sexta-feira, 26 de outubro de 2012

ISTO é ARTE - 051



EMÍLIO SESSA
um
olhar italiano no Rio Grande do Sul. 

Fig. 01 – O apoio financeiro da Caixa Econômica Federal  sublinha,  confere um suporte digno à obra do artista Emílio Sessa. Tal apoio  transcende, em muito,  um mote de propaganda e marketing empresarial. Nesta elevada transcendência este apoio sustenta um projeto civilizatório compensador a mais elevada possível. Projeto civilizatório compensador da qual este artista foi a semente depois de passar pela destruição de sua pátria que este entregues ao um tresloucado marketing e propaganda tresloucados e muito longe de tudo o que é civilizado

Este blog teve oportunidade de registrar, no dia 30 de outubro de 2009, a efeméride do 1º aniversário do Instituto Cultural Emílio Sessa (ICES). Registra-se agora, três anos depois, o lançamento de primorosa obra impressa como resultado entre os muitos resultantes da ação continuada desta valorosa equipe.

Doberstein, 2012 , capa -detalhe
Fig. 02 – O lançamento oficial do livro  “Emilio Sessa – primeiro tempo”,  no dia 29 de outubro de 2012, as 19h00, no dito “Palacinho” de Porto Alegre, é mais um mérito do trabalho de grupo do ICES A obra gráfica que materializa uma aula de objetividade, narrativas coerentes e uma produção gráfica a altura do esmero, cuidado e bom gosto do biografado.  A mensagem dsta obra material é reforçada pelo mundo virtual de um site, de um blog e um boletim em permanente movimento e atualização..

O enfoque deste blog é mais institucional. O artista Emílio Sessa já se encontra fisicamente em outra dimensão. Porém, os seus pensamentos e as suas obras permanecem e carregam o máximo deste artista no mínimo de sua frágil forma. Além de entregues à uma cultura como a nossa, carente de soluções mínimas de necessidades humanas básicas, as obras e o pensamento do mestre correm duplo perigo numa cultura entrópica. Nestas circunstâncias o trabalho institucional torna-se crucial, urgente e produtivo para a obra de Arte e para a memória da vida dos seus autores. Nesta direção o ICES esta tratando de reunir, estudar catalogar e divulgar a obra e pensamento plástico de Emílio Sessa para um novo mundo de observadores e desafiado por esta dupla urgência e fragilidade.

Doberstein, 2012 , p.147
Fig. 03 – Emilio Sessa, a sua família,  como os seus colegas da Missão Artística, estavam impregnados da cultura italiana. Nesta singularidade cultivavam a competência construída ao redor do projeto peninsular  continuado, renovado e reproduzido nos variados locais, climas e tempos em tendências coerentes. A tecnologia foi humanizada,  pela cultura italiana, através de todos os tempos e lugares. Humanização proporcional ao ambiente cultural e ecológico e  expresso na música, na moda, na mesa, nos objetos, nas ferramentas de trabalho e de lazer como a Lambreta pilotada pelo artista Emílio Sessa com os filhos na carona.

Trata-se do olhar neutral de estrangeiro de Emílio Sessa e da forma como ele orientou os olhares e orientou o pensamento local. Olhar que continua a frutificar, quase duas décadas, no local onde trabalhou num  profícuo labor no auge de sua vida somática e mental. O seu olhar civilizado, esteticamente carregado do melhor que a Itália produzia contribuiu e orientou aquilo que ele trouxe como uma semente para ativar uma nova civilização no Rio Grande do Sul. A reprodução deste olhar fecundo está entregue, agora, aos companheiros do Instituto, que leva o seu nome e no qual se perfila um dos seus filhos. O livro é uma prova material e qualificada desta fecundidade do mestre italiano na cultura sul-rio-grandense.

Doberstein, 2012 , p.33 - detalhe
Fig. 04 – Os artistas Aldo Locatelli, Atílio Pisoni e Emílio Sessa trabalhando juntos no mural do Aeroporto de Porto Alegre. Ao modo da Missão Artística Francesa, vinda ao Brasil em 1816 e depois de debacle do Império Napoleônico  pode-se falar de Missão Artística Italiana no Rio Grande do Sul após o debacle da II Guerra Mundial. Ambas as Missões trabalharam em obras públicas e particulares
Na foto esta Missão os três estão junto a um mural  temática da aviação que celebra os seus precursores, trabalhadores, potencialidades  e riscos. Esta equipe  estava desenvolvendo um tema de um modo transporte  que os seus membros usavam  frequentemente nos seus deslocamentos no imenso território brasileiros e nas suas conexões com a sua pátria de origem. Porém o ambiente cultural não forneceu todos os elementos necessários para assegurar o pleno desenvolvimento do potencial de um projeto destes e dos seus agentes.  Muito menos a cultura local permitia a reprodução institucional autônoma desta Missão Artística Italiana no Rio Grande do Sul.

A neutralidade do olhar estrangeiro lhe confere autoridade na concepção de Georg Simmel. O primeiro olhar sobre o Novo Mundo foi de um italiano bem como daquele que teve a autoridade reconhecida para conferir-lhe o nome de América. Na senda aberta - por estes dois olhares pioneiros - milhões de compatriotas atravessaram o Atlântico. Aqui ajudaram a projetar, erguer e desenvolver as bases de uma nova civilização apesar de culturas milenares fundarem e desenvolverem  aqui portentosas civilizações, antes dos europeus chegar.
No Brasil não foi diferente. No Rio Grande do Sul a massiva imigração de 1875 foi precedida e continuada por outras levas e milhares de agentes avulsos. Evidente a Península itálica é um mosaico de culturas e que estes migrantes receberam, no RS, arbitrariamente uma unidade que não possuem de fato na sua origem e apenas unificada em 1870. O mesmo reducionismo local pode ser apontado em relação aos eslavos, alemães, espanhóis, orientais e mesmo lusitanos. Uma nova pátria, nação e Estado, mesmo o brasileiro,  exerce este pedágio no rumo da sua própria unidade.

Achutti, 2005 , foto - detalhe
Fig. 05 – Na obra, reproduzida acima, é possível perceber elementos do padrão infinito islâmico, do ícone bizantino e, de forma decisiva e coerente, a humanização figurativa das mensagens sacras dos textos bíblicos na ampla e complexa tradição europeia. Esta coerência é mérito tanto de Emílio Sessa, o projetista e realizador  desta obra, da Missão Artística Italiana integrava por ele e de quem realizou o  contrato, sustentou e manteve para que esta obra chegasse ao nosso tempo

Emílio Sessa (*10.08.1913 - †02,02.1990)  trouxe o olhar e a cultura  italiana ao  Rio Grande do Sul e aqui trabalhou de 1948 até 1965. Num balanço geral é possível afirmar que ele deixou aqui muito mais do que recebeu. Este capital material e imaterial contém contribuições, só no terreno das artes, mas de todo um modo de vida. Obra e vida que estão muito longe de terem o seu devido levantamento documental, o seu estudo científico, sua qualificação e o seu registo no âmbito da História Cultural sul-rio-grandense.
 A obra e a vida deste artista tiveram a fortuna de fomentar e encontrar a atenção e o trabalho inteligente do Instituto Cultural Emílio Sessa. O ICES elaborou e atualizou a compreensão da mensagem material e imaterial de Emílio Sessa e da Missão Artística Italiana, que ele integrava,  no seu trânsito no mundo.


Doberstein, 2012 , p.87
Fig. 06 – A cultura italiana e mediterrânea é o resultado de uma sedimentação continuada das mais variadas procedências e temperos. Para um olhar desavisado pode parece uma 2ª Natureza. No entanto esta cultura singular possui a competência construída ao redor do seu projeto continuado, se renovar e de se reproduzir nos variados locais, climas e tempos em tendências estéticas, tornando-as coerentes com o seu tempo.

Evidente que a a vida e a obra Emílio Sessa necessita ser estudado no contexto das ondas culturais italianas que tiveram como meta as plagas e serranias do Rio Grande do Sul. Ondas culturais movidas, sustentadas e amalgamadas pelas energias da música popular de cada época, da indústria cultural dos audiovisuais, das letras, do design de moda e da indústria, sem esquecer a orquestração superior da semiótica e das universidades italianas.
Entre os artistas plásticos Rio Grande do Sul, natos italianos, originários ou que exerceram as suas atividades aqui e lá, além dos três já nomeados, há um número expressivo. Num apanhado sumário pode-se arrolar os nomes mais divulgados,  como os de BELLANCA, Francisco (1895 – 1974), BRASANELLI José (1659- 1728) CALEGARI, Virgilio (1868-1935) CARINGI, Antônio (1905-1981) COLIVA, Oreste DE MARTINO, Eduardo (1838 - 1912)  FONTANIVE, Ângelo,  FRANCESCO José de (1895-1967) FREITAS, Augusto Luis (1863 -1962) GASPARELLO, Miro (1891-1916) GAUDENZI Giuseppe  GRASSELI, Bernardo  (  -1883) GUIDO GNOCHI, Ângelo (1893  -1969) MONDIN, Guido Fernando (1921 – 2000) PERETTI, Clovis ( 1935-1995) PETRUCCI, Carlos Alberto (1919 – 2012) PITANTI,  Adriano (1837 - 1917), ZAMBELLI  Estácio Frederico ((1896-1967), ZAMBELLI Mario Cilio (1892-1948), ZAMBELLI Michelangelo (1882-1940), ZAMBELLI  Rafael (199-1918), ZAMBELLI Tarquínio (1854-1934) e ZANON Emílio Benvenuto (1920-2008), entre tantos outros.
Evidente que em todas as manifestações existem as mais diversas manifestações e mediadores ao modo daquelas do conde Tito Lívio ZAMBECCARI (1802-1862) na Revolução Farroupilha. Em todos estas manifestações percebe-se a emulação recíproca no sentido do que Bourdieu observou “o artista produz para o seu concorrente da mesma área”. Assim não é raro encontrar contradições e conflitos internos à esta emulação recíproca. Cabe aos observadores, atentos e inteligentes, transfigurar - estas contradições e estes conflitos - em complementariedades e novas energias no âmbito da História Cultural sul-rio-grandense.

Achutti, 2005 , foto - detalhe
Fig. 07 – Os temas tratados por esta Missão  Artística Italiana,  eram altamente favoráveis para  transfigurar as contradições e conflitos em complementariedades e em novas energias no âmbito da História Cultural sul-rio-grandense. Ambas se abastecem e se revigoram nas velhas e produtivas raízes simbólicas comuns tanto à cultura lusitana como a italiana.

Nenhuma civilização resulta da Natureza e por si mesma. Ela resulta de um projeto e que necessita receber muito trabalho continuado, enquanto ela deliberar e decidir manter o sentido da sua teleologia de origem. O trabalho, e o saber conectado à esta teleologia de origem, sublima esta mentalidade ao ponto de constituírem, no artista, uma segunda natureza. Projeto para o qual Miguel Ângelo sentenciou “somente o não saber é defeito” (in Holanda, 1955, p. 77)
 “o primor cuido que tereis por sumo, este é que o por que se mais há de trabalhar e suar nas obras da pintura é com grande soma de trabalho e de estudo, fazer a coisa de maneira que pareça, depois de mui trabalhada, que foi feita quase depressa e quase sem nenhum trabalho, e muito levemente, nãos sendo assim. E este é mui excelente aviso e primor (Miguel Ângelo, in Holanda, 1955, p. 82).



Doberstein, 2012 , p.44
Fig. 08 – O autorretrato do artista é uma concepção típica do Renascimento italiano e segue a lógica  da cultura clássica grega expressa por  Aristóteles (1973: 243 114a 10 ) de que “toda a arte está no que produz, e não no que é produzido [1].

Miguel Ângelo, uma das maiores expressões da Itália, como de toda a humanidade, tentou convencer, na metade do século XVI,  o jovem português Francisco de Holanda para que deixasse Portugal pela Itália onde ele teria condições favoráveis para cultivar  o seu projeto de ser artista num ambiente altamente favorável:
...” [Na Itália como] em nenhuma outra parte se acham, que já de meninos, a qualquer cousa que a vossa inclinação ou gênio se inclina, topais ante os olhos pelas ruas muita parte daquelas, e costumados sois de pequenos a terdes vistas aquelas cousas que os velhos nunca viram noutros reinos”   (Holanda, 1955, p. 22)
Certamente, naquele ano de 1540, o mestre tinha sobradas razões em tentar abrigar o seu jovem observador no útero materno da cultura italiana. O mundo estava ingressando e se debatendo numa profunda crise. Crise visível na sua ruptura europeia em duas concepções antagônicas, que mantinham precárias e controladas comunicações entre si mesmos.



[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
Lagemann, 2010 , p.90
Fig. 09 –  A obra do “Negrinho do Pastoreio na Glória”,  mergulha as suas raízes e repertório na cultura sul-rio-grandense. Cultura que atingira dimensões universais nas Letras com a obra de Simões Lopes lançada em 1912.. Num dos pontos fulcrais da política oficial do Estado do Rio Grande do Sul recebeu interpretações exemplares por Aldo Locatelli. Interpretação integrada, sublinhada e ambientada esteticamente pela obra de Emílio Sessa sem precisar renunciar ou sacrificar as competências e limites desta Missão Artística Italiana.

No entanto Aldo Locatelli, já não desejava esta escolha radical e deslocamento físico e inclusive mental para um útero fechado e seguro. O colega de Emílio Sessa, ao contrário de Miguel Ângelo, defendia a abertura ao mundo contemporâneo, como expressou, em 1962 ao final da sua vida física e tese:
“O Brasil, o nosso mesmo Rio Grande do Sul tão pródigo em vocações artísticas, vivem internacionalmente no mesmo valor de Paris, Roma, Tóquio, Nova York e de Moscou. Estamos errados se pensamos que os centros de maior tradição e movimento artístico devem ser os nossos guias, absorvendo-nos com teorias resultantes de ambientes bem diferentes e preocupados de não repetir-se nos exemplos de uma grande tradição. Ao contrário, nós vivemos no princípio da nossa formação de civilização e devemos tentar expressá-la nos nossos próprios valores”
 Na metade do século XX o pensamento da Aldo Locatelli já se encontrava conectado ao âmbito planetário, não só pela rede mundial, mas se abrindo para a época do ócio criativode Di Masi, formando e construindo uma escola (lugar do ócio) e uma única aldeia global.
No entanto esta conexão não anula a primeira preocupação do pintor da Capela Sistina e exposta acima como a “grande soma de trabalho e de estudo”. Bem ao contrário esta mentalidade - sempre presente em Locatelli e nos seus colegas italianos - era destinada ao seu potente e refinado trabalho físico, constituindo-se como guia todas as suas energias. Mentalidade e trabalho coerentes com ética enunciada por Espinosa como os espíritos não se vencem pela violência, mas pelo amor e pela generosidade” ou Animi tamen non armis sed amore et generositate vincuntur”. [Espinosa, Ethica 4.11] Mentalidade presente ao promover mais um passo e uma obra, neste duplo esforço, no caminho de um projeto civilizatório compensador de toda violência.
É necessário sublinhar que nenhum dos membros da Missão Artística Italiana, nas suas obras, entregou-se à temática de batalhas, representações de triunfos gratuitos ou em apresentar qualquer exaltação de qualquer tipo de violência física, econômica ou mental. Antes ao contrário nas obras e nas imagens que Emílio Sessa e seus colegas criavam, eles sempre se colocaram solidários ao lado das vítimas de todas as formas de violência. Esta exaltação, e busca de reparação das vitimas do sistema, pode ser encontrada nas mais variadas obras desta equipe. Uma delas é a legenda do Negrinho Pastoreio - tema de uma autêntica via sacra leiga - pintada no Palácio Piratini.
Fig. 10 – É necessário saudar este momento em que uma obra de Arte de Emílio Sessa migra do espaço individual e familiar para o âmbito de uma instituição pública do maior prestígio possível ao nosso meio. Prestígio institucional resultante do trabalho denodado de artistas, apoiadores, observadores e direções ilustradas e trabalhadores desinteressados.  Projeto civilizatório compensador da qual este artista foi a semente depois de passar pela destruição de sua pátria que este entregues ao um tresloucado marketing e propaganda tresloucados e muito longe de tudo o que é civilizado

Na síntese pode-se afirmar que o olhar neutral do estrangeiro Emílio Sessa frutificou, continuando a se reproduzir e atualizar. Olhar que continua operante no lugar onde ele passou quase duas décadas e dispendeu profícuo labor no auge de sua vida somática e mental. Contribuíram para esta fortuna, o seu olhar civilizado, esteticamente carregado do melhor que a Itália produzia e contribuiu para a civilização. A reprodução, deste olhar fecundo, está agora entregue ao seu filho e aos companheiros do Instituto que leva o seu nome. O livro é uma prova material e qualificada desta fecundidade, entre nós, do mestre italiano.
Conclui-se com cumprimentos pela atenção e pela inteligência dos membros do Instituto Cultural Emílio Sessa, entregues, de corpo e de alma, ao trabalho de encontrar, estudar, guardar e divulgar a obra deste artista e dos seus colegas, gerando observadores novos e qualificados. Se Emílio Sessa e os seus colegas da Missão Artística Italiana não puderam providenciar pessoalmente a reprodução do seu projeto, o ICES constitui esta reprodução e atualização desta Missão.  O que permanece é o pensamento. Este possui o germe da reprodução na obra física, como deste livro. Obra entregue aos apreciadores e estudiosos de Emílio Sessa e da Missão Artística Italiana dos seus  colegas no Rio Grande do Sul.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
DOBERSTEIN Arnoldo W. et ali. Emílio Sessa (1913–1990) Emílio, pintor, primeiros tempos . Porto Alegre :  Gastal & Gastal, 2012 160 p.; il. color.
HOLANDA, Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga. Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p.
LAGEMANN Eugênio et ali - Palácio Piratini  - Porto Alegre : IEL 2010 144 p il col.

LOCATELLI Aldo Danielle (*18 08.1915. 03.09.1962) MURAL: ANÁLISE , CONSIDERAÇÕES, MÉTODO E PENSAMENTOS   Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume X, ano V, no 232 Porto Alegre : Companhia Caldas Junior 22 07 1972  (Tese de concurso para o provimento efetivo da cadeira de composição decorativa dos cursos de pintura e escultura do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, 1962)

SIMMEL, Georg (*01.03.1858- - 28.09.1918)  Sociología y estudios sobre las formas de socialización. Madrid :  Alianza. 1986,  817 p.  2v

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
BRASANELLI José (*Milão1659 - †Missão Candelária RS-1728)
Instituto Cultural Emílio Sessa (ICES) - site

EMÍLIO SESSA: no presente blog

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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ISTO é ARTE - 050


O MAIS INÚTIL dos TEMERÁRIOS
A arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre-passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário (Nietzsche  2000, p.134)

FRANCISCO de HOLANDA 1517-1585 ilustração com auto-retrato
Fig. 01 – O artista trava luta permanente na construção de sua obra e trabalha para que esta supere o seu tempo e o seu lugar. Porém as necessidades básicas e imediatas, associadas á ignorância do seu meio, destroem e consomem a  inteligência, a vontade e o direito do artista. Esta destruição e consumo são representados por Francisco de Holanda, pelo cão que ladra, morde e tenta aniquilar esta obra deste artista e teórico lusitano.

Estamos a caminho de uma civilização quando a Arte e o trabalho buscam harmonizar-se e conviver para a sobrevivência de uma determinada sociedade.
Numa determinada civilização todas as profissões exigem dos seus praticantes doar-se mais do que recebem de uma sociedade. Este é papel de toda criatura humana adulta. Além de garantir a sua própria sobrevivência, uma criatura humana necessita reproduzir-se e manter a sua prole até ela possa tomar o seu rumo próprio e recomeçar o ciclo. 


Fig. 02 - Esta obra do ativista político Bansky  mostra as rigorosas escolhas que este artista necessita fazer com os  poucos elementos sensíveis e coerentes de sua obra despojada e direta para atingir com os seus observadores. A gratuidade da vida e os caminhos imprevisíveis do amor correspondem à Arte quando existe uma coerência interna expressa e eternizada numa obra que realiza a proeza de realizar uma medição eficiente entre as intenções do autor da obra e a sua recepção. A Arte lança mão de códigos universais aos sentidos e percepções humanas. Ela se distingue da Comunicação que se vale e necessita de códigos lineares, fixos e unívocos que dependem de convenções previamente contratados entre o emissor e receptor..


Toda obra de ARTE possui este projeto da construção da sua identidade própria, da sua reprodução exitosa e  do seu pertencimento e inclusão numa série histórica coerente com o seu tempo e seu lugar.
O artista sobreviveu nesta relação tanto no escambo dos seus serviços estéticos simbólicos como pelas retribuições pecuniárias em sistemas monetaristas. Evidente que existem lugares e tempos mais ou menos favoráveis a este projeto civilizatório.  
Caracterizando o seu próprio lugar e o seu tempo Miguel Ângelo falou (Holanda, 1955, p. 22.) ao jovem português Francisco de Holanda tendo fazer com deixasse Portugal pela Itália
...”nasceis na província [Na Itália..] ..  que é mãe e conservadora de todas as ciências e disciplinas, entre tantas relíquias dos vossos antigos, que em nenhuma outra parte se acham, que já de meninos, a qualquer cousa que a vossa inclinação ou gênio se inclina, topais ante os olhos pelas ruas muita parte daquelas, e costumados sois de pequenos a terdes vistas aquelas cousas que os velhos nunca viram noutros reinos”   

Fig. 03 – A indústria cultural insiste em mostrar as obras de Miguel Ângelo como modelares. Estas são coerentes, de fato, entre Ente humano situado na culminância do Renascimento Italiano. Porém elas pereceriam pela entropia e pela obsolescência de sua época e local, se não fossem índices do universo mental deste criador. O universo mental de Miguel Ângelo, alimentou-se na obra de Platão e daqueles que o cultivavam ao seu redor. De outra parte ele era cidadão de Florença, cujo esplendor dependia da inteligência e da diligência no trabalho com os bens simbólicos que seus comerciantes e banqueiros souberam acumular e defender no interior dos muros desta pequena República. Comerciantes e banqueiros que sabiam que o poder monetário também fluía como o seu poder político. A Arte salvou o que de melhor se produziu nesta cidade estado.

Evidente que a cidade, a cultura e o meio são educadores subliminares e eficientes. Nos locais onde isto não aconteceu ainda a preparação universitária do artista supre parcialmente esta carência. Nestes locais - de cultura dominada ainda pela Natureza - existe a necessidade de redobrar e preparar o estudante de Arte para o seu retorno e ação civilizatório no seu meio entrópico. Meio no qual a Arte ainda é artigo de luxo e de rara excepcionalidade. Assim é duplamente exigente a preparação para lidar com as forças intrínsecas da Arte. Nesta duplicidade o trabalho intelectual e físico nesta busca de interação produtiva do que a educação técnica.

Fig. 04 - O atelier do artista e ativista político Bansky  projeta os seus grafitos. O caos visível no seu atelier mostra a multiplicidade dos caminhos, das estéticas obras alheias entre as quais o artista necessita escolher os seus poucos elementos sensíveis com o objetivo de manter a coerência de sua obra despojada e direta a ser mostrada aos seus observadores.

Nunca foi fácil suprir as necessidades básicas da auto sustentação econômica por meio dos ofícios profissionais. Passada a infância uma profissão significa a possibilidade, e a necessidade, de retribuir mais do que recebeu da sociedade ao qual o artista pertence. A mãe previdente já avisava: “meu filho não faça artes..” para que a sua criança fosse competente para doar mais do que recebeu.

ART DUBAI 18-21.03.2009  Valay SHENDES
Fig. 05 - A riqueza acumulada com a exploração e comercialização do petróleo escondida sob os mantos dos seus desertos permitiram a diversos países árabes a projetar e adquirir obras de Arte e criar portentosas instituições a altura dos prédios que estão construindo. Estas obras e acúmulos de capitais se valeram das obras de arte dos ocidentais para um intercâmbio produtivo e civilizado.
  
Como o ser adulto é aquele que sabe dar mais do que recebeu ele enfrentar um mundo de perdas a serem administradas positivamente. Neste caminho da administração de suas perdas uma  obra de Arte vence no seu caminho duas etapas preliminares importantes. A primeira é escolher e fixar-se nesta escolha calculando todas as perdas inerentes a esta escolha. A segunda é dominar ofício, pois o artista competente sabe fazer com a matéria de sua escolha o que ele quiser no âmbito da autonomia do seu projeto mental. 


Thomas Hart BENTON (1889-1975)
Fig. 06 – A cultura norte-americana buscou a sua identidade nacional nos produtos da indústria cultural onde os filmes do Far West carrearam para esta cultura não só a identidade mas verdadeiras fortunas. Fortunas, não só pelos produtos em si mesmos, mas pelo imenso halo cultural no qual muitas atividades produtivas e lucrativas puderam vender,  desde alimentos, vestuário e indústria gráfica, além de garantir uma simpatia subliminar.

A escolha voltada para as matérias coerentes com o seu aqui e agora. Assim ele produz, além da obra de Arte, documentos das suas próprias circunstâncias e da sociedade à qual pertence ainda que contrariem os objetivos imediatos do seu grupo. As cavernas de Altamira e Lascaux constituem documentos muito anteriores aos códigos escritos. A sociedade, as sua necessidades, seus medos e eventuais reprovações ao artista e a sua obra desapareceram e se calaram há muito tempo.

XUL SOLAR  VUEL VILLA (1936)  http://en.wikipedia.org/wiki/Xul_Solar
Fig. 07 -  O artista Xul Solar [ Oscar Augustin Alejandro Scgultz Solari  1887 - + 1963]  traduziu índices do Universo Fantástico que mergulha suas raízes nas mais longínquas e profundas culturas latino americanas e as joga poeticamente no presente.
  
Miguel Ângelo já identificou (Francisco de Holanda, 1955, p. 66) esta relação entre obra de Arte e os seus observadores:  
nesta nossa terra [Itália] até os que não estimam muito a pintura a pagam muito melhor que em Espanha e Portugal os que muito a festejam, por onde vos aconselho, como a filho, que não vos devíeis partir dela, por que hei medo que, não o fazendo, vos arrependereis” .
Numa civilização acumuladora de capitais mais ou menos díspares  entre a ARTE e o seu RETORNO as circunstância não são mais aquelas da cavernas, mas de ordem financeira. Para  chegar esta conclusão Miguel Ângelo contava com um ajudante português e sabia do despreparo da sociedade ibérica e da sua elite para as coisas superiores de uma civilização. O regime colonial ibérico disseminou este despreparo pelas três Américas.


Uma juventude que inquieta frequentemente” – cartaz de  05 de maio de 1968 Paris. Le Monde  - maio de 2008
Fig. 08 – A Revolução Cultural do ano de 1968 parece que não estava preparada e nem queria o movimento das mais ferozes ditaduras que se espalharam mundo afora. Reações que se aproveitaram destas manifestações até o ponto em que no qual podiam atingir e eram perigosas para o poder militar e capitalista de concentração de renda. O que todos os economistas apontam que esta concentração de 1968 está  em 2012 cada vez mais e poucas mãos e mentes.

A classe de artistas necessita unir-se e proteger-se reciprocamente diante este despreparo, ignorância e das suas consequências funestas. A melhor estratégia é esta publicidade proveniente da obra de Arte como o melhor do artista e não reduzida à propaganda ou ao marketing linear, unívoco e fixo. O puro marketing e propaganda - como os mais diversos eventos - são passageiros e nem sempre coerentes com a Arte. Tudo volta para a entropia natural e à obsolescência silenciosa, cessando este suporte artificial. Para virar esta entropia e garantir a sobrevida diante desta  obsolescência é necessário que Arte tenha consciência de si mesma e conectado com o direito que lhe garanta existência digna no interior de um projeto civilizatório compensador da violência natural. Assim não será uma peça solta a mercê daqueles que a queiram usar para os mais diversos fins.


“De retorno para a normalidade” – cartaz de 23 de maio de 1968 -  Paris  - Le Monde  - maio de 2008
Fig. 09 – Os meios audiovisuais planetários colaboram decisivamente, depois de 1968, para formar rebanhos cada vez maiores  de observadores passivos e sem a menor chance de enfrentar editorias, suportes jurídicos e aportes  massivos de capitais.  As controladoras dos meios audiovisuais planetários advertidos pela imagem do Big Brother partiram para controles com aparentes feed-back de suas ações comunicativas. Porém não há menor garantia de que sejam levados a sério. Conta apenas o número e a necessidade de inovar os seus meios subliminares e contornar ações com possíveis consequências jurídicas.

Os meios de comunicação de massa só funcionam ao rebaixar o seu vocabulário, sua mensagem e a sua estética para que uma criança com idade mental de 12 anos possa recebê-los, entender e se motivar a continuar a receber esta mensagem. Por enquanto só em Goiás temos ainda 7 milhões de habitantes que não sabem ler e nem escrever. Analfabeto não põe a mão no bolso para pagar algo que não corresponde ao seu repertório e gosto.


Fig. 10 – Marcel Duchamp foi um artista  coerente em evitar a indústria cultural, encontrou meios alternativos e novos meios para a sua obra como aquela que ele denominou “a noiva despida pelos seus pretendentes”.  Preferiu viver e ganhar a sua subsistência física por meio das suas aulas de francês dadas aos norte-americanos e da sua capacidade de jogar xadrez. Estava ciente e atento às limitações e da heteronímia que significava para ele e sua obra o SISTEMA de ARTES, montado pacientemente pela indústria cultural para colocar na sua dependência tanto para o produtor como o observador da obra de Arte autêntica,

Uma Estética obsoleta é testada na sua possibilidade intrínseca de realizar rupturas epistêmicas. Nesta ruptura potencialmente pode escolher aquilo que ainda faz sentido para o artista e o seu meio. A parir dali elaborar uma obra nova e coerente com as suas circunstâncias. Picasso praticou isto ao longo de toda a sua carreira. Porém esta sua prática das “releituras” virou simples modismo e produção de obras de sentido vulgar.

Fig. 11 – A obra de John Cage (1912-1992) seguiu pelo mesmo caminho de autonomia do que aquela de Marcel Duchamp. Ancorado na profunda cultura oriental reconduziu sua obra musical para recuperar o silêncio, o tempo necessário para apreciar esta Arte. A sua obra musical inspirada nos ritmo e os ruídos que acompanha uma ação na cozinha. http://www.youtube.com/watch?v=63HoYXUeUTA&feature=related
Evidente era gratuita e temerária como a Vida e a Arte.

O estudante ao se preparar tecnicamente,  também examina todos os meios pelos quais ele, ou ela, teria de entender o seu lugar na civilização e especialmente na sociedade concreta e real na qual se encontra e busca expressar por meio de sua obra de Arte. Se chegasse à conclusão de que ele, ou ela, era competente intelectual e emocionalmente para realizar a cada dia com uma ruptura epistêmica consigo e com a cultura que recebeu, só continua nesta doação do que de melhor a humana cria e reinventa em cada época. Para esta tarefa ele tinha quatro ou cinco anos para chegar a uma conclusão única e pessoal. A capacidade de criar obras coerentes com seu tempo e lugar e a fortuna de sua recepção é uma construção artificial. Terá êxito na medida da teleologia imanente no seu projeto original. A Natureza dada é um suporte necessário, mas ela não possui nada por dentrocomo sentenciava o poeta Fernando Pessoa ( LI HOJE).


Keith HARING (*1958 - ) Desenho Colorido http://en.wikipedia.org/wiki/Keith_Haring
Fig. 12 – Os signos da indústria cultural - e os meios de que ela se vale - abriram espaço para obras de Keith Haring. No meio caminho entre os signos da Comunicação e os elementos gráficos que continuam a tradição de Giotto - da tinta e pincel sobre uma superfície - este artista norte-americano cria um alegre universo de pictogramas que o aproxima das maiores tradições do pictogramas da cavernas pré-históricas, presentes na origem das mais variadas culturas.
Aqueles entregues ao puro marketing e propaganda - como os mais diversos eventos, encerram-se num estreito campo conceitual. A partir deste campo  dão tiros para todos os lados, para acertar, com o seu pensamento único em algum descuidado curiango camuflado que por engano passa pela sua mira linear ou cai morto aos seus pés onipotentes.

Fig. 13- A obra de RICHART HAMILTON (1922-2011) “Retrato de mulher como artista” (2007) continua deste considerado como o primeiro artista da Arte Pop.

Contra estes imediatistas ergue-se o projeto daqueles que sabem e encontram os meios para doar-se mais do que recebem de uma sociedade. Como criatura humana adulta e harmoniosa e coerentemente desenvolvidas garantem a sua própria sobrevivência, reproduzem-se e mantem a sua prole até esta também possa tomar o seu rumo próprio e recomeçar o ciclo. Enquanto os cães ladram,  mordem e tentam destruir a obra como aquela de Francisco de Holanda (Fig.01)

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
HOLANDA, Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga. Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p. http://marcasdasciencias.fc.ul.pt/pagina/fichas/sujeitos/dominio?id=565

NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900)  Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179 p.      

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.

BANSKY – Grafiteiro

F ALA do PRESIDENTE do URUGUAI

Fernando PESSOA – LI HOJE

FRANCISCO de HOLLANDA (1517 - 1585)
obras:


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