quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

081 – ISTO é ARTE

A FESTA das ÁGUAS de NAVEGANTES e VENEZA: ou sendas abertas para o seu estudo erudito.


FIG.01 – VISTA AÉREA da procissão fluvial da  FESTA de NAVEGANTES em PORTO ALEGRE no dia 02 de fevereiro de 1930.

A Festa dos Navegantes, celebrada no dia 02 de fevereiro de cada ano, é um dos pontos altos do calendário de Porto Alegre. Fundamentalmente trata-se de uma FESTA das ÁGUAS. Na presente postagem deseja-se destacar as festas que unem e celebram esta interação de um núcleo urbano da capital do Rio Grande do Sul, cercada por um enorme caudal de água doce. Nesta celebração é possível observar uma imensa pluralidade de repertórios, temas e sentidos presentes - consciente e subliminarmente - nos eventos e nas celebrações populares de qualquer cultura humana.

FIG.02 – A procissão da  FESTA de NOSSO SENHOR dos NAVEGANTES em SALVADOR na BAHIA, celebrada cada dia 01 de janeiro sai da igreja da Conceição da Praia, vai até o mar e retorna pela baía até a igreja do Bom Fim. Ela é o ponto maior de numerosas outras procissões fluviais do rio São Francisco

Entre estes sentidos, temas e repertórios busca-se evidenciar as celebrações da FESTA das ÁGUAS que se ocorrem e ocorriam e Veneza.  A Rainha do Adriático elevou esta celebração da FESTA das ÁGUAS das fontes de sua própria cultura material e imaterial. Dos bizantinos reviveu a pompa, as circunstâncias e o esplendor do ouro. Recolheu os requintes e eventos as devoções esparsas das celebrações Afrodite grega nascida das espumas do mar. Nas profundezas deste mar e do inconsciente coletivo vinham para praia as memórias de Astarté dos navegantes fenício e a Ishtar dos Caldeus
Francisco GUARDI (1712-1791) A partida do  Bucentauro - c. 1755 – óleo 66 x 100 cm  - Museu do Louvre
FIG.03 – Na laguna de Veneza na FESTA da ASCENÇÃO sai o desfile de numerosas embarcações comandadas pela galeota dourada BUCENTAURO. A Rainha do Adriático tomava ocasião para fazer marketing e propaganda e assim marcar o seu poder e esplendor. Este poder e esplendor começaram a declinar com a descoberta de novo caminhos para os mercados do Oriente e especial com a descoberta da América. Porém a pompa e as circunstâncias foram mantidas e serviram de paradigma para festas aquáticas mundo afora.

     Veneza misturava o sagrado e profano nesta cultura material e imaterial na celebração de sua FESTA das ÁGUAS. Em Porto Alegre a FESTA de NAVEGANTES segue rigorosamente o mesmo padrão.

Foto da antiga Igreja Nossa Senhora do Rosário de Porto Alegre  demolida na década de 1950.
FIG.04 – A igreja do ROSÁRIO foi obra da Irmandade do Rosário de PORTO ALEGRE. O costume transfere para este templo a imagem de  Nossa Senhora dos NAVEGANTES uma semana antes  do dia 02 de FEVEREIRO.  A procissão fluvial, ou terrestre, parte deste ponto. A igreja original de Nossa Senhora do Rosário de Porto Alegre  foi construída pelos cativos nos dias de suas folgas e com o dinheiro arrecadado pelo venda de quitutes preparadas pelas escravas. Evidencia-se assim o profundo vínculo da cultura afro-brasileira com a festa de Nossa Senhora dos Navegantes.

  Porém Porto Alegre não é um ponto isolado e único nesta celebração. A FESTA das ÁGUAS foi e continua sendo ainda uma cultura litorânea e fluvial do Brasil inteiro. Nesta relação de cidades brasileiras a beira da água acontece festas como o Senhor dos Navegantes de Salvador na Bahia no dia 01 de janeiro.

LAYTANO, 1955, p.123. fig. b
FIG.05 – A multidão forma a PROCISSÃO da FESTA de NAVEGANTES em PORTO ALEGRE. O  verão escaldante de Porto Alegre obriga ao uso de multicolores sombrinhas.

A festa do Círio de Belém de Pará não esquece que a existência da capital do Pará depende das águas. A herança afro-brasileira celebra na beira das águas as suas divindades ancestrais e em especial de Iemanjá. O pesquisador Dante Laytano pesquisou e publicou em 1955, as celebrações afro-brasileiras da Festa das Águas em Porto Alegre.

LAYTANO, 1955, p.115. fig. b
FIG.06 – EMBARQUE no cais de PORTO ALEGRE no 02 de FEVEREIRO  para dar início à PROCISSÃO FLUVIAL em direção ao BAIRRO de NAVEGANTES. Este percurso foi alterado para a  procissão terrestre depois do desastre do Bateau Mouche ocorrido no Rio de Janeiro.

A FESTA das ÁGUAS ganha também conotações ecológicas. Motiva alertas  e constitui a motivação certa no sentido contemporâneo de denunciar e afastar as ameaças que sofre a preservação das águas potáveis. O Museu das Águas de Porto Alegre projeta, reforça e materializa esta motivação.

LAYTANO, 1955, p.114. fig. a
FIG.07 – O tradicional barco JENNY NAVAL, lotado no dia 02 de FEVEREIRO, navega, com a imagem de Nossa Senhora dos NAVEGANTES,  rumo à maior FESTA POPULAR de PORTO ALEGRE

Na conclusão é possível constatar que a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes abre um enorme leque de estudos, pesquisas e ações. Nas pesquisas restam numerosas sendas abertas pelo trabalho exemplar de Dante Laytano.

LAYTANO, 1955, p.117. fig. a
FIG.08 – Um detalhe da POPULAÇÃO  que aflui para a FESTA de NAVEGANTES em PORTO ALEGRE no dia 02 de FEVEREIRO 

Nos possíveis materiais logísticos, deste estudo, encontra-se o acervo jornalístico escrito, falado e de imagens desta festa local. O estudo sistemático deste material é capaz de preencher existências humanas com o seu estudo.


FIG.09 –A PONTE da Travessia do Delta do Jacui por pouco não obrigou a demolição  do templo  de Nossa Senhora dos NAVEGANTES em PORTO ALEGRE. Hoje a ponte constitui um cenário que envolve este templo

Outros tantos temas de estudos estão dispersos nos materiais empíricos dispersos no bairro Navegantes de Porto Alegre. De um lado um eterno estacionamento provisório, depósitos e vida efêmera de experiências empresariais. Pelo constante trânsito, armar e desarmar a festa e o trabalho de biscate e mutável faz jus ao temo NAVEGANTES. O prédio do seu templo um barco emborcado a espera de ser posto na correnteza.   De outra parte -   e contraditoriamente - existe neste bairro um busca de tornar este local um lar, um ponto de permanência. Este contrate - entre efêmero e eterno - coloca o Bairro Navegantes em plena consonância com a passagem da Era Industrial para o virtual.


FIG.10 – A culminância religiosa da FESTA de NAVEGANTES é a MISSA CAMPAL rezada diante do templo reconstruído em 1913 após o incêndio do templo ali erguido em 1875.  Este incêndio ocorreu em  dezembro de 1910  e foi divulgada como criminoso. Felizmente o templo tinha um seguro, o que permitiu dar inicio à sua rápida reconstrução.

São instituições, grupos envolvidos e famílias tradicionais frequentadores assíduos desta FESTA.  Isto sem tocar na História e nas narrativas orais avulsas e pessoais de quem organiza, executa e avalia este evento.

Margarida TEIXEIRA de PIVA doadora do terreno da Igreja Navegantes  Correio do Povo 03.01.2011
FIG.11 – DONA MARGARIDA TEIXEIRA foi doadora do terreno para erguer o primeiro templo em 1875. Hoje ela é homenageada pelo nome de uma das ruas do bairro. A orla do Guaíba abrigava uma série de chácaras unidas por um belo passeio descrito por vários viajantes.  Inclusive Debret desenhou este passeio e que equivocadamente atribuiu com sendo um vista de Paranaguá.

As conexões de Porto Alegre com Veneza estão na memória de uma grande leva imigratória italiana procedente desta região.  No presente Veneza consegue manter-se, como rainha do Adriático pela sua indústria cultural do turismo e na sua centenária Bienal.

FIG.12 – O Bairro NAVEGANTES, de PORTO ALEGRE, abrigou um intenso parque industrial do qual sobram alguns índices. Qs prédios das Fábricas RENNER estão parcialmente preservados e readequados. Neste sentido este bairro seguiu o exemplo do Arsenal de Veneza

Tanto Veneza com Porto Alegre perderam as atividades industriais, estaleiros e o próprio sentido original dos seus portos. Neste sentido a Bienal do Mercosul possui na sua genética esta raiz veneziana.


FIG.13 – A capa do LIVRO de Dante LAYTANO. Sua consulta ganha sentido na medida em que estuda e publica inclusive estatísticas da presença e da força da cultura afro-brasileira em PORTO ALEGRE, tendo como motivo e guia a FESTA de NAVEGANTES. Esta obra visita também o panteão da cultura afro pela mão de diversos pais de santo que o seu autor entrevistou na época. Assim se debruça sobre as possíveis conexões religiosas entre Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes.

Na presente postagem arranhou-se apenas a imensa pluralidade de repertórios, temas e sentidos presentes - consciente e subliminarmente – no evento das celebrações populares da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes de Porto Alegre.
       Evento e celebração aberto para leituras complementares ou contrárias. Nas contrariedades não faltaram contrariedades, incêndios, proibição da procissão fluvial e ameaças de sua pura e simples demolição do seu templo. Na complementariedade este evento consegue unir credos, rituais, festas sacras e profanas. Só para levantar um outro véu deste evento seria possível evidenciar e pesquisar a relação da música popular com a festa  e em especial de Lupicínio Rodrigues (1914-1974) cujo centenário de nascimento ocorre em 2014.

FIG.13 – O cenário do templo e da festa e Nossa Senhora dos NAVEGANTES em PORTO ALEGRE PONTE foi ameçado pela ponte  Travessia do Delta do Jacui e posteriormente pel traçado do metrô de superfície. Em 2013 ela convive com a via expressa, com o ponte, metrô e assiste a revitalização do Cais Navegantes e convive com o Shopping DC NAVEGANTES que ocupou os prédios das fábricas Renner
  

FONTE IMPRESSA

LAYTANO, Dante (1908-2000) Festa de Nossa Senhora dos Navegantes: estudo de uma tradição das populações Afro-Brasileiras de Porto Alegre – Curitiba: Instituto Brasileiro de Educação e Ciência I.B.E.C.C. vol 6  1955 – 128 p.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

ASTARTÉ

BUCENTAURO  de VENEZA

DANTE LAYTANO

GALEOTA de OURO de DONA MARIA I de PORTUGAL

MUSEU das ÁGUAS de PORTO ALEGRE

NOSSO SENHOR dos NAVEGANTES da BAHIA
A Galeota

PORTOA ALEGRE PROCISSÂO FLUVIAL dos NAVEGANTES em 1930
http://ronaldofotografia.blogspot.com.br/2010/07/vista-aerea-do-cais-do-porto-em-1930.html

SOCIEDADE VENEZIANOS de PORTO ALEGRE

Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários
Este material é editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a formação histórica deste idioma.  http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/

e-mail do autor ciriosimon@cpovo.net


PRODUÇÃO NUMÉRICA DIGITAL no
 blog : 1ª geração – ARTE - SUMARIO  do 4º ANO

  blog : 1ª geração - FAMÍLIA SIMON

3º  blog :  1ª geração
SUMÁRIO do 1º ANO de postagens do blog
NÃO FOI no GRITO

  blog de 5ª geração + site
a partir de 24.01.2013 :PODER ORIGINÀRIO
  blog de 5ª geração + site  http://prof-cirio-simon.webnode.com/

Site (desde 2008)  www.ciriosimon.pro.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário