sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ISTO é ARTE - 042



O GRUPO VÉRTICE 
no Movimento Associativo nas Artes Visuais de Porto Alegre e a busca da profissionalização.

O Ente no Ser   
Martin Heidegger (1889-1976)

Fig. 01 - Analino ZORZI - História de uma semente nº 15  - 1990 -acrílico - 100 x 70 cm.

O texto do   Manifesto do Grupo Vértice  será o objeto da presente  postagem. Um grupo de artes visuais vive e se movimenta entre dois polos opostos. De um lado o polo do pertencimento, do trabalho em comum e a necessidade de constituir observadores. No polo oposto a necessidade do trabalho individual e ter uma obra única e original.
O Grupo Vértice foi um momento de pertencimento de pessoas existencialmente ligadas à Arte. Cada uma dessas pessoas construiu a sua obra única antes e depois deste pertencimento.
O Grupo Vértice não teve presidente, tesoureiro e muito menos um estatuto ou regimento. Ao longo de dois anos houve a busca do pertencimento ao grupo sem depender de um outro projeto para durar por tempo indeterminado.
Este momento situa-se dez anos depois do início da Abertura Política Brasileira e antes da Bienal do MERCOSUL.

Fig. 02 – Pierry SCHULTZ auto retrato - 1990
 O criador do mundo das artes visuais é um ser que enfrenta solitário o mundo e o seu próprio interior. Nesta dupla solidão ele constrói a coerência entre o seu mundo mental e o mundo físico da sua obra. Afinal uma pintura continua sendo uma obra mental conforme estabeleceu Leonardo da Vinci. A explosão solitária deste mundo de um indivíduo continua sendo o desafio de Marcel Duchamp[1].
 “E sobre a aparência, eu estaria tentado dizer sob o disfarce, de um membro da raça humana, o indivíduo está só e, como um fato, é único. As características comuns a todos os indivíduos tomados em massa não possuem nenhuma relação com a explosão solitária de um indivíduo entregue a si mesmo”.
No contraponto desta explosão solitária deste artista, ou do seu mundo mental, só fazem sentido se ele tiver garantias da recepção de sua obra. Mesmo que esta “recepção seja aquela formada pelos seus concorrentes”,  como quer Pierre Bourdieu. Explosão ou mundo mental solitário, retornam para a Natureza, regida pela sua implacável entropia.

O Grupo Vértice reuniu, em Porto Alegre uma série de concorrentes com as mais variadas tendências estéticas e de vida, no final da década de 1980. Cada um dos seus integrantes tinha em comum esta necessidade de encontrar observadores de sua obra singular. Isto acontecia após a Abertura Política quando surgiam, não só tendências estéticas, mas políticas e culturais e que ninguém se nomeava como mediador, e que na maioria das vezes encobria a sensor. Cada um dos integrantes deste grupo já havia realizado o seu caminho, como após estes encontros cada qual seguiu caminhos bem próprio e distintos. A pós-modernidade, por sua própria natureza, não busca mais os compromissos por tempo indeterminado e contratos perpétuos. Assim o Grupo Vértice somou energias, socializou a sua produção e cada qual foi buscar o seu próprio caminho.
Em agosto de 1990 pensavam e explicitavam o seu projeto no seu MANIFESTO exatamente em direção aos seus observadores presente ou futuros


[1] DUCHAMP, Marcel  Duchamp du signe –Escritos -  Reunidos a apresentados por Michel Sanouillet. Paris : Flammarion, 1991.
              pp. 236-239

Fig. 03 -  “VÉRTICE: o Grupo Vértice manifesta-se sobre a profissionalização do artista”  in Correio do Povo Porto Alegre , ano 95, n° 320,  p.21(toda) – Quinta-feira - 16 de agosto do e 1990

GRUPO  VÉRTICE
PESQUISA E PROJETOS CULTURAIS

O  GRUPO VÉRTICE  MANIFESTA-SE  SOBRE  A  PROFISSIONALIZAÇÃO  DO  ARTISTA[1].

O artista como sujeito de sua história
O artista e a sua produção são primordiais numa cultura situada no tempo e no espaço. A produção artística é um ato, um gesto concreto e positivo de indivíduos isolados ou  de grupos. A criação artística, como expressão maior de uma sociedade, necessita de condições preliminares satisfeitas intencional, concreta e experimentalmente, de forma que o artista seja sujeito e não apenas objeto.
Condições adversas para este projeto de autonomia
No sistema produtivo atual, o artista é mais objeto das instituições e indivíduos, do que sujeito. Cuidar e manipular um patrimônio impessoal do passado é fácil. O mérito está em assistir e garantir a produção artística viva e atual.


[1] - “Vértice”  in Correio do Povo Porto Alegre , ano 95, n° 320,  p.21(toda) – Quinta-feira - 16 de agosto do e 1990

Obra do Currículo da Artista logo  após o  Bacharelado em Desenho no Instituto de Artes da UFRGS
Fig. 04 – JORGE HERRMAN Auto-Retrato


O Grupo Vértice, conclama os demais artistas para a sua articulação e o debate de todas as condições de pesquisa, criação, produção e socialização artística atuais.
Propõe, para tanto, assumir a atitude profissional, na seriedade de produção e interferência efetiva na circulação da obra de arte.
Adverte sobre as divisões insufladas por interesses estranhos para desestruturar e enfraquecer grupos e pessoas que lidam com a produção artística. Neste sentido o GRUPO VÉRTICE está trabalhando para a criação de uma Entidade de Classe.
Neste momento de uma mudança política e na montagem de um novo aparelho de administração estadual, solicita de todas as forças empenhadas em arrebatar este poder entre 1991 e 1995 no Rio Grande do Sul, um plano objetivo e claro para o artista produtivo.
Propõe, formalmente, que esta política cultural, incida intencionalmente na produção artística que retrata as atuais condições de nossa vida.

Fig. 05 – Detalhe do pôster da Exposição dos integrantes do Grupo Vértice de 24 de julho a 10 de agosto de 1990 na Galeria de Arte do Instituto Cultural GBOEX
Os meios que garantem a preservação do patrimônio, devem acompanhar esta produção, mas não os sufocar. Somos um estado jovem no qual falta tudo ainda por realizar. A aposentadoria e a glória virão depois da produção.
A qualidade e a excelência da produção artística resultam de um esforço no qual todas as instituições particulares e governamentais vetorizam a sua vontade e possuem um contrato de qualidade e excelência. Os resultados desta vetorização podem ser cobrados através do exame de uma vida humana vivida dentro de valores da Arte.
Os valores positivos da Arte fazem com que indivíduos, instituições e obras transcendam o seu tempo e espaço.
Conclamam-se todas as forças vivas, que compõe a nossa sociedade e que estão interessadas na sua continuidade no tempo e no espaço, a prestigiar a Arte concretamente através de ações culturais objetivas. Estas ações mostram que estas forças vivas são positivas e não apenas interessadas na espoliação e acúmulo.

Fig. 06 - Detalhe da capa do catálogo da Exposição que precedeu o  Grupo Vértice na Galeria de Arte do Instituto Cultural GBOEX Porto Alegre e da qual participaram Paulo AGUINSKY, Clotilde QUADROS de Cravo , Henrique RADOMSKY e Analino ZORZI – os dois últimos integrantes do Grupo Vértice
A Arte transfigura e torna educativa, em si mesma, em qualquer esforço produtivo feito na intenção de prestigiar a nossa sociedade. Todas as sociedades sempre tiveram orgulho das obras artísticas e se projetaram através delas.
A profissionalização é uma relação. Como tal ela oscila entre a produção e o mercado. A profissionalização muda toda a vez em que a produção e/ou o mercado muda. A produção artística muda constantemente. Historicamente o mercado de arte evoluiu através da nobreza, clero, burguesia ou dois bancos..  A produção artística, pela sua própria natureza criativa, muda constantemente. Nada mais natural que a vontade da profissionalização definitiva.
Um Estado que se deseja manter atualizado, tem um papel significativo no alinhamento de um mercado de escala, em Arte, quer através de encomendas a artistas atuais, quer através de pesquisa e ensino.

Fig. 07 – Analino ZORZI expondo no Tribunal Regional do Trabalho de Porto Alegre - RS e da qual também cria o ambiente arquitetônico.

Por que  preservar o patrimônio artístico do passado quando não há mais produção artística presente?
Depois de um grande período de amadorismo e de uma atividade conservacionista, há necessidade de uma intensa atividade, que só pode acontecer através de uma sólida e consistente profissionalização em todos os níveis de que depende esta ação positiva.

CONVITE:
O GRUPO VÉRTICE saúda todos os participantes do II ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE ARTES VISUAIS[1]. Convidando-os a visitar a exposição à Rua Sete de Setembro, n° 604 – Térreo . GALERIA DE ARTE GBOEX.

VERÔ CORBARI  -   ANALINO ZORZI  -   CÍRIO SIMON – MÔNICA HEYDRICH  - PIERRY SCHULZ  - JUARES PALMA.


[1] - “Três dias para a arte. – Inicia-se hoje, às 14h30min, o 2° encontro Latino-Americano de Artes Plásticas. A palestra inaugural será com o crítico de arte Jacob Klintowitz, que irá falar sobre a 11ª Bienal de São Paulo. Alem dos painéis e debates ocorrerão hoje e amanhã, no auditório da Assembléia Legislativa, no sábado, haverá, no Margs, apresentações práticas de trabalhos de pintura, escultura, construção de instalações, performances e outras técnicas, bem como projeção de slides e vídeos. Ainda no programa de hoje, as 18h, painel sobre “ O Significado das Artes Plásticas Hoje”, e as 19h, reunião das diversas Comissões
               in Correio do Povo Porto Alegre , ano 95, n° 320, p.22, col.3– Quinta-feira- 16 de agosto do e 1990 

Obra do Currículo da Artista logo  após o Desafio lançado por Pierry SCHULTZ
Fig. 08 – Pintura de Verô CORBARI.

Cada integrante do GRUPO VÈRTICE partiu para colocar no seu mundo estas concepções que fez público neste manifesto. Com este vírus benéfico inoculado na mente e corpo cada qual fez o seu caminho solitário. 



Fig. 09 – Parte superior do folder da exposição dos Integrantes do GRUPO VÈRTICE 24 de julho a 10 a agosto de 1990 na Galeria de Arte do Instituto Cultural GBOEX.

Assim inicia mais uma etapa destas investigações que se destina a saber o destino, a obra e a produção de condições para a reprodução destas ideias.





A presente postagem é a 04 de uma série relativa ao Grupo Vértice.


OBRA de ARTE - O ENTE e o SER em
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Tradução de Maria da Conceição Cocta. Lisboa:  Edições 70, 1990

Os INTEGRANTES do GRUPO VÉRTICE no ESPAÇO NUMÉRICO DIGITAL
ANALINO ZORZI

FERNANDO JARROS 1959-1989 fotógrafo - Porto Alegre

JORGE HERMANN

JUARES PALMA


Verô CORBARI


 
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