segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

ESTUDOS de ARTE 004

A FORTUNA do ARTISTA PLÁSTICO SUL-RIO-GRANDENSE.
¿por que  a memória dos artistas plásticos sul-rio-grandenses não se expande e não é cultivada além fronteiras do Rio Grande do Sul?.
Fig. 01 – O ato da criação esteve ligado intimamente associado, em todos os tempos e lugares, com a ação divina. No sentido inverso a criatura humana o ato de criação artística  invade as concepções do poder divino. Dali só um passo para mitificar o gênio artístico e transformá-lo num objeto de culto e veneração. Era o que o Regime Colonial tentava impedir ao probir o retrato ondividual do súdito..
A fortuna do artista é a sua fama decorrente da recepção pública e cultivo de sua obra. Para os padrões contemporâneos quanto mais amplos e densos os círculos desta recepção maior é a sua fama e fortuna crítica desta artista. Examina-se aqui a extensão e a densidade e permanência da memória da obra e do nome de alguns artistas visuais sul-rio-grandenses. Juntam-se a este campo alguns nomes de críticos,  cronistas de arte e agentes públicos expressivos e coerentes com um projeto civilizatório do Estado.  
Antônio Cândido de Menezes -  Retrato de Dom Pedro II, acervo do Museu Júlio de Castilhos
Fig. 02 – A origem divina do monarca, da sua casa e chefia da igreja -  para a qual realizava a nomeação dos bispos - conferia condições para os retratos reais e dos próprios bispos. O tabu relativo ao retrato individual do súdito, do Regime Colonial. Este tabu preservava este espaço simbólico com o objetivo de mitificar os seus representantes e torná-los sagrados na Terra.
O artista brasileiro não tinha nome, a memória e retrato do ao logo dos 300 anos do regime colonial. No Brasil colonial o  artista esteve privado, antes do estatuto contemporâneo, de posição social, econômica ou política.  Muito menos gozava de fortuna crítica e de memória de sua obra. O artista foi mantido na condição servil, sem nome, retrato individual e nem fortuna ao longo de todo o regime colonial. O governo do estado lusitano, das províncias brasileiras, a Igreja ou sociedade civil mantinha esta condição próxima da escravidão. Sobre a autenticidade do suposto retrato de Aleijadinho pesam muitas dúvidas apesar da vida deste artista ter adentrado o século XIX[1].



[1]      ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA um bicentenário sem povo   http://profciriosimon.blogspot.com.br/2014/11/100-isto-e-arte.html


Dom Sebastião DIAS LARANJERA 1820-1888   por Henrique CALGAN –Reserva técnica da Cúria Metropolitana de Porto Alegre
Fig. 03 – A permissão dos  retratos  dos bispos marcava a posição de um agente legitimador e mediador entre  divindade  e o monarca Os bispos como mediadores desta representação transformava o tabu em totem a ser venerado no espaço simbólico da igreja ao redor da qual gravitava a construção artificial da civilização terrestre no preparo da celeste.

Num trabalho longo e sofrido o nome e a fortuna do artista plástico começaram a ter seu lugar próprio.  A gradativa construção e importação da lógica da era industrial facilitaram e impuseram este lugar e ação autônoma e separada do artista plástico brasileiro.
No outro extremo, neste período da era das máquinas, os nomes e fortuna foram sendo associados com os bens que se tornavam produtos políticos, comerciais e simbólicos. O nome e a fortuna do artista - consagrado pelo marketing - reforçavam de fato  ao governo do seu estado nacional ou regional, para a Igreja e para o mercado de arte. Mercado que auferia notoriedade na medida em que o nome e a fortuna do artista conferiam visibilidade às suas obras transformadas em produtos comerciais, simbólicos e políticos. O nome, a obra  e a fortuna do artista legitimavam o projeto civilizatório compensador da violência do Estado nacional ou regional. Para as correntes ideológicas, para os partidos e para seitas religiosas, o nome, a obra  e a fortuna do artista eram e associados à coerção ideológica, partidária e moral. Da mesma forma  o nome, a obra  e a fortuna do artista encobriam a espoliação praticada pelo Capital especulativo.
Na via contrária, e no sentido da busca do coletivo, os fundadores do Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul (ILBA-RS) escreviam, em 1908.
“O que constitui a pessoa jurídica em associação do tipo da nossa, não é propriamente o conjunto dos sócios; é antes o seu patrimônio, o qual no caso ocorrente, será formado pelas doações e liberalidades das pessoas que verdadeiramente se interessem pelo desenvolvimento das artes entre nós”.    (Livro da Atas nº 1 do ILBA-RS em 01.05.1908. f. 3v).
        Esta posição pode ser vista, numa leitura dialética, como memória colonial. No outro extremo as condições da era pós-industrial que busca do anonimato.  A vantagem da contemporaneidade é que cabe ao artista criador mais esta tarefa de estar atento na sua busca do ponto de equilíbrio homeostático nestas forças contrárias. Ponto de equilíbrio que depende do artista criador na afirmação e na expressão da  autonomia e sempre mutável entre o seu EU e do OUTRO. Sob  pena de congelar, arruinar e matar esta pulsação viva entre extremos jamais pode formar um NÒS definitivo e eclético.
Manuel José Gomes SEPÚLVEDA ou  Dom Jose Marcelino  Figueiredo (1735-1814)-
Fig. 04 – O  retrato tardio do português MANUEL JORGE GOMES de SEPÚLVEDA (*16.04.1735 +28.04.1814) que foi duas vezes governador do Rio Grande do Sul e o fundador de Porto Alegre. Ao retornar para Portugal sustentou a Guerra contra as invasões francesas de Napoleão I   A falta de  novação da memória deste herói levou ao  esquecimento do seu nome e obra[1]

Na medida em que se impõe a lógica do período pós-industrial os argumentos dos produtos das máquinas perdem sentido e a sua força inicial. No século XXI acumularam-se evidentes sinais de que o artista buscava um caminho fora da lógica do sistema das máquinas. O atual artista visual sabe perfeitamente, na medida em que ele  penetra no espaço erudito,  que a “IMAGEM está no LUGAR de ALGO que NÃO EXISTE MAIS.
Ao longo do século XXI acumulam-se novamente sinais do  retorno do artista plástico ao inconsciente coletivo. Este artista plástico percebe o preço, o desgaste e as incompreensões de sua verdade, natureza e sentido de sua obra. Sinais de incompreensão provenientes dos governos do Estado nacional ou regional, da Igreja ou do Capital especulativo. O artista plástico do século XXI refugia-se no inconsciente coletivo vigente. Para produzir e socializar a sua verdade, neste coletivo, o artista plástico usa estratégias cada vez menos dependentes de  interferências externas. Os nomes, a fama e a memória tornaram-se virtuais e se dissolvem no ar sem o túmulo do artista cujos restos mortais são cremados. A sua memória torna-se virtual e acessível apenas aos seus observadores que estão alfabetizados, equipados e manejam adequadamente este mundo digital. Evidente que o artista plástico do século XXI paga o preço pela sua escolha.



[1]       PORTO ALEGRE: esqueceu do seu pai.   http://profciriosimon.blogspot.com.br/2014/05/086-isto-e-arte.html

Fig. 05 – O  retrato do jornalista  Hipólito José da Costa (1774-1823)  realizado na cultura britânica e influenciado pelos albores do Romantismo cuja ênfase no EU e no mundo da cidadania que emergia e expressa nas revoluções inglesa  norte-americana (1776)  e francesa (1789) O retrato do fundador e mentor do “Correio Braziliense” (1808-1822) é um pontos do diretriz de u cidadão construir as condicionantes dos regimes constitucionais ao quais os mandatários dos Estados, empresas e instituições estavam sujeitos.

A presente postagem busca no Rio Grande do Sul a institucionalização e reprodução do nome a fortuna dos artistas que tiveram a sua produção no contexto, cultura da era industrial. Os  nomes de Manuel Araújo Porto-Alegre e de Iberê Camargo balizam, na presente postagem, os extremos cronológicos, da fortuna no quadro nacional brasileiro de alguns artistas plásticos sul-rio-grandenses. Estas duas personagens balizam a busca da respostar à indagação relativa se este cultivo. ¿A memória dos artistas plásticos sul-rio-grandenses deve à iniciativa nacional ou foi competência da província ou estado?.
Manuel ARAÚJO Porto-alegre 1806-1879 auto-retrato 1826 Muaseu Júlio de Castilhos
Fig. 06 – O  autorretrato do jovem Manuel Araújo Porto-alegre, aos 20 anos, é um índice da busca de liberdade e o potencial da ênfase no EU e no mundo da cidadania que o final do Regime Colonial e a proclamação oficial da soberania brasileira prometia  ao cidadão comum e pobre O retrato do ano de 1826 é índice das expectativas e promessas e o que este jovem de Rio Pardo irá galgar uma a uma até atingir as esferas mais elevadas do Regime Imperial. Neste caminho teve de derrubar muitos tabus e sofrer violentas reações e retaliações que permaneciam atuantes e vivas do Regime Colonial

As artes plásticas no Rio Grande do Sul  diferem do resto no Brasil pela fato se desenvolveram e expressarem  uma reiterada busca de um regime mais próximo do republicano do que a forte colonização e o êxito inconteste do regime imperial. Inclusive existem teóricos e historiadores que percebem a circulação de alguns princípios republicanos nas sete Missões jesuíticas que cobriram metade do atual território sul-rio-grandense.
Eduardo de SÁ (1866-1940) - BUSTO de Manuel ARAUJO PORTO-ALEGRE - na Pra. Alfândega POA-RS
Fig. 07 – O  busto de  Manuel Araújo Porto-alegre é um índice visual da fortuna crítica e um  reconhecimento público  que marca a sintonia da população e autoridades em prestigiar um cidadão que através das suas buscas e o cultivo da  liberdade potencial positivo que as artes propiciam O menino pobre de  Rio Pardo irá galgou e  atingir as esferas mais elevadas do Regime Imperial. Neste caminho teve de derrubar muitos tabus e sofrer violentas reações e retaliações que permaneciam atuantes e vivas do Regime Colonial

Porém as artes plásticas sul-rio-grandense estão muito distantes de constituírem - pelas suas próprias forças, energias ou de seus agentes - um projeto civilizatório compensador da violência do Estado, da coerção moral da Igreja e da espoliação praticado pelo Capital. De um lado é possível considerar uma virtude esta fixação num único projeto civilizatório linear e autossustentado. Coerente com o regime republicano qualquer projeto civilizatório sul-rio-grandense possui o seu forte concorrente e que não lhe concede celebrar qualquer triunfo definitivo. Concorrentes que sempre se enfrentaram como iguais na cena política, esportiva ou empresarial. Virtude que permite que artes plásticas praticas no extremo sul do Brasil migrar da era colonial, imperial, republicana ou pós-industrial mantendo a natureza questionadora a parir de suas forças e energias internas que as motivam.
Não faltam instituições, cabides burocráticos, nem verbas e muito menos artistas plásticos qualificados, motivos e obras para constarem como objetivos desta obra. Faltam projetos qualificados e coerentes com este objetivo.
Esta postagem deixa de lado qualquer outro juízo de valor, intriga, classificação meritória ou interesses a não ser aquele de percorrer uma lista de artistas sul-rio-grandense cuja pessoa ou obra  já se encontram na memoria. Nesta lista buscam índices de sua interação, ou não, destes artistas sul-rio-grandenses com o cenário artístico brasileiro, como um todo.
Foto gentileza de Ivan WINCK MACHADO - RIO PARDO – RS
Fig. 08 – O retrato em relevo  de  Manuel Araújo Porto-alegre no seu túmulo em Rio  Pardo - erguido em 1939 pelo escultor espanhol  André Arjonas Guillén (1885-1970) ao longo do Estado Novo - constitui um índice visual da busca de regime em destacar personagens nacionais que tiveram êxitos oficiais  Para este Estado Novo o homenageado que partiu com menino pobre de  Rio Pardo é um índice do “self-made-man” que mercê todos os louvores, prêmios e destaques. O atual desconhecimento deste túmulo, as razões de sua construção e manutenção dizem do frágil inconsciente coletivo reinante no século XXI. Ignorância do dia a dia indica a permanência e  viva atuação do Regime Colonial e que não é corrigido por  simples eventos, prêmios e mitificação de indivíduos singulares

          Ao longo do regime imperial brasileiro são raros os nomes singulares de artistas plásticos do Rio Grade do Sul com direito certa fama de projeções nacional. O destaque ficou com Manuel Araújo Porto-alegre (1809 -1879) o Barão de Santo Ângelo. O seu nome sua obra múltipla e o sei pensamento possuem apreciadores, estudiosos no Brasil inteiro mesmo no século XXI. Inclusive é nome de rua na antiga capital federal. Ele foi mestre e orientador de Victor Meirelles (1932-1903) e Pedro Américo de Figueiredo Mello (1943-1905). Com estes nomes Manuel Araújo Porto-alegre reparte destaque e fama em todo o território nacional. Antes de Manuel Araújo o jornalista Hipólito José Costa (1774-1823) não apresenta grandes conexões e perceptíveis entre a Província o Reino e o Brasil ainda mergulhado no Regime Colonial.  Hipólito nascido na Colônia do Sacramento e com formação no Rio Grande do Sul poucos se dão conta deste vínculo. Na trilha do Barão de Santo Ângelo o também menino pobre Antônio Cândido Menezes (1826-1908) seguiu para a capital do Império Brasileiro onde teve educação primorosa e vários reconhecimentos e prêmios na esfera oficial das artes plásticas. O seu retorno para a província foi temporão. A chama de sua glória e fama extinguia-se num ambiente sem grandes ambições, projetos e estímulos oficiais ou particulares como também foi efêmera a sua memória, no plano nacional. Ainda mais problemática é a atualização e a permanência de memória do pintor Afonso Silva (1866-1945) apesar dos ricos detalhes da obra de Damasceno[1]



[1]  Damasceno – 1971 – pp 292-296

Guilherme LITRAN - Bento GONÇALVES da SILVA - Museu Júlio de Castilhos
Fig. 09 – O retrato de Bento Gonçalves da Silva o personagem central da Revolução Farroupilha e o seu presidente  enfrentou o Regime Imperial em nome do ideal da autodeterminação e liberdade dos povos.  A antiga província imperial entrava na busca de sua identidade própria e precisava de agentes, símbolos que demonstrasse como indivíduos singulares seriam competentes para criar, manter e reproduzir valores selecionados e construídos artificialmente num todo coerente e fecundo para se reproduzir por tempo indeterminado. Depois de afirmarem e sustentarem por uma década este ideal estes mesmos líderes chegaram à com conclusão que a união com o Brasil não iria prejudicar este ideal. De fato esta coerência nã foi abandonada e cuja manutenção enriquece ao Estado Nacional

       No Rio Grande do Sul a obra do marinista italiano Eduardo de Martino (1838 -1912)[1] encontrou alguns ecos temporários mas sem que ele tinha conseguido reforçar e conferir laços permanentes entre a arte local, nacional e internacional.
          No sentido da via internacional em direção ao Rio Grande do Sul convergiram nomes como os alemães como o desenhista Rudolf Herrmann Wendroth e o construtor e arquiteto Mestre João Johann Grünewald (1832-1910)[2],. Estes acabaram encapsulados na memória sul-rio-grande sem projeções brasileiras apesar da ação, escritos e orientações do jornalista e político Carlos Von Kozeritz (1830-1890) e do professor Apolinário Porto Alegre (1884-1904) e de sua iniciativa do Parthenon literário. O mesmo aconteceu com o construtor, arquiteto e toreuta luso José Couto e Silva (? - 1883)[3] cujas obras acabaram sendo inteiramente descaracterizadas numa ruinosa pseudo restauração realizada nas igrejas da Conceição e das Dores de Porto Alegre no século XXI. Couto e Silva privado de seu nome, retrato,  posição social, econômica ou política, da  fortuna crítica e a memória da sua obra retornou à condição do artista brasileiro do regime colonial.



[1] Damasceno – 1971 – pp 105-106

[3] -  João COUTO e SILVA e a ARTE SACRA LUSA BRASILEIRA http://profciriosimon.blogspot.com/2010/01/arte-sacra-sul-rio-grandense-11.html.

O MONUMENTO ao CONDE de PORTO ALEGRE inicialmente colocada na Praça da Matriz e desde 1912 na praça que leva o seu nome
Fig. 10 – Considerado o primeiro monumento público de Porto Alegre dedicado a um personagem com existência e nome individual. Obra empreendida, 1884[1],  pela firma de Adriano Pittanti homenageia um militar da Guerra do Paraguai.  Esta homenagem é coerente com a posição assumida por militares nas antigas provinciais coloniais e imperiais brasileiras..

     O empresário Adriano Pittanti (1837-1917) procurou o Rio Grande do Sul por indicação de Giuseppe Garibaldi. Pittanti empresariou o monumento ao Conde d Porto Alegre inicialmente erguido em frente à Catedral e Palácio do Governo. Outros italianos mantiveram e deixaram um ambiente um pouco mais favorável para as artes plásticas. Entre estava Frederico Alberto Crispin Francisco Arnoldi Trebbi (1837 - 1928) Oreste Coliva[2], Bernardo Grasselli (  -1883)[3].  O pintor Henrique (ou ¿Hugo?) Calgan[4] fez uma longa parada em Porto Alegre depois de migrar pelo Brasil e novamente tomar o caminho para achar trabalho, sustento de vida e fama..
Lápide do túmulo de Adriano Pittanti e família  em Hamburgo Velho
Fig. 11 – Quando  o sentimento do EU alimentado pelo romantismo, o espirito republicano  e o anarquismo coabitam a mesma pessoa  são capazes de contrariar os sentimentos humanos os mais certos e universais, mesmo aqueles que brotam da realidade concreta e objetiva do fim deste individualismo personalista Na imagem  a lápide do túmulo no cemitério maçônico de Hamburgo Velho do autor do Monumento ao Conde de Porto Alegre  - Adriano Pittanti (1837-1917) e familiares.
 
      O registro escrito das manifestações populares teve em João Cezimbra Jaques (1848-1922) um dos pioneiros seguidos pelo riograndino Alfredo Ferreira Rodrigues (1865-1942)[1].  A obra do pelotense João Simões Lopes Neto (1865-1916) conferiu um toque de consistência e intensidade mais propício para projeção interna e externa ao Rio Grande do Sul. Na cultura dos imigrantes germânicos como das suas comunidades e contatos externos a imprensa teve papel primordial O pastor Wilhelm Rotermund (1843-1925)[2] dotou a cidade com parque gráfico e uma  editora de livros, calendários e material didático que continua a se projetar até presente.
Busto de Júlio de Castilho  –Reserva técnica da Cúria Metropolitana de Porto Alegre
Fig. 12 – Júlio de Castilhos (1860-1903) foi um dos lideres mais proeminentes no processo da transformação da província do Rio Grande do Sul em Estado Soberano. A constituição de 14 de Julho de 1891 foi um pacto unilateral que encontro nas mentes impregnadas do imperialismo centralista a ser desenvolvido na célula estadual. O seu esforço, audácia e temeridade encontrou uma legião de seguidores. Estas energias simbólicas coletivas materializaram-se num dos monumentos dos mais expressivos dedicados a esta figura e à sua obra. .Esta obra materializava o pensamento a antiga província imperial entrava na busca de sua identidade própria e gerava agentes, símbolos que demonstrassem como indivíduos.

       A geração de artistas, de críticos, de lideres culturais e de políticos,  nascidos no regime imperial, defrontou-se com a proclamação da Soberania dos Estados regionais e contido no ato nº 01 da proclamação de Republica brasileira no dia 15 de novembro de 1889[1]. Esta geração teve de preencher com palavras, atos e obras esta repentina SOBERANIA. Para alguns significou a definitiva conexão com a rede mundial. Isto ficou evidente no projeto inicial do Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul e expressa o jornal semioficial “ A Federação” de 04 de abril de 1908: 
   “Para a Europa, Rio da Prata e todo o Brasil, onde existem estabelecimentos desta ordem foram pedidos prospectos, programas, regulamentos, etc., bem como pedidos de preços de materiais absolutamente necessários ao funcionamento do Instituto, afim de se fazerem os cálculos todos, sem pessimismo ou optimismo”.

       Os anos culminantes deste projeto ambicioso são constituíveis pelo quinquênio 1908 a 1913. Sob a visão do médico Carlos  Barbosa Gonçalves (1851-1933) presidente da Estado do Rio Grande do Sul, subsidiado pelo engenheiro, Cândido José de Godoy (1858-1946)[2] ambos com formação, estágios profissionais na França marcaram indelevelmente a paisagem sul-rio-grandense com palácios, monumentos e obras de engenharia que continuam em plena utilidade física e simbólica do Rio Grande dos Sul. José Barbosa Gonçalves[3], o irmão de Carlos Barbosa, era ministro da Viação e cuja ação conectou fisicamente por terra o Estado ao Centro do Brasil.
Pinheiro Machado Reserva técnica da Cúria Metropolitana de Porto Alegre doada à Pinacoteca da Prefeitura da Porto Alegre
Fig. 13 – O senado Pinheiro Machado foi um dos personagens sul-rio-grandense mais  emblemáticos das aspirações iniciais do regime republicano brasileiros. O seu assassinato criou um convulsão social e mostrou os limites, os hábitos e as práticas do Regime Coloniasl  e que estava profundamente incrustado na política, na economia e na própria cultura. entrava na busca de sua identidade própria e precisava de agentes, símbolos que demonstrasse como indivíduos

       Em Porto Alegre prosperavam as obras confiadas a Rodolfo Ahrons (1869-1966), executadas por Theodor Wiedersphahn ( 1878-1951) nas oficinas  dos Friederich’s sob o comando de Miguel (1849-1903). Jacob Aloys (1868-1950) e João Vicente (1880-19...). Ali os escultores como Wenzel Folberg (...-24.06.1915), Jesus Maria Alonso Corona ( 1871-1938) e depois seu filho Fernando Corona (1895-1979) -secundados na pintura decorativa por Fernando Schlatter (1870-1949)[1] e por Franz Steinbacher (1887-1933) deram corpo ao projeto de uma capital digna de um legítimo “Estado Soberano” como queria o decreto nº 01 da Republica. Esta mesma abertura republicana atraiu para o Rio Grande do Sul as figuras, os nomes da pintora Justina Kerner Pohlmann (1846-1941)[2] e do seu marido Alexis Pohlmann médico e também pintor que se fixaram em Agudo- RS próximo de Santa Maria.  Eles foram seguidos por Heins Rolf Steiner (1941-1974) e por Heinrich August Teschmeier (1895-1971), que acabou se fixando e trabalhando em Brasília.
Fig. 14 – O médico doutor em puericultura  Olímpio OLINTO DE OLIVEIRA, (1866-1956).tencionou ao máximo, que lhe foi possível, o ambiente artístico e médico de uma capital de um Estado que se dizia “SOBERANO”. Pagou caro a sua ousadia e temeridade desta tensão de ambiente no qual o cultivo  dos hábitos arcaicos era uma pesada e profunda  herança do Regime Colonial e da escravidão apenas extintas por recente decreto.  Preferiu retira-se para a Capital Federal em 1919. Ali a Revolução de 1930 o alcançou e lhe confiou um delicado cargo na sua ajuda materna infantil do recém-criado Ministério da Educação e Saúde Pública

       Nas artes sul-rio-grandenses deste período é incontornável a figura do médico e doutor em puericultura Olímpio Olinto de Oliveira (1866-1956). Crítico e cronista do Correio do Povo destacava, 1897 a figura consagrada  de Pedro Weingärtner ( 1853-1929)[1] e unindo-a ao emergente Libindo Ferrás (1877-1951). Olinto distinguia positivismo e de comtismo colocando no sei devido lugar esta ideologia de moda. Esta visão ampla não impediu a ação do positivista brasileiro Décio Villares (1851-1931) de projetar o monumento a Júlio Castilhos e de repercussão local, nacional e internacional.



[1] Pedro Weingärtner na passagem entre o regime imperial e o regime republicano brasileiro.

Fig. 15 – O tema do notário na sua tarefa ode ser percebido como  índice do interesse de Pedro Weingärtner em conduzir e administrar a sua carreira de artista plástico.  Uma vocação relativamente tardia para a imensa dificuldade a ser vencida na sua escolha radical de viver como um artista proveniente de uma província com pouca tradição e muito menos recursos para este tipo de vida.

        Nas artes institucionalizadas o momento culminante aconteceu com a junção das forças políticas e culturais e econômicas de 63 municípios para criar, no dia 22 de abril de 1908, e manter o Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul (ILBA-RS) por sua vez mantenedora da sua Escola de Artes em 1910. O Conservatório de Música do ILBA-RS havia sido criado em 1909 e confiado ao maestro e compositor José de Araújo Vianna (1872-1916) que se notabilizou, na capital federal e mundo afora,  pela criação de óperas.
Fig. 16 – A inauguração do Monumento, dedicado a Júlio de Castilhos na Praça da Matriz de Porto Alegre , em janeiro de 1914, marca o final do governo do médico Carlos Barbosa Gonçalves, de sua prestigiosa equipe e o retorno de Borges de Medeiros com o seu  séquito O governo - que ergueu este monumento – caracterizava-se pela  delegação do poder e sua equilibrada circulação do poder político, econômico e cultural. O governo que se seguiu retomou o centralismo, o personalismo e a violência quando julgava oportuno com havia acontecido em 1893 e se repetiu em 1923 na 5ª reeleição forçada de Borges..
       Este ambicioso projeto de identidade coletiva do Rio Grande do Sul se dissolveu-se no final do quinquênio 1908 ate 1913, quando retornou ao governo o pernambucano Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) e início da Primeira Guerra Mundial. Permaneceu o ILBA-RS na forma de uma instituição sujeita às severas condições burocráticas centralistas e com a perda total de vínculo regional e com parcos, esporádicos e persolizados contatos nacionais. 
Judith FORTES 1896 -- Retrato - Pinacoteca Aldo Locatelli – Prefeitura Porto Alegre
Fig. 17 – O retrato do cidadão anônimo, realizado, com perícia, pela artista plástico Judith Forte é o índice da democratização da imagem do cidadão. É difícil avaliar no presente, com a máquina fotográfica incorporada  aos diversos equipamentos, o que significou a gradativa conquista da construção da imagem individual. De outra parte esta “naturalização da imagem” não permite, ao grande público,  avaliar s perdas da qualidades estéticas que a construção de uma imagem humana implica tanto pelos meios mecânicos como artesanais.

       A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) esmoreceu e desviou as conexões artísticas internacionais brasileiras. Algumas convergiram para o Rio Grande do Sul como alternativa pouco atrativa e provisória. Nestas condições os artistas plásticos Eduardo de Sá (1866-1940), Lucílio de Albuquerque e Eugênio Latour (1874-1942)[1] procuraram Porto Alegre neste período. A convite de Libindo Ferrás diretor da Escola de Artes do ILBA-RS todos eles atuaram ou deixaram obras.  O mesmo Libindo obteve de Olinto de Oliveira  de Augusto Luis de Freitas (1863-1962). Este artista pós obter o contrato de três murais para o novo palcio do governo dirigiu-se par Roma onde permaneceu até o final da vida. Porém são parcos e pouco conhecidas as suas conexões com o todo da cultura brasileira.
        A Primeira Guerra Mundial teve entre suas vítimas o jovem promissor italiano Miro (Wladomiro) GASPARELLO (*23.04.1891+31.07.1916) que passou o ano de 1913 lecionando na Escola de Artes do ILBA-RS. A sua memória continua viva e cultivada na sua cidade natal de Vicenza[2] na Itália.
A fotografia, como arte industrial, teve apaixonados e  brilhantes cultivadores como o comerciante Luiz Nascimento Ramos, o “Lunara”(1864-1937) e o italiano Virgílio Calegari (1868-1937).



[2] MIRO GASPARELLO:  um PROFESSOR da ESCOLA DE ARTES do IBA-RS VITIMA FATAL da Iª GUERRA MUNDIAL

Helios SEELINGER, 1878-1965 – “Pelo Rio Grande Pelo Brasil” esboço Revista Máscara Porto Alegre-  Jun. 1925
Fig. 18 – Este esboço da  obra de Hélios Seelinger foi reproduzido, em cores, no Revista Máscara e no contexto do Salão de Outono de 1925 realizado no prédio da Prefeitura de Porto Alegre. Obra inspirada e produzida no contexto das crescentes e sangrentas insatisfações com o governo Borges e da República Velha. O seu título “PELO RIO GRANDE.. PELO BRASIL” foi um mote usado pelo movimento preparatório e desencadeador  da Revolução de 193.  O seu objetivo eran tentar unir MARAGATIOS e CHIMANGOS sobre a mesma bandeira nacional A regional estava cindida de alto abaixo lembrando a divisão entre republicanos e imperiais dos  tempos da Revolução Farroupilha de 1835.

    Tanto Libindo Ferrás, como Olinto de Oliveira, migraram ao Rio de Janeiro onde terminaram os seus dias. O médico Olinto ocupou, em 1930,  um posto central do recem criado Ministério de Educação e Saude Pública onde permaneceu até 1945 com a queda de Getúlio Dornelles Vargas ( 1882-1954). O Rio de Janeiro foi também o destino final do prestigioso escultor, desenhista e designer italiano Giuseppe Gaudenzi (1875-1966)  contrato, em 1909 , pela Escola de Engenharia através da mediação de Pedro Weingärtner 
Helios SEELINGER, (1878-1965) – “Pelo Rio Grande Pelo Brasil” obra definitiva Museu Piratini – RS
Fig. 19 – Esta obra de Hélios Seelinger havia sido planejada, a partir de 1925,  para o Palácio do Governo do Estado. Havia anteriores tentativas para dotar este prédio com murais e feitas sucessivamente por Antônio Parreiras, por Luís de Freitas e de Lucílio da Albuquerque até  que a obra atual tivesse sido realizada por Aldo Locatelli. As obras de Parreiras foram para o Museu Júlio da Castilhos, As obras de Freitas e Lucílio passaram ao prédio do Instituto de Educação de Porto Alegre, aproveitadas no projeto arquitetônico de Fernando Corona. Depois da conclusão da decoração por Aldo Locatelli o mesmo Fernando Corona e Christina Balbão destinaram a obra de Seelinger para o museu da cidade de Piratini. .

      Ao longo da dúzia de ano entre a 1918 e 1930 levaram até as últimas consequências o legítimo “Estado Regional Soberano” e ao mesmo tempo impunham contraditoriamente o retorno ao “Estado Nacional Soberano” e unitário do Regime Imperial e Colonial. Acelerou-se o ritmo entre a sístole e diástole nacional até culminar na Revolução de 1930 e no Partido único do Estado Novo de 1937. Estado Novo unitário nacional proibiu hinos, queimou bandeiras e tentou apagar a memória dos antigos “Estados Regionais Soberanos”. Este projeto da homogeneização nacionalista central proibiu qualquer língua, pensamento político ou obra não coerente com o “Estado Nacional Unitário Soberano”. Enquanto perdurou este ecleticismo e a falta do contraditório gerou-se um imenso deserto de ideias originais, obras reciprocamente plagiadas e um abafamento total do PODER ORIGINÁRIO das antigas unidades nacionais. Mário de Andrade levantou a voz, em 1938,  e fulminou “o ecletismo como o refúgio de todas as covardias”. 
 
 Francis  PELICHEK - Capa da Revista da Globo dez 1930
Fig. 20 – O político Antônio Flores da Cunha num retrato do artista plástico tcheco Francis  Pelichek na capa da prestigiosa Revista da Editora Globo. Um dos lideres da Revolução de 1930 e o mentor da prestigiosa Exposição Nacional  Farroupilha de setembro de 1935. Isto não impediu que Flores da Cunha entrasse em conflito aberto com o Estado Novo. Este retaliou,  inclusive mudando o nome da Av. Flores da Cunha de Porto Alegre para Av. Independência o seu nome antigo..

      No Rio Grande do Sul construíram-se nomes, obras e pensamentos que levaram até as últimas consequências os postulados do legítimo “Estado Regional Soberano”. Especialmente os mentores das revistas Madrugada, Kodak, Máscara prepararam profissionais e teóricos que juntaram, no final deste período,  na edição de livros da Editora da Globo na sua Revista de circulação brasileira. Era a cultura legitimada e socializada pelos veículos da era industrial. Esta primeira fase foi profunda e coerentemente interpretada pela artista plástico tcheco Francis (Frantisek) Pelichek (1896-1937). Ele deixou um precioso legado em Porto Alegre e recolhido na sua pátria de origem, passagem pelo Rio de Janeiro e Paraná.  
Fig. 21 – O artista plástico tcheco Francis (Frantisek) Pelichek (1896-1937) colocou a prova o seu projeto pessoal e dono de alta cultura. Como estrangeiro  ele incorporou o melhor que a cultura parada no tempo do Rio Grande do Sul lhe podia oferecer de exótico.  De outra parte como profissional e docente era extremamente exigente na cultura local e nacional.  Ele produziu um vasto mundo simbólico relativo  à Revolução de 1930. Logo após ele foi um dos artistas plásticos de Porto Alegre que enviou e expôs no antológico  Salão de 1931 promovido por Lúcio Costa.
(Catalogo p. 16 e 17)[1].

      Um dos nomes referencias  das artes visuais foi o alemão Ernesto Zeuner (1895-1967). Cercado dos seus discípulos João Fahrion (1898-1970) e João Faria Viana (1905-1975) do Instituo Parobé ilustrou livros e revistas da editora nacional de circulação e recepção nacional. Juntaram aos artistas plásticos e gráficos Gastão Hofstetter (1917-1986) Edgar Koetz (1913-1969)  e Nelson Boeira Fäedrich (1912-1994). Ligado à imagem da empresa aérea VARIG Nelson Jungblutt (1921-2008) atingiu efêmera projeção mundial nas asas da empresa.
Fig. 22 – Uma xilogravura de Sotero Cosme incorporado ao patrimônio mundial. A sua formação profissional foi em Porto Alegre e em funçõa da era industrial gráfica que se instava no Rio Grande do Sul I Logo após a Revolução produziu material promocional para o INSTITUTO BRASILEIRO do CAFÉ (IBC). Com esta produção atingiu a cidade de Paris onde vinculou sua produção gráfica com os cartazes franceses divulgadores da produção audiovisual  norte-americana de Hollywood. Faleceu com atelier e produção  em Florença.

       Um dos nomes que emergiu com consistência nas artes gráficas produzidas em Porto Alegre e que assim ganhou projeção nacional e internacional foi Sotero Cosme (1905-1978)[1]. No plano internacional ele produziu os cartazes franceses dos filmes de Hollywood. O artista gráfico Alfredo Strorni (1881-1966)[2] após formar nome em diversos periódico de interior do Rio Grande partiu  ao centro do Brasil onde é referência em prestigiosos periódicos. Sua obra foi continuada pelo seu filho Oswaldo Storni na Editora Melhoramentos de São Paulo.
           José de Francesco (1895-1967) foi um artista de uma atuação autônoma que circulou entre  a pintura de caráter primitiva, imprensa e divulgação dos indústria audiovisual da época.
Fig. 23 – Oscar Boeira poder ser considerado um artista que exerceu a sua criatividade plástica  com maior coerência entre sua escolha de vida e gratuidade da arte. Participando ativamente da cultura local do setor das artes visuais não o fazia com motivação comercial, ou promocional do seu nome. Isto não significou o menor deslize, facilitação ou precarização das exigência que a Pintura e Desenho impõe pela sua própria natureza

      Sem um vínculo direto com alguma empresa ou mercado de arte institucionalizada o artista Oscar Boeira (1883-1943) merece um destaque pela sua formação na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) da qual cultivou a técnica da pintura e temática regional de sua pintura sem ser popular. Francisco Brilhante (1901-1987)  fez sua carreira e sua obra nas calçadas de Porto Alegre  e é um referência para um grupo cada vez mais denso de aristas de rua. Francisco Bellanca (1905-1974)  e Adail Bento da  Costa (1908-1980) foram dois estudantes da Escola de Artes da ILBA fizeram uma carreira solo. Bellanca foi o primeiro graduado em Curso Superior por esta Escola. Deixou a sua marca no desenho do brasão da cidade de Porto Alegre e numa série de desenhos de prédio e pontos do Riacho Dilúvio (Ipiranga). 
Fig. 24 – O artista plástico  Adail Bento da  Costa foi um expoente da cultura  de Pelotas com uma intensa e produtiva passagem pela capital federal Retornou para a cidade natal para ali cuidar do patrimônio construide e móvel. A cidade retribuiu aos seus esforços e constituiu um Centro cultural com o seu nome[1].

        Adail enveredou para o estudo e preservação do patrimônio construído no Rio de Janeiro em Pelotas donde era originário e para onde retornou no final da vida. O artista plástico Hélio Seelinger (1878-1965) foi uma extraordinária conexão entre os artistas plásticos além de suas obras como pintor. Um dos mentores do Salão de Outono de 1925. Os artistas plásticos Benito Castañeda (1885-1955) e Luís Maristany de Trias (1885-1964) reforçaram e deram visibilidade na arte a forte imigração espanhola para o Rio Grande do Sul junta-se à dinastia da família Corona e do escultor André Arjonas Guillén (1885-1970)[2]. Arjonas criou as esculturas da Igreja São José de Porto Alegre projetada pelo arquiteto Joseph Seraph Lutzenberger(1882-1951)[3].
Fig. 25 – Um cartão criado por Francis Pelichek para recordar, exaltar e motivar os agentes da Revolução de 1930.  Esta imagem  é mais um índice da profunda identificação com as expressões de regime republicano que se instalaram, cultivam e reproduzem nos pensamentos, ações e obras das artistas plástico do Rio Grande do Sul.

         A Revolução de 1930 levou ao Centro do Brasil e para o governo nacional as ideias e as figuras exponenciais da fermentação que ocorreu entre 1918 e 1930 no Rio Grande do Sul. De um lado negou e tomou caminho oposto ao regional de outro não pode negar os seus vínculos republicanos ideais e as longas tradições cultivadas nesta soberania. Após contornar a o movimento constitucionalista de São Paulo mostrou na exposição Farroupilha inaugurada em 20 de setembro de 1935. Os pavilhões dos Estados brasileiros ofereceram um espetáculo desta riqueza e diversidade. Esta contradição entre o urgente e compulsivo nacionalismo centralista e a expressão da autonomia  regional  foi administrada pelo político José Antônio Flores da Cunha (1880-1959). Este foi afastado e execrado pelo Estado Novo. Em seu lugar foram nomeados interventores estaduais e municipais conformados com um partido político nacional único. Terminava com as bandeiras regionais e apagadas os últimos índices de sua antiga soberania. 
Fig. 26 – João Fahrion  procedia do ensino no Instituto Parobé  do artista plástico Italiano Giuseppe Gaudenzi. Após uma bolsa de estudo do governo estadual e usada na aprendizagem com mestres alemães, Fahrion tornou-se verdadeira referência na produção gráfica para livros e periódicos de Porto Alegre. Dedicou boa parte de sua existência no preparo da nova geração no Curso Superior de Artes Plásticas do IBA-RS no qual ingressou em 1937 com o falecimento precoce de Francis Pelichek.

          A redemocratização pós i945 e Estado Novo do Brasil abriu as portas a todas as energias estaduais represadas do Rio Grande do Sul. Retornou o Hino, a bandeira e se traduziu num movimento dos Centros de Tradições Gaúchas (CTG). Movimento que conferiu uma identidade  regional. O paradigma do longo e penoso trabalho da cultura pampiana em especial a Uruguaia e a argentina reforçaram e deram forma para uma visibilidade. Este movimento se alastrou  Brasil afora e possui pontos de cultivo em todos os estado brasileiros e em outros continentes. 
Henrich August TECHMEIER (1895-1971) - Dom Vicente Scherer(1903-1996)  Reserva técnica da Cúria Metropolitana de Porto Alegre
Fig. 27 – O artista plástico alemão Heinrich August Teschmeier (1895-1971) na sua passagem, em Porto Alegre, realizou o retrato do futuro cardeal Vicente Scherer.  Este se destacou como capelão militar da Revolução de 1930. Quando da construção de Brasília artista mudou-se para lá  onde realizou o retrato legendário do marechal Rondon.

        Pode-se associar e a obra de Antônio Caringi (1905-1981) e do também escultor Vasco Prado (1914-1998)  a este movimento de projeção do nome da pessoa a este momento. Na pintura as obras de Leopoldo Gotuzzo (1887-1983) e Sobragil Gomes Carolo (1896-1974) mostram o grau de autonomia do artista, seu nome valorizado e permanência de sua memória.  Este período de circulação cultural permitiu a migração para Porto Alegre de Ado Malagoli (1906-1994)[1] que aqui lecionou Pintura, produziu e liderou a instalação do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) que leva o seu nome e memória.
TASSO, ERNANI CORREA e JOÂO FAHRION -por Locatelli - 1958
Fig. 28 – Os  retratos de Tasso Bolívar DIAS CORREA, (1901-1977) do  seu irmão Ernani Dias CORRÊA (1900-1982) sob o de  João Fahrion (1898-1970) é um índice da personalização dos cargos institucionais de Porto Alegre s  dos bispos marcava a posição de um agente legitimador e mediador entre  divindade  e o monarca Os bispos como mediadores desta representação transformava o tabu em totem a ser venerado no espaço simbólico da igreja ao redor da qual gravitava a construção artificial da civilização terrestre no preparo da celeste.

          A associação entre arte, política e erudição se refletem na obra do senador Guido Fernando Mondin (1921-2000)[1]. O Grupo denominado de “os Quatro de Bagé” começou motivado por este redemocratização. Assim  Glauco Otávio de Castilhos Rodrigues (1920-2004) Glênio Bianchetti (1928-2014), Carlos Scliar (1920-2001) e Danúbio Vilamil Gonçalves (1925- ) retomaram a temática sul-rio-grandense. Entre eles Carlos Scliar possuia melhor projeção e permanência da memória nacional, entre estes quatro, pertence a que inclusive memorial e fundação no Centro do Brasil.
Os QUATRO de BAGE em 1990 - Glenio- Glauco- Scliar- Danúbio
Fig. 29 – O quarteto dos artistas plásticos denominados GRUPO de BAGÉ. Da esquerda de quem olha a fotografia-  Glênio Bianchetti que foi o iniciador do Instituto de Artes da UnB.. Glauco Otávio de Castilhos Rodrigues se radicou no Rio de Janeiro tão como CARLOS SCLIAR cuja memória esta sendo preservada por um cento cultura com seu nome [1] Enquanto Danúbio Vilamil Gonçalves permaneceu fiel `Porto Alegre.

       O fim da II Guerra Mundial e a redemocratização do Brasil foi ocasião para os artistas Emílio Sessa (1913-1990)[2] e Aldo Donatto Locatelli (1915-1962) criarem e deixar uma obra de alto nível. Locatelli teve uma significativa interação com a capital de São Paulo. Apesar de ter uma imensa obra colocada no entroncamento das Avenidas São João e Ipiranga a permanência conservação e especialmente as sua memória é muito tênue e precária na cultura paulista.



[2] Site com vida e obra de Emílio Sessa  em  http://www.emiliosessa.com.br/ci/

Turma de Escultura do Prof Corona - pintura de Alice Soares
Fig. 30 – A arte da Escultora encontro no Rio Grande do Sul uma legião de artistas plásticos  Aa escultores encontraram um terreno fértil na qual podiam associar a sua erudição com obras físicas de alta qualidade A erudição teve  a partir de 1938 um Curso Superior no IBA-RS orientad por Fernando Corona. No quadro constam 1:Leda Flores – 2: Fernando Corona – 3: Chistina Balbão – 4: Dorothea Vergara – 5: Teresa Gruber  6 Alice Soares- autora do quadro. Ela tinha dupla formação superior em Pintura e Escultura[1].

       Uma ampla tentativa para ordenar as artes plásticas no Rio Grande do Sul os nomes e obras dos artistas plástico do século XIX no Rio Grande do Sul foi empreendida por Ângelo Guido Gnochi (1893-1969) Ele era a conexão com o Grupo da Semana da Arte Moderna de 1922, com o jornalismo dos Diários Associados e promotor dos Concursos da Miss Rio Grade do Sul além de sua experiência pessoal com o magistério e como pintor. Esta pesquisa fazia eco com a pesquisa  do poeta Athos Damasceno Ferreira (1902-1975) cuja obra é incontornável[2]. O esforço de estudar, sistematizados as manifestações populares pelo prisma erudito foi empreendido e publicado por Dante Laytano (1908-2000)[3].



[2] DAMASCENO, Athos. Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900)  Porto  Alegre:  Globo, 1971. 540p.

[3] LAYTANO, Dante (1908-2000) FOLCLORE do RIO GRANDE do SUL: levantamento dos costumes e tradições gaúchas (2ª ed) Porto Alegre: escola Superior de Teologia São Lourenço de Brides – 1987, 350 p ISBN 8570610718

Fig. 31 – Imagem do busto  de José de Francesco (1895-1967) modelado pelo   escultor Fernando Corona Numa interpretação pouco convencional, mas extremamente expressiva deste artista. Corona  tinha uma grande consideração pela obra múltipla deste  artista de múltiplos instrumentos  Além de pintor, era distribuidor de filmes no interior do Rio Grande do Sul. Para esta distribuição mantinha tipografa na qual imprimia revistas com as sinopses dos filmes que distribuiu junto com os cartazes que pintava para esta promoção, Escreveu e editou livros autobiográficos que imprimia nas suas oficinas..

          A revolução de 1930 abriu o caminho para que o poeta e escritor mineiro Guilhermino César (1908-1993) continuasse a sua obra em Porto Alegre.  Neste plano local a crônica de artes do filósofo Aldo Obino (1913-2007) moveu-se paralela com as pesquisas de arte realizadas por Francisco Rio-pardense de Macedo (1921-2007) o primeiro formando em curso superior de Urbanismo no Brasil e primeiro a ter assinado a carteira de trabalho de arquivista no Brasil.  No plano nacional o critico e cronista  sul-rio-grandense Walmir Ayala (1993-1991)  deu continuidade para a obra do critico e historiador de arte Carlos Cavalcanti (1908-1974) com destaques de verbetes relativos aos artistas plásticos sul-rio-grandenses. Estes artistas mereceram o Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul de Renato ROSA, e Décio Presser  a partir das notícias jornalísticas, das exposições e do mercado de arte.  O exame da fortuna propiciada pelos salões de arte, os seus destaques e  prêmios  coube a  Flávio Krawczyk na sua dissertação “O espetáculo da legitimidade: os salões de artes plásticas em Porto Alegre”.
Fig. 32 – Em pleno regime militar de 1964 um grupo de artistas plásticos sul-rio-grandenses aceitou o desafio de levar as suas obras para Brasília. A presente imagem é da Revista Manchete de 1970 que também desapareceu em 2000 como já havia acontecido com  da Revista da Editora Globo  cujo último nº  941 circulou em fevereiro de  1967

Esta ampla diástole nacional e regional foi invertido pela sístole pelo Golpe de 01 de abril de 1964. Este Golpe liberou a todos e a tudo aquilo que não fosse suspeito de colocar em cheque o PODER CENTRAL e MONOCRÀTICO do ESTADO e da SEGURANÇA NACIONAL. Com esta preocupação prioritária do seu projeto centrado no controle político não deixou espaço ou não pode cumprir a promessa imponderável e subliminar  de  projeção dos nomes regionais para o plano nacional e para todo o território brasileiro. Também empurrou  a circulação destes bens simbólicos para  lugar sem visibilidade e relevância. Assim o Golpe de 1964 retornou ao cinzento e covarde ecletismo estético, político e econômico fulminado por Mário de Andrade em 1938.  Com toda certeza os artista plásticos não estavam dispostos a serem os “CULPADOS de TUDO” e assumir a GERÊNCIA de um PODER que de fato continuam ainda nas mãos do colonialismo e escravocratas. Este ambiente gris e opressivo permite que nomes de falseadores internacionais, como Salomon Smolianof (1897-2979)  vivam dissimulados em Porto Alegre.
http://defender.org.br/noticias/rio-grande-do-sul/porto-alegrers-casa-de-cultura-recebe-busto-de-mario-quintana-esculpido-por-xico-stockinger/
Fig. 33 – O busto de Mario Quintana modelado por Francisco Stockinger (Xico) mostra a interação do artista plástico com a obra e a imagem publica do poeta. O escultor também e autor de um grupo hipotético no qual reúne Mario Quintana interagindo com Carlos Drummond de Andrade e colocado de corpo inteiro na Praça da Alfândega de Porto Alegre   Retornou
      Os artistas plásticos sérios e correntes com as suas escolhas pessoais  já havia aprendido a lidar com os controles servis e coloniais furados e ineficazes. Assim este artista não se surpreendeu e continuou a produzir a sua obra. Esta geração, reforçada pela presença e a obra de Francisco Stockinger (1919-2009) de origem austríaca. Uma série de figuras femininas atravessou este período sem renunciar à sua pesquisa estética. Os nomes de Alice Arduahin Soares (1917-2005),  de Christina Hellfensteller (1917-2007), Maria Lídia Magliani (1946-2012)  e de Sonia Ebling de Kermoal (1926-2006) não recuaram diante dos limites de gênero, geográfico, político e econômico  A maior e a mais ampla projeção nacional e internacional coube para Sónia Ebling. Tanto as obras tridimensionais de  Ione Saldanha (1921-2001) como as pinturas e desenhos de Magliani tiveram ampla e merecida circulação e projeção no plano nacional e mais precisamente no Rio de Janeiro.
Fig. 34 – O retrato de Ruth Malagoli pelo seu marido Ado Malagoli (1906-1994) faz justiça a este incentivadora e pela ajuda na preservação da mais alta memória do Rio Grande do Sul por meio da MARGS.  O casal se mudou definitivamente para Porto para a concretização e manutenção nos momentos mais críticos desta instituição. Ambos eram o melhor de si mesmos nos estreitos limites orçamentários, culturais e técnicos locais Após a morte de Ado Ruth se empenhou para a manutenção do legado iniciado pelo esposo e para quem alcançou a designação  oficial do Espaço com o nome de Ado Malagoli.

   O nome do pintor Carlos Alberto Petrucci (1919-2012) teve alguma projeção e fortuna crítica. O escultor e pintor Cláudio Carriconde (1934-1981) iniciou e referência do Centro de Artes da Universidade Federal de Santa Maria. Na arte cinética as pesquisas e obras de Clóvis Peretti (1935-1995)[1] estiveram na frente do seu tempo e não se preservou quase nada da memória e da obra dele. O escultor e pintor Gilberto Tomé Pegoraro (1941-2007)[2] é referência na cidade de Criciúma em Santa Catarina  onde atuou e interagiu  ao lado da ceramista Jussara Guimarães (1948-2011). Neste período o pintor Waldeni Elias (1931-2010) atingiu o seu período mais denso e coerente. Nesta geração e ambiente estético os desenhos, gravuras, pinturas e instalações de Plínio Cesar Livi Bernhardt (1927-2004)[3], de Henrique Fuhro (1938-2006) e José Armando Vargas Almeida (1939-2013)[4] conferiram nome e fortuna crítica aos seus autores. Um caso singular é o artista plástico e escultor Gomercindo da Silva Pacheco (1924-2008) rompeu os círculos eruditos onde fez valer o seu apelido “Guma” com que assinava e fazia circular as suas obras tridimensionais  inspiradas na sua infância no arredores da Tapes. Novo Hamburgo teve nas obras de Carlos Alberto Oliveira (1951-2013) o registro de temáticas afro-brasileiras[5]. O que parece certo é que esta fama e este prestigio francês de Wilson Tibério não estão associados e não representam a cultura e a memória sul-rio-grandenses.
WILSON TIBÉRIO (1923-2005) auoretrato 1941 - Pinacoteca Barão Santo ÂNGELO - IA-UFRGS 
Fig. 35 – É singular a figura do  artista plástico Wilson Tibério (1923-2005) que assumiu integralmente a cidadania francesa e era encarregado, pelo governo de Paris, como representante e expoente da cultura afro radicado na França.   Redescoberto pela cultura por meio do irmão de Wilson Tibério e o esforço do poeta Oliveira Silveira ele estava se preparando para reaprender a língua portuguêsa, manar suas obras e uma possível visita ao estado natal. Este projeto não se concretizou devida as mortes sucessivas destes três representantes da cultura afro-sul-rio-grandense

Um caso singular de projeção internacional aconteceu com o artista plástico Wilson Tibério (1923-2005). Ele tornou-se um verdadeiro embaixador da cultura africana radicada na França. Quando ele faleceu,  estudo da sua  projeção interna no Rio Grande do Sul,  o retorno da sua obra pensamento ao Brasil estavam sendo providenciado e vertido para o português pelo poeta afro-brasileiro Oliveira Ferreira Silveira(1941-2009)[1].
CAMARGO Iberê Bassani -  1914-1994 - retrato de Maria COUSIRAT CAMARGO
Fig. 36 – O retrato de Maria Coussirat Camargo (1916-2014) realizado por Iberê Bassani Camargo (1914-1994)   é um testemunho da interação e troca de competências para administrar as duas carreiras paralelos e complementares. O trabalho de Maria foi a garantia da memória da obra de Iberê  Esta memória consolidou-se na Fundação e depois Museu Iberê Camargo.

     É muito cedo e é prematura qualquer juízo definitivo da obra e da pessoa de Iberê Bassani Camargo (1914-1994)  e que no momento ocupa todos os horizontes da fama e da fortuna e da memória que um artista pode aspirar. A sua memória foi construída de obra em obra, de evento em evento pela constante, inteligente e operosa companhia de Maria Coussirat Camargo (1916-2014). Este processo recebeu uma institucionalização uma fundação que leva o seu nome e se materializou em prédio próprio.  A obra estética de Iberê Camargo somou-se e interagiu com os movimentos sociais, políticos e econômicos da Abertura Política pós 1979. Na política as duas administrações de Leonel de Moura Brizola (1922-2004) no Rio de Janeiro trouxeram para o primeiro plano a fama e nome de Oscar Niemeyer (1907-2012) associado ao projeto de escolas populares de turno integral (CIEPS). A memória da pouca recepção no Rio Grande do Sul[1] e, até hostilidade ao pensamento deste arquiteto de projeção mundial, é um dos índices que ajudam a entender a recíproca quando e a resistência que oferece a cultura do centro do Brasil a tudo aquilo que traz a marca Rio Grande do Sul e quando os artistas plásticos sul-rio-grandenses  não conseguem tornar favorável a fortuna crítica a seu respeito. Resistência surda acontecida  no Rio Grande do Sul.com o nome e a obra do capixaba Maximiliano Fayeth (1930-2007) apesar de sua formação superior em artes plásticas e arquitetura. Porém um dos nomes que sofreu mais bloqueio e patrulhamento ideológico  foi o arquiteto austríaco e cidadão norte-americano  Eugen Gustav Steinhoff (1888-1952)[2]. Steinhoff foi um dos nomes mais prestigiosos que Porto Alegre já abrigou e cuja memória, obras e pensamento desapareceram sem deixar vestígios conhecidos.
       Os dois governos sucessivos de Brizola do Rio de Janeiro repetiu a sina dos artistas plásticos na sua relação com o poder político e econômico.  Não basta alguém originário do Rio Grande do Sul empolgue o poder político e econômico central do Brasil, de alguns estados ou ministério do 1º escalão para esta projeção central, estadual ou ministerial seja um caminho para a fama e a fortuna crítica  dos artistas plásticos sul-rio-grandense.  Na maioria das vezes acontece exatamente o contrário.
ALDO OBINO e FRANCSCO RIOPARDENSE MACEDO em 2002em festa da Associação CHICO LISBOA
Fig. 37 – O cronista e crítico Aldo Obino e o urbanista, historiador e arquivista Francisco Rio-pardense de Macedo fazem confidências e o balanço  no início do século XXI As suas obras que expressam posições ideológicas opostas não impede o diálogo

A conclusão que chega é que aqueles fora do Rio Grande do Sul  nada farão  se os daqui não forem competentes  em ter uma política agressiva e bem definida para a cultivo do estudo, cultivo e reprodução da memória institucionalização e reprodução do nome a fortuna dos artistas aqui nascido os aquerenciados. Outros com maior esforço, com estudo intenso e reprodução qualificada continuadamente aproveitarão o generoso vazio com o objetivo de projetar os nomes e as fortunas dos seus próprios artistas.  Recomeçam a lógica do regime colonial agora sofisticado pelo regime pós-industrial na qual a moeda de troca são os bens simbólicos bem estudados e empacotados nas redes mundiais.
A falta de um pacto e a carência de um projeto coletivo sinalizam o recrudescimento das condições coloniais e novas e requentadas  formas de escravidão e espoliação. As obras, o nome  e memória dos bens simbólicos não dizem nada ao Poder Originário sul-rio-grandense na medida em que estão comprometidas pela raiz pelas condições coloniais e formas requentadas de escravidão e espoliação. O artista plástico se retrai -  face a estas adversidades recorrentes -  para o interior de si mesmo  e do seu atelier reproduzindo as condições e o modelo do regime colonial. Ali busca  produzir a sua obra e conferindo pouca pouca importância para circulação do seu nome e mesmo da sua obra[1]. Esta condição subtrai ao artista criador a circulação e a recepção da sua obra. Externamente aniquila o conjunto dos esforços criativos. Produz uma cultura enferma e impossível de sustentar os desafios de uma soberania de uma civilização coerente com o seu tempo e lugar



[1] O Artista trabalhando em silêncio e quase anônimo  http://profciriosimon.blogspot.com.br/2011/09/isto-e-arte-007.html
Christina Helfensteller BALBÃO 1917-2007 auto retrato 28.06.1944 – Pinacoteca Aldo Locatelli – Prefeitura Porto Alegre
Fig. 38 – O autorretrato de  Christina Helfensteller BALBÃO (1917-2007) expõe a sua capacidade gráfica adquirida  numa dupla formação superior de Desenho na Escola na Escola de Artes e Escultura no Curso de Artes Plásticas do IBA-RS. Christina não foi só uma defensora atento de todo que se referia as artes visuais no Rio Grande do sul como desenvolveu um magistério atento além de se constituir na servidora com intenso, abnegado e continuado trabalho institucional  renunciou à produção individual para reforçar a sua presença e estímulo pessoal em continuados e benéficos trabalhos, exposições e na defesa intransigente de todos aqueles que queriam se manifestar e ter a su obra de arte circulando no âmbito da cultura sul-rio-grandense.

Uma visão panorâmica, por cima e por fora não é mais que meritórios os esforços pontuais dirigidos para temas pontuais como pessoa, obras e eventos específicos. Os discursos por cima e por fora derivam para a metafísica e para o receptor é mais um mito do q1ue uma realidade. No caminho contrário a esta metafísica e mito o  perigo da produção de narrativas pontuais conduz ao caminho empírico  que transforma a História em migalhas e arruína uma visão panorâmica e ecológica.  Nestas migalhas o próprio autor da pesquisa pontual aniquila e amesquinha o melhor de si mesmo.  O seu esforço torna-se sem sentido quando atomiza e carece de uma visão macro e profissional do problema ao qual se dedica de corpo e alma.. No máximo surge dali uma história do “EU MESMO” que inicia quando o pesquisador nasceu. Esta impossibilidade deste  “EU MESMO”  perceber “algo fora da caixa onde se encerrou” permite ao observar externo apanhar esta presa fácil, cravar nas suas costas um alfinete e espetá-lo num quadro positivista classificatório como faziam os colecionadores da borboletas  
Painel “AFROBRASILEIRO” de Pelópidas THEBANO & Vinício VIEIRA , Porto Alegre: Praça Glênio Peres- mosaico -inaugurado em 21.11.2014
Fig. 39 – O retorno da artista plástico para o âmbito de um inconsciente coletivo pode ser empreendido na mão contrária da assinatura digital.  O anonimato, a história e memória individual facilmente são conectados ao coletivo por meio dos recursos da era da identificação digital. Ajudada pelas novas tecnologias da identificação e onde toda a população é acompanhada  e identificada individualmente nos pontos das câmaras de vigilância permanentemente ligadas e conectadas as redes mundiais. Na presente obra retorno da artista plástico para o âmbito de um inconsciente coletivo é facilitado pelo aspecto plástico sobrepõe-se a qualquer  imagem particular ou personalizada. Os elementos - como as linhas, as cores as superfícies entrecortadas - não estão no lugar de algo ausente como no caso da imagem figurativa. As linhas, as cores e as superfícies materializam a obra
No contraponto, e em outra linha, é possível listar nomes de artistas que perceberam e contornam a armadilha na qual perceberam que os seus nomes, créditos fictícios e a fortuna crítica são  transformados em produtos comerciais descartáveis, simbólicos de fachada e de políticas do mais esperto e forte
O equilíbrio é o trabalho dialético na genealogia do pensamento exposto por Hegel[1].
A emergência do retrato, do nome e da fama do artista plástico numa cultura periférica da permite perceber e estudar a gênese, a criação e reprodução deste espaço simbólico no qual se debatem as forças e as energia da arte.



[1] HEGEL Jorge Guilherme Frederico(1770-1831). De lo Bello y sus formas (Estética) Inroduccion  -II Método a seguir en la inadagación filosófica de  lo bello y dela Arte Buenos Aires  : Esoasa Calpe Argentina (Coelçaõ Austra Volume extra) 1946, p. 33


FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ALDO OBINO: notas de Arte - Porto Alegre: MARGS, 2002, 158 p

ALVES, José Francisco. A Escultura Pública de Porto Alegre_ história, contexto e significado Porto Alegre: Artifolio, 2004, 264 p

AYALA Walmir (1993-1991)  DICIONÀRIO BRASILEIRO de ARTISTAS PLÀSTICOS – Coordenação de Walmir Ayala ..Brasília : Instituto Nacional do Livro 1973 4 vol Il, p.286

DAMASCENO Ferreira, Athos (1902-1975). Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900)  Porto  Alegre:  Globo, 1971. 540p.

KRAWCZYK, Flávio. O espetáculo da legitimidade: os salões de artes plásticas em Porto Alegre. Porto Alegre : Programa de Pós Graduação em Artes Visuais, 1997. 526 fls.. (dissertação


ROSA, Renato e PRESSER Décio  Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul (2ª ed) Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000, 527 p.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

ALDO OBINO e a sua OBRA – Dissertação FABICO 2014

Antônio Cândido MENDES

DOBERSTEIN : Catolecismo
Túmulo de Manuel Araújo Porto-alegre em Rio Pardo (1939) da autoria de André Arjonas
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Referências para Círio SIMON








2 comentários:

  1. Caro Prof. Simon,
    Maravilhosa síntese da Arte no RS! Demonstra muito empenho, dedicação e conhecimento. Parabéns.
    Trabalho abrangente e bem referenciado com os contextos dos artistas. Porém, senti falta da menção do escultor suíço, radicado no RS, Johann Adolpho Bernhauser,(1900-1983)que assinava A.Bernhauser e, apaixonado por motivos regionalistas. Tenho interesse de conhecer mais detalhes sobre este exímio artista. Atenciosamente,
    Luiz Pasquali Almeida, edificarte54@gmail.com


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  2. Excelente trabalho de síntese da Arte no RS.
    Parabens Prof. Círio!
    Com seu conhecimento no segmento, indago se é possível publicar algo sobre o talentoso escultor suiço, radicado no RS, A.Bernhauser (1900-1983)Johan Adolpho Bernhauser;
    Grato,

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