000  francos, em média.
A revolução acabou com subscrições e subscritores, esgotando todas as fontes de renda. A Assembleia Constituinte, por um honroso derreto, concedeu a dotação provisória de 16.500 francos, que ficou sendo o recurso definitivo desse estabelecimento, e com o qual se sustenta, sem que as agitações públicas hajam interrompido o ensino por uma única semana. Fiz mesmo contratar professor de matemática e de medidas, que a escola não tivera em seu estado de opulência.
Mas estes 1.500 alunos aprendizes, instruídos anualmente n escola, se tornaram operários mais hábeis, em todos os gêneros. Pra limitar-me a dois, que são mais conhecidos no estrangeiro, citarei Odiot e Meunier, os melhores ourives de Paris, hoje muito ricos; entraram  como alunos pobres na escola, sem terem ainda escolhido ofício determinado; foi o desenvolvimento de suas aptidões, no estabelecimento, que os dirigiu para a ourivesaria.
Os Intendentes e os Bispos abriram várias dessas escolas nas províncias a exemplo de Paris, com regulamento feito por Bachelier; assim, imprimiu-se à indústria francesa um movimento de melhora que se fez sentir em toda parte, e que nada custou ao tesouro público.
Volto ao terceiro meio enunciado atrás, a indústria prática. Para aumentar e aperfeiçoar aqui mais prontamente a indústria, para torná-la nacional, desejaria que se fizesse vir da Europa certo número de operários organizados em oficinas, que possam subsistir por si mesmos e trabalhar de chegada[9]. Alguns artesões isolados, espalhados entre operários locais, ou estabelecidos isoladamente em um país cuja língua desconhecem, produzirão poucas vantagens e sua influência será demasiado fraca, se não for nula. Acho que o Brasil poderia entrar bem mais frutuosamente na partilha das perdas que experimenta a indústria francesa, e com as quais se beneficiam o norte da Alemanha, a Bélgica holandesa e os Estados Unidos. Por uma única operação pode-se tirar de Paris pelo menos cem operários escolhidos segundo emprego que deles fosse proposto fazer, e que se repartiriam por oficinas organizadas nos pontos mais úteis.
Haveria um mestre completo para cada ofício. Os alunos da segunda escola de artes entrariam como aprendizes nessas oficinas, e em poucos anos tais alunos se tornariam mestres, fundando e aperfeiçoando a indústria nacional.
Não desejaria que o governo se encarregasse dessas oficinas, nem de nenhuma outra despesa a não ser da viagem dos indivíduos que as integrassem; seria dispender demasiado e triná-los menos ativos. Basta que alguns negociantes lhes assegurem trabalho e existência, fornecendo-lhes locais para as oficinas e as matérias primas; façam tais negociantes com que se vendam os produtos de trabalho e deixem parte do lucro aos chefes das oficinas e o objetivo será alcançado. Quando expirasse o contrato, que eu fixaria em 5 anos, as oficinas estariam estabelecidas, pois mesmo supondo – o que certamente não seria geral – que os mestres operários quisessem trabalhar por conta própria a nação teria adquirido que toda a indústria, e o estabelecimento isolado não deixaria de ser uma vantagem. Não é um sonho, sr, Conde, pois um dos negociantes locais, a quem quero bem e estimo, já começou a realizar parte este plano no Rio de Janeiro, com alguns operários franceses vindos comigo. Mas para alcançar o problema  em extensão conveniente e não deixar que se escape uma circunstância que possa suscitar modificações; para não ser decepcionado pelo tempo que tão grandes distâncias exigem, é necessário que examinemos alguns meios de execução e nos apressemos a aplica-los.
A escola de artes e ofícios custará muito pouco ao Governo, segundo os elementos que propus; será no máximo um aumento a fazer-se nos salários dos Srs. Debret e Grandjean e um salário moderado para os dois alunos do professor de arquitetura.
Os operários, uma vez desembarcados, nada custariam,. Para a viagem haveria, penso eu, um meio insensível ao Tesouro Real, de fazer esta operação, cujos resultados seriam tão úteis. Creio fora de dúvida que seria menos dispendioso transportar esta colônia em um navio português ou brasileiro, do que pagar  tantas passagens, e, a mais, o frete dos móveis e utensílios a um armador. Que se encarregue ainda um negociante desta comissão, que lhe forneça o navio e que vá até a França, com um carregamento de produtos de que o Rei possa dispor. O produto do carregamento pagará as despesas da expedição, ao mesmo tempo que poderia bastar para a aquisição de todos os gêneros de modelos necessários à duas escolas de artes.
Trata-se de ocasião especial, que provavelmente, não se apresentará mais, ou, pelo menos, ocorrerá muito raramente. Nunca, talvez, semelhante circunstância se oferecerá de novo para se adquirem tantos recursos industriais de uma única vez e para se poderem escolher todos os elementos que desejáveis.
Seria de recear obstáculos de parte do Governo francês? Infelizmente, para a desgraça da França, e mais do que certo que os talentos e  as indústrias escapam quando surgem e procuram, há algum tempo, asilos de paz, fora de seu seio, para o qual receiam novas feridas. Mas daqui não é possível escolher os indivíduos convenientes; eles mesmos poderão tirar passaportes para a Inglaterra ou a Holanda e embarcar para o Brasil, sem que algum agente acreditado se ocupe disso, em Paris[10].
Eis, senhor Conde, minha ideia para organizar um sistema completo de instruções das artes, em sua dupla acepção. Desejaria  que o seu país, com direito a esperar grandes destinos, não ficasse em atraso, quando só se precisa de calma, que pode nascer rapidamente, para que a América Espanhola, já populosa e possuidora de elementos preciosos em luzes, em estabelecimento e em indústrias, inicie um belo surto.
Sei que V. Exc.ª vê melhor e mais longe que eu, no futuro das nações; que sua alma cívica ama a pátria e seu Príncipe; e que recomendar-lhe seus interesses seria desconhecê-lo. Não é portanto a V. Exc.ª que tenho necessidade de persuadir; mas faço votos sinceros para que suas luzes e seus sentimentos se propagam, antes que vejamos o fim de uma dessas épocas notáveis e raras e as desgraças dos ouros. Não importa o que aconteça a estas ideias e a meu voto; ficarei sempre honrado de tê-los tido, porque tiveram por princípio o amor ao bem, o desejo de cooperar e minha predileção pelo Brasil. Felicitar-me-ei sobretudo de haver homenageado V. Exc.ª, a quem já havia aprendido a estimar, na Europa, mas a quem se ama e se respeita quando se tem a felicidade de chegar perto de sua pessoa.
 CAVALHEIRO JOACHIM LE BRETON.



[1] - Escrito à esquerda , na margem: “Escola de desenho para artes e ofício” (N.t.)
[2] - A nota do autor, que reproduzimos a seguir, foi  colocada  na margem esquerda, posteriormente, como o indicam o tio de letra e a tinta: ”Aliás, se esses dois alunos tivessem sido  preparados para esta função, não seriam  mais adequados à mesma.: um, filho de mestre pedreiro de Pris, foi colocado pelo pai em todas as aprendizagem da construção, começando pelas primeiras preparações de gesso, passando para o trabalho de pedreiro e talha das pedras, e acabando nas oficinas de marcenaria, serralheria e ebanista
O outro dirigiu operários de todos os gêneros, empregados nos grandes e numerosos trabalhos executados pelo sr. Grandjean para a corte Cassel.
Não se pode, portanto, ter melhores intermediários entre arquitetura e os ofícios que com ela se relacionam..
[3]  - A renda anual da Academia de Belas Artes do México é de 123.000 francos, dos quais o Rei dá 60.000, o Corpo de Mineiros cerca de 25.00; os negociantes da cidade 15.000. Um palacete espaçoso foi-lhe concedido para o ensino e para as coleções.
[4] - Vol. 4, p. 311
[5] - Ibid. ; para os outros ofícios, que ligam ao luxo, p. 323.
[6] - Escrito à esquerda na margem: “Escola para artes e ofícios estabelecida em Paris; sua organização e seus sucessos” (N.t.)
[7] - Palavra em parte desaparecida, por se achar roído o papel nesse ponto (N.t.)
[8] - Jurados que velavam pela execução dos regulamentos das corporações extintas durante a Revolução Francesa, e pela preservação dos interesses comuns (n.t.)
[9] - A margem esquerda, está escrito: “ instrução prática nas oficinas”. (N.t.)
[10] - Lebreton fez importante acréscimo lateral, para ser colocado no texto “Não preciso observar a V. Excia. Que o resultado do meu plano, executado em todas as suas partes, é uma resta  que me parece peremptória às objeções dos que pretendem que o Brasil não está maduro para as belas artes; pois enquanto estas criarão raízes, as artes e ofícios e a indústria darão seus ramos e frutos por influência das próprias belas artes”.  (nota do tradutor)
Fig. 01 – Antônio de Araújo e Azevedo (1758-1817) - Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos do Reino Unido Portugal Algarves e Brasil o 1º Conde da Barca – dedicou-se pessoalmente aos estudos, às pesquisas e ao pensamento erudito. Por meio do seu cargo tentou reverter os efeitos devastadores de três séculos coloniais e a proibição da indústria pelo Alvará de 1785 da Rainha Dona Maria. Para tanto manteve oportunos contatos sociais e culturais nos países europeus em vias de industrialização. Mas todo em vão após o seu desaparecimento físico.  . .


ALEXANDER von HUMBOLDT – no México

BACHELIER, Jean Baptiste (1724-1806)
BUENOS AIRES:  uma ESCOLA de ARTES ABANDONADA pela UNIVERSIDADE

COLLÈGE SAINTE BARBIE - PARIS

 CONDE da BARCA, JOAQUIM LEBRETON e os IRMÃOS von HUMBOLDT.

DECRETO REAL do dia 12 de AGOSTO de 1816 cria a ESCOLA REAL de BELAS ARTES e OFÍCIOS

DOCUMENTOS da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA no BRASIL

GRANDJEAN MONTIGNY: um projeto de estudo

LE BRETON, Joaquim (1760- 1819)
MÁRIO BARATA  (*20.09.1921 +14.09.2007)
Manuel DIAS de OLIVEIRA (1764-1837)

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