sexta-feira, 22 de novembro de 2013

075 – ISTO é ARTE

A ARTE de AGIR SEM AGIR

Toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
Aristóteles (1973: 243 114a 10 )

Artistas, filósofos, cientistas, religiosos e políticos praticaram a ARTE sobre humana do AGIR sem AGIR e continuam a praticar este paradoxo. Os grandes ícones da humanidade sempre expressaram, em todos os tempos, formas renovadas de AGIR sem AGIR. Para perceber esta difícil ARTE basta percorrer algumas biografias. Estas biografias evidenciam a continuidade deste projeto em Mahatma Gandhi (Mohandas Karamchand Gandhi), em Leonardo da Vinci, em Maomé, em Cristo, em Sócrates, em Buda ou em Lao-Tse entre  tantos outros. 
O seu aparente paradoxal AGIR sem AGIR não é inanição, entropia ou uma força da Natureza. O AGIR sem AGIR constitui uma árdua conquista de algo que potencialmente está ao alcance de todos.  Destas figuras que cultivaram o AGIR sem AGIR emanava uma energia que se transforma em ação coletiva. Energia que, em pleno século XXI, ainda move civilizações inteiras.  Sintonia fina que imanta milhões de seres humanos. Multidões que se identificam com este AGIR sem AGIR.  AGIR sem AGIR que imanta e impulsiona as energias brutas e as impulsiona para formas civilizadas. Multidões imantadas e competentes para ultrapassar aquilo que a Natureza lhes impõe  - como ao restante dos reinos vivo e inanimado - mas que esta energia do AGIR sem AGIR transfigura em civilização. Vidas e civilizações que já possuem este desígnio primordial como o possuem as narrativas das suas biografias, no dizer de Marc Bloch.


Fig 01 – A deusa Atenas enfrentando o turbulento Netuno  AGE como  uma sagaz orientadora ao apontar a oliveira como a sua fonte continuada da agricultura, indústria e comércio sem falar do alimento e bálsamo  para as feridas representado pelo azeite. Este projeto supera pela inteligência e sabedoria   muito  mais  do que  consegue a força bruta dos deuses ou do humanos.
A silenciosa Atenas venceu os barulhentos deuses do Olimpo  que, na mitologia grega, se candidatavam com raios, trovões e berros a serem os titulares e protetores da cidade. A deusa, nascida da inteligência de Zeus, apresentou uma muda de oliveira como argumento a seu favor e dizer uma palavra. O atenienses compreenderam a mensagem e com o azeite e as olivas tornam a sua cidade um exemplo  para o mundo.


DAVID Jaques Louis  1748-1825 - A morte de Sócrates  -  óleo em  1787  mede 130 x 196  cm  Museu Metropolitanp NY
Fig 02 – Sócrates foi o grande mestre da ARTE da atenção fina e continuada ao nascimento, ao desenvolvimento e à reprodução da Inteligência humana por meio de maiêutica. Levou esta ARTE até as últimas consequências a um ser humano. O seu AGIR sem AGIR desesperou os seus juízes que o condenaram à ingerir a cicuta mortal.  Estes juízes alegavam a corrupção da juventude. Corrupçao que era de fato o perigo que representa uma inteligência e uma sabedoria que encontra meio  próprios par se evadir da escravidão coletiva e da colonização das mentes das  novas gerações com antigas e obsoletas formas de civilização. A simples sugestão deste caminho da liberdade consegue muito mais  do que a força bruta dos deuses ou dos humanos.

Toda obra que pretende ser de Arte - se for incapaz sua origem de demonstrar no pensamento ao seu observador - ela remetida ao mundo do artesanato, da obsolescência. O trabalho do fazer pelo fazer - carente de um pensamento único e original - está destina e perecer no lixo descartado pelo consumo.
A simplicidade e a coerência com os seus próprios meios permite esta transparência das ideias de sua origem. Assim o observador não se distrai com artifícios que não pertencem à natureza formal da obra nem ao conceito. A sobrecarga formal ou conceitual poderá divertir num primeiro momento. Porém quando estas necessidades lúdicas abandonarem os seus praticantes e observadores será apenas ruído que remete os brinquedos velhos para o mundo do descarte.


Fig 03 – A obra Mona Lisa é constituída pelo mínimo das formas materiais. Estas são competentes para serem índices suficientes para materializar a mente do artista aos sentidos humanos. Material que revela o imenso e original mundo mental de Leonardo da Vinci. Este foi plenamente competente para unir mente e a matéria do quadro. Competência comprovada para unir a matéria dos pigmentos sobre uma superfície ao projeto de que “uma pintura é uma obra mental”. Pintura que dispensou o traço da linha. A obra Mona Lisa é constituída por milhões de pontos que geram mundos de luzes e de sombras que constroem a figura da modelo.
Clique sobre imagem e busque alguma linha, desenho ou traço

Uma obra como a Mona Lisa poderá não agradar um repertório infantil. Repertório e reduzido ao fazer e ao reagir a estímulos primários e ao condicionamento de percepções, de juízos e comportamentos próximos das espécies vivas que se regulam pelo comando da Natureza. O sentido de uma obra destas só se revela  na sua passagem pelo tempo, por gerações sucessivas e por repertórios tão variados como a ocidental e oriental. Sentido testado por milhares de outras mãos de artistas guiadas pela sua capacidade de formar na sua mente um projeto. Projeto que necessita exercer a ascese para AGIREM sem AGIREM no âmbito de milhões de escolhas. Escolhas que necessitam deixar fora da obra definitiva tudo aquilo que poderia comprometer a sua coerência entre a matéria sensível e o pensamento que comanda o projeto.

Fig 04 –  Com os braços cruzados e inativos e com o cérebro em plena função o artista norte-americano John Cage praticou até os  limites a ARTE de AGIR sem AGIR. Depois e passar das fontes orientais da filosofia do AGIR sem AGIR criou obras musicais capazes de dar corpo este principio. Nela o artista percebe que no centro da Arte da Música encontra-se a passagem do Tempo em movimento. Assim a sua peça 4’33’resume-se no silêncio absoluto ao longo de quatro minutos e trinta e três segundos sem qualquer som u nota musical ou de qualquer instrumento musical

Platão nos ensina (in 1985, 2º vol, 221) que existem três camas. Uma é a cama única, concreta e física que possui todas as dimensões dos sentidos humanos. A outra é aquela que é da imagem. A terceira é aquela que está no dicionário. A primeira é do pensamento concreto do aqui e do agora. A segunda corresponde concepções do “homo faber”, e que poder ser multiplicada e modificada ao infinito pelo sistema fabril. A terceira domina as duas anteriores e cujo conceito serve para todas as camas possíveis e improváveis. O AGIR sem AGIR pertence a este último universo mental. Universo mental que é inteiramente competente para  irromper nos dois estágios anteriores e modificá-los completa e definitivamente.


Fig 05 – A longa e atenta observação das formas plásticas que os seres vivas tomam nas piores condições do terreno rochosos  para viver e se reproduzir, realizada pelo escultor Francisco STOCKINGER (1919 -2009) serviu a este artista de orientação nas escolhas dos materiais, das formas plásticas e daquilo que ele poderia transmitir ao seu observador. Apesar de privado da audição o “XICO” animava as suas esculturas, os seus desenhos e as suas sábias e ponderadas intervenções com o seu saber do AGIR sem AGIR.


A artista e professora Christina Hellfensteller BALBÃO (1917-2007) afirmava que o mundo atual está atulhado e saturado de objetos destinados ao consumo, à obsolescência e ao lixo. Coerente com esta verificação enveredava pelo AGIR sem AGIR. Expressava e justificava esta sua vereda que não iria colaborar neste entulho criando mais objetos. O seu AGIR sem AGIR é relembrado pelos seus estudantes. Estudantes de todas as idades, tendências estéticas e repertórios que eram tocados e sensibilizados pelas suas sábias e oportunas observações. O seu AGIR sem AGIR se aproximava da maiêutica socrática. AGIR sem AGIR que se traduzia para aqueles que a queriam ou a podiam ouvir e receber dela uma orientação. Orientações para perceber, configurar e sair de eventuais bloqueios, de percepção de reais problemas estéticos e ou ainda orientar-se na política cultural concreta do seu ambiente.


Fig 06 –  A mestra Christina Hellfensteller Balbão (1ª a esquerda) exercendo função de colocar o cérebro, o coração e sensibilidade  a favor da ARTE no seu  AGIR sem AGIR no magistério e na sua mediação no mundo da Arte .  Christina interagiu com o seu saber, suas práticas, os seus juízos compreensivos e sempre construtivos, colocando-os ao alcance de quem a queria ouvir e seguir mesmo depois e muito além de sua sala de  aula. O AGIR sem AGIR não conhece fim de semanas, férias, ou aposentadoria.

Assim o “AGIR sem AGIR” não é inanição, entropia ou uma força da Natureza. Esta atitude resulta de árdua conquista humana. Conquista de algo que está ao alcance de todos. Entendimento do “sobre-humano” de Nietzsche ou o “ENTE no SER” de Heidegger. Entendimento de Aristóteles quando afirma que “toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”. Esta arte se projeta para além do tempo do seu autor na medida em que considerarmos Le Corbusier quando afirma (in Boesiger, 1970, p.168) que “nada é transmissível a não ser o pensamento. Porém sempre atentos à concepção de Kant em relação “valor moral resultante da autonomia da vontade” de quem “AGE sem AGIR” e não singela inanição, entropia ou força irrestível da Natureza.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.

BLOCH, Marc (1886-1944) . Introdução à História [3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa: Europa- América  1976  179 p.

BOESIGER, Willy .  Le Corbusier Les Derniers  œuvres  Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, , v.8,  208
KANT, Emmanuel (1742-1804). Crítica da razão prática. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.  255p.

NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900)  Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.
     
PLATÃO ( 427-347) – A REPÚBLICA – Tradução di J. Guinsburg  2º volume . São Paulo : Difusão Européia do Livro, 1985, 281 p.


FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
LAO TZÈ

ATENAS VENCE com A OLIVEIRA
http://www.obagastronomia.com.br/os-deuses-e-o-azeite/

QUANDO O SOM e a PALAVRA se tornam INUTEIS e até ESTORVAM:
Um DIALOGO SILENCIOSO  entre  MIGUEL ÂNGELO (1475-1564) e  MIGUELÂNGELO ANTONIONI (1912-2007)
 Diretores e fotógrafos tinham de serem mais criativos com um filme mudo e se esforçarem mais: de luz, sombras, formas e imagens em 17 minutos de movimento  (2004).

A peça e performance da obra 4’33’’ de John Cage como expressão do tem em movimente sem feri-lo.

PAULO PERES – o ENTE no SER
Toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.Aristóteles[1](1973: 243114a 10)


[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.

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