segunda-feira, 27 de junho de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 24

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

RELIGIÃO não é ARTE.

“O artista é hoje em dia um estranho

reservatório de valores para-espirituais”.

Marcel Duchamp (1887-1968)

A expressão ARTE RELIGIOSA certamente é um equívoco, pois os seus termos confundem a compreensão das competências e dos limites tanto da ARTE como da RELIGIÃO. Nenhuma das duas pode aceitar esta confusão. O discurso melhora na referência à ARTE SACRA, pois atribui à ARTE a busca do seu tema no imaterial. Esta expressão estética não se confunde com a RELIGIÃO o seu imenso universo da FÉ, do SAGRADO, do TRANSCENDENTE e do ESPIRITUAL e nem os esgota.


http://einestages.spiegel.de/external/ShowAuthorAlbumBackground/a22882/l13/l0/F.html#featuredEntry

Fig. 01 – A RELIGIÃO do ESTADO - Pyongyang -COREIA do NORTE - monumento aos trabalhadores do partido [foice agricultores – pincel intelectuais - martelo urbanos] - SPIEGEL 16.06.2011

A criatura humana pode contrariar, frontal e radicalmente esta referência ao SAGRADO, ao TRANSCENDENTE e ao ESPIRITUAL. Ela pode chegar ao extremo de confessar o mais crasso materialismo, de aferrar-se aquilo que é empírico e tentar limitar-se ao absoluto “aqui e agora”. Contudo esta criatura não se contenta - na sua prática e nem age coerentemente - com este estreito limite na qual ela busca condicionar-se física e mentalmente. No extremo oposto, segundo Hannah Arendt (1907-1975), a criatura humana - ao aceitar a eternidade absoluta - situa-se em outra contradição. Esta aceitação a desorienta e a pode jogar, mental e fisicamente, no seu extremo, na negação de qualquer projeto pela inutilidade de qualquer esforço diante desta fatalidade do infinito imponderável que devora a tudo e a todos.


Fig. 02 – Os ÍDOLOS - Filippino LIPPI 1457-1503 - São Felipe exorciza no templo de Hirápolis – c. 1487-1502

A autêntica religião sempre buscou o nexo (religar) entre o extremo material (imanência) e imaterial (transcendência). Na busca desta conexão a RELIGIÃO concorreu ou conviveu com a ARTE. Muitas vezes as competências e os limites se confundiram. Em outras vezes os conflitos são intensos e parecem insuperáveis, pois muitas religiões proíbem, desaconselham ou inibem a confecção até de imagens de qualquer natureza para os seus cultos.


Fig. 03 – O ÍCONE BIZANTINO e JÓIAS RELICÁRIO- Guardian - UK em 23.06.2011

Muitos tentaram fugir aos estreitos espaços criados pelos iconoclastas e ortodoxos de culturas de época e de locais restritos. O pensamento humano sempre teve papel importante nesta iluminação de espaços. Isto se não consegue remover estas armadilhas, prisões e ortodoxias, que separam as irmãs gêmeas da ARTE e da RELIGIÃO, e orientar no caminho de civilizações mais humanas, dignas e produtivas de valores positivos e universais.


Fig. 04 – A INFINITA VARIEDADE no MESMO CORREDOR com COLUNAS DIFERENTES no MOSTEIRO - ESTUPA de ANGKOR WAT.

Um dos artistas e teóricos de arte mais experientes e respeitados, como Marcel Duchamp (1887-1968) escreveu:

“O artista encontra-se face ao mundo fundado sobre o materialismo brutal no qual tudo é avaliado em função do BEM ESTAR MATERIAL e no qual a religião, depois de ter perdido muito espaço, não é mais a grande distribuidora dos valores espirituais.

O artista é hoje em dia um estranho reservatório de valores para-espirituais em oposição absoluta com o FUNCIONALISMO diário, pelo qual a Ciência recebe uma admiração cega. Digo cego, porque não creio mais na importância suprema destas soluções científicas que não atingem mais os problemas pessoais do ser humano.

Por exemplo, as viagens interplanetárias parecem ser um dos passos prioritários em direção um auto-denominado «progresso científico» e contudo estes passos nada mais são, em última análise, do que o alargamento do território colocado a disposição da criatura humana.

Não posso ser impedido de considerar isto como uma simples variante do atual MATERIALISMO que afasta o indivíduo, cada vez mais, da procura do seu EU interior”.

SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par Michel Sanouillet - Paris : Flammarrion, 1991, pp. 236-239

Esta busca do EU interior necessita retomar ao campo das forças da Filosofia onde é possível escutar as lições na “Ética a Nicômano” de ARISTÓTELES (384-322). Busca que necessita passar por cima dos tabus que encobrem Martin HEIDEGGER (1889-1976) e reler o seu texto “origem da obra de arte” e aprender, com ele, outros sentidos das palavras humanas gastas pelo tempo e pelo seu uso inadequado ou reducionista. Mais recentemente Jorge HABERMAS, (1929- ) recolocou e reequilibrou este vocabulário na sua obra conhecimento e interesse”.
Gráfico de Círio SIMON

Fig. 05 – ALGUMAS DISTINÇÕES entre ARTE e a ARTE SACRA.

Clique sobre o gráfico para ampliá-lo.

Derivamos para o campo da Semiótica com estes filósofos se interrogando sobre o sentidos e amplidão da palavra e da comunicação humana. Neste campo não podemos ignorar a obra “Semiótica” de Charles PEIRCE (1859-1914) e seus seguidores e entre eles o brasileiro PIGNATARI, Décio (1927- ) “Informação linguagem comunicação”. Chega-se ao 7º aforismo de Ludwig WITTGENSTEIN, (1889-1951)o que não pode ser dito deve ser calado” doTractatus lógico-philosophicus” Ele já tangencia e se opõe a Fernand SAUSSURE ( 1857-1913). Este desafio filosófico deixa o campo aberto para o francês Pierre BOURDIEU (1930-2002) criar as suas obras como “Economia das trocas simbólicas”, O poder simbólico” , As regras da arte”, “Razões práticas” e tantas outras mais.


Fig. 06 – ARTE, RELIGIÃO e ÍDENTIDADE. A Estátua do Cristo Redentor no dia de sua inauguração em 12 de outubro de 1931.

Charles WRIGHT MILLS (1916-1962), na sua obra “a elite do poder”, denunciou os estreitos espaços na política norte-americana e situa-se entre tantos intelectuais que investigaram o campo teórico da política. Esta denúncia poderia ultrapassar as fronteiras políticas e ser universalizada para todos os lugares onde o poder necessita fluir. O poder existe tanto no campo de forças que se organizam ao redor da RELIGIÃO e como no campo de forças das ARTES. Ambos não ficam isentos dos processos e sistemas da circulação descritos em “microfísica do poder” pelo pensador francês Michel FOUCAULT (1926-1984)


http://br.olhares.com/interior_da_igreja_da_pampulha_foto1955093.html

Fig. 07 – MODERNIDADE e RELIGIÃO em CONFLITO. Interior da igreja São Francisco da Pampulha Belo Horizonte Minas Gerais por muito tempo não reconhecida pela Igreja Católica.

Com este pequeno arsenal teórico abrem-se também o campo da Estética. Nela pode-se seguir nas pegadas deixadas por Alexander Gottlieb Buamgartner(1714-1762) e Denis Diderot (1713-1784). Criticados e consolidados com obras de Imannuel Kant (1724-1804) e Jorge Guilherme Frederico Hegel (1770-1831). Neste ambiente emergiu Friedrich SCHILLER, (1759-1805) que conferiu um cunho didático na sua obra “sobre a Educação Estética”, na forma de cartas (1791-1793), destinadas ao príncipe Friedrich Christian von Schleswig-Holstein-Sonderburg-Augustenburg de Copenhagen.

Foto de Círio SIMON - 2007


Fig. 08 – O QUOTIDIANO e o SAGRADO. A Catedral de Brasília inserida no quotidiano da vida das pessoas e no cenário administrativo da Esplanada dos Ministérios de Brasília

O século XX traduziu estas preocupações com a arte do seu tempo da parte do economista, advogado e artista Wassili KANDISNKY, (1866-1944) ao elaborar o texto “do espiritual na arte”. Obra que resultou dos seus próprios experimentos estéticos. Estas preocupações foram compartilhadas com o pintor e músico Paul KLEE (1879-1940) que escreveu “La pensée créatice”. Motivou também a ascese demonstrada na pintura dos quadros de Piet MONDRIAN (1872-1944) além dos seus textos na revista De STIJL (1917-1928) ou aquelas do já citado Marcel Duchamp. Este pensamento relativo à ARTE foi remetido ao campo de reflexão e sistematizado por Heinrich WÖLFFLIN, (1864-1945) na obra “conceitos fundamentais da História da Arte” e por Wilhelm WORRINGER, (1881-1965) em “abstração e natureza”. Na Itália Giulio Carlo ARGAN (1909-1992), prefeito de Roma seguiu a linha marxista ao escrever “História da arte como história da cidade” . Argan confere ao artista a distinção da Natureza por meio do seu projeto. Com este projeto ele tornar-se histórico na medida em que conhece e sabe criticar os propósitos de suas obras quando acerta e quando erra. Esta capacidade crítica do artista elimina também aquele juízo elementar, reducionista e imponderável do “gostei” ou “não gostei”. Ele necessita responder ao “por quê?” deste juízo.


http://www.youtube.com/watch?v=EIEmSl42vs8 + http://pt.todoroms.com/simon-del-desierto-luis-bunuel-1965-dvdrip-espanol-mu

+ http://www.youtube.com/watch?v=r5fil1yGKnk&feature=related

Fig. 09 – O CONFLITO entre SAGRADO e PROFANO– Simão o Estilita (1965) Luis Buñuel - O eremita busca o SAGRADO no deserto e em cima de uma coluna da qual é arrebatado por um avião é levando para o PROFANO numa boite de Nova York .

Marc Leopold Benjamin BLOCH, (1866-1944), ajudou a renovar a reflexão sobre a civilização, como um todo, no campo da História. O seu pensamento foi resumido “Introdução à História”, escrito numa hora de grandes dúvidas e pouco antes de ser fuzilado pelos nazistas. Diante das radicais mudanças - provocadas na passagem da era industrial para a era da informação - a obra de Paul Ricœur (1931-2005) pode fluir entre as imensas dúvidas.

Foto de Círio SIMON - 2010


Fig. 10 – O SAGRADO no ESPAÇO MONUMENTAL de BRASÌLIA.

Os intelectuais e os teóricos das diversas teologias das religiões constituem um rico acervo. Suas contribuições, mentalidades e os seus nomes foram excluídos da Enciclopédia Iluminista e as suas concepções desvinculadas das políticas ocidentais. No entanto continuam a ter conexões em diversos regimes que se apóiam subliminarmente nas suas concepções, como a islâmica, israelita, ou ortodoxa.


Foto de Círio SIMON - 2010


Fig. 11 – O SAGRADO e a LUZ TROPICAL no interior da catedral de Brasília.

A atual dificuldade da interlocução entre a RELIGIÃO e a ARTE foi reconhecida pelo Vaticano por meio da autoridade do seu Presidente do Conselho Pontifício para a Cultura. O Cardeal Gianfranco Ravasi, ao apresentar o projeto da exposição de 60 artistas, intitulada: "o esplendor da verdade, a beleza da caridade" , a ser aberta no dia 4 de Julho de 2011, observou que os caminhos percorridos pela ARTE e pela FÉ encontram-se, hoje, cada vez mais distantes.

"Os dois caminhos separaram-se. A teologia e a liturgia seguiram outras trajetórias quando devíamos introduzir nos seus espaços o tema estético.[...]

O diálogo entre arte e fé é necessário, dado o parentesco existente entre essas duas diferentes expressões do espírito humano, que embora seguindo caminhos diferentes, tendem ambas ao eterno e infinito. E é por isso que é significativo que também a arte contemporânea, continue a repetir o desejo de poder, ainda, percorrer esses caminhos da altura do transcendente, do mistério."


http://noticiarama.blogspot.com/2011/06/catedral-de-bh-e-ultima-obra-de.html

Fig. 12 – O ESPLENDOR da VERDADE. Projeto de Oscar Niemeyer para a Catedral de Belo Horizonte e uma das o 60 obras da exposição “O esplendor da verdade, a beleza da caridade".

Do lado da ARTE as mais diversas mentalidades materialistas continuam a colaborar e dar forma aos templos e monumentos religiosos. Assim Oscar Niemeyer, apesar de suas confessa conexão como o comunismo, consta na lista dos 60 artistas da exposição intitulada: "o esplendor da verdade, a beleza da caridade" e promovida pelo Vaticano, em 2011. Este artista é responsável por obras sacras que são verdadeiros ícones da modernidade mundial.

Os caminhos do artista e do teólogo não são fáceis diante deste imenso acervo que compete a cada um dos dois. Certamente as maiores dificuldades se originam de conceitos fixos e reducionistas provenientes de correntes conceituais e estéticas mal assimiladas e incoerentes como o seu tempo e lugar.

Se as conexões entre a RELIGIÃO com a ARTE são múltiplas, variadas e renovadas em cada geração, não é possível deixar de distinguir os seus respectivos campos de forças, até para não neutralizar estas energias. O desgaste vocabular, a sobreposição indevida e reducionismo eclético desta relação, põem em perigo a competência e os limites de ambas.



Fig. 13 – O SAGRADO MANIFESTO - TAPETE CORPUS CHRISTI - Flores da Cunha-RS-

in ZH 23.06.2011.

Assim não existe alternativa coerente do que a honesta afirmação de que “RELIGIÃO não é ARTE”. Afirmação que não significa que a RELIGIÃO é o passaporte e o embarque definitivo para a eternidade absoluta e para a inutilidade de qualquer compromisso com o mundo empírico dado. Ou que a ARTE seja a renúncia, a anarquia ou a soberania em relação a qualquer projeto transcendente e ignorância dos fins últimos das ações humanas. Aqui também a virtude não está no meio termo e nem no refúgio no ecletismo.

Fontes bibliográficas referenciados neste texto.

ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres: Calmann Lévy. 1983..

ARGAN, Giulio Carlo (1909-1992). História da arte como história da cidade.São Paulo: Martins Fontes. 1992.

____. Arte Moderna. São Paulo : Companhia de Letras, 1996.

ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural. 1973. 329p.

____. Tópicos. 2.ed. São Paulo : Abril Cultural. 1983, pp.5-156.

BADIOU, Alain (1937- ). O ser e o evento. Rio de Janeiro : Zahar - UFRJ, 1996. 402p.

BENSE, Max (1910-1990). Pequena estética.São Paulo: Perspectiva,1971, 225p+(2.ed. 1975).

BLOCH, Marc Leopold Benjamin( 1866-1944). Introdução à História.(3ª. Ed) .Lisboa :Europa- América 1976 179 p.

BOSI, Alfredo (1936- ). Reflexões sobre a arte. 5.ed. São Paulo : Ática, 1995.

BOURDIEU, Pierre (1930-2002) . Economia das trocas simbólicas. São Paulo: EDUSP- Perspectiva, 1987. 361p.

____. O poder simbólico. Lisboa : DIFEL, 1989. 311p.

____. As regras da arte. São Paulo : Companhia das Letras, 1996a. 421p.

____. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas : Papirus, 1996b. 231p

DUCHAMP, Marcel (1887-11968), «L’artiste doit-il aller a l‘université?» in Duchamp du signe. Paris : Flammarion 1991

FOUCAULT, Michel (1926-1984). Microfísica do poder. Rio de Janeiro : Graal, 1995. 295.

HABERMAS, Jorge (1929- ). Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro: ZAHAR,1982. 367p.

HEIDEGGER, Martin (1889-1976). Origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70, 1992. 73 p.

KANDISNKY, Wassili (1866-1944) , Do espiritual na arte. São Paulo : Martins Fontes, 1990, 245 p.

KLEE, Paul (1879-1940) - La pensée créatice. Paris : Dessain et Tolra, 1980, 556 p- Il.

MARCHÁN FIZ, Simón. La estética en la cultura moderna. Madrid : Alianza Forma. 1996

. http://portal.uned.es/portal/page?_pageid=93,697783&_dad=portal&_schema=PORTAL

PEIRCE, S. Charles (1859-1914) Semiótica (3ª ed) São Paulo : Perspectiva, 2003 , 337 p

PIGNATARI, Décio(1927- ) Informação linguagem comunicação. Cotia SP : Ateliê Editorial, 2002 155 p.

SCHILLER, Friedrich (1759-1805) Sobre a Educação Estética. São Paulo : Herder, 1963. 134 p.

http://pt.scribd.com/doc/24049040/Friedrich-Schiller-A-Educacao-Estetica-do-Homem-numa-serie-de-cartas

WITTGENSTEIN, Ludwig (1889-1951). Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo : EDUSP 1993. 281p.

WÖLFFLIN, Heinrich (1864-1945) Renascimento e barroco: estudo sobre a essência do estilo barroco e sua origem na Itália. São Paulo : Perspectiva, 1989, 170 p.

------Conceitos fundamentais da História da Arte (3ª ed) São Paulo : Martins Fontes, 1996, 348 p.

WORRINGER, Wilhelm (1881 - 1965). Abstraccion y naturaleza. 1.ed. 1908. México : Fondo de Cultura Econômica, 1953. 137p.

____. La esencia del estilo gótico.(1ª ed. 1911) Buenos Aires: Nueva Visión, 1957. 144p.

WRIGHT MILLS Charles (1916-1962). A elite do poder. (3ª.ed) Rio de Janeiro : ZAHAR, 1975. 421p.

http://www.thirdworldtraveler.com/Book_Excerpts/PowerElite.html

Fontes numéricas digitais atinentes ao tema

CORBUSIER

http://www.lemonde.fr/culture/portfolio/2011/06/24/les-sites-du-corbusier-presentes-dans-la-candidature-au-patrimoine-mondial-de-l-unesco_1540245_3246.html#ens_id=1540288

ICOMOS – UNESCO - ARTE SACRA

75% das obras de arte do Patrimônio com vínculos como transcendente

http://whc.unesco.org/fr/list/

http://www.international.icomos.org/home_fra.htm

Apresentada a exposição "O esplendor da verdade,a beleza da caridade" (18/6/2011)

http://www.radiovaticana.org/por/articolo.asp?c=497270 Radio Vaticano notícia18/06/2011 14.05. 33

http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=282202 CARTAZ – OBRAS e nomes

http://www.radiovaticana.org/por/articolo.asp?c=494306 em Portugal

ARTE

http://acantiza.blogspot.com/2009_11_01_archive.html

OSCAR NIEMEYER e a nova CATEDRAL de BELO HORIZONTE

http://casaeimoveis.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2011/06/11/bh-ganhara-catedral-com-projeto-de-niemeyer.jhtm

http://noticiarama.blogspot.com/2011/06/catedral-de-bh-e-ultima-obra-de.html

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/06/11/interna_gerais,233398/bh-vai-ganhar-catedral-com-projeto-de-niemeyer.shtml

http://www.domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=336901

http://br.olhares.com/interior_da_igreja_da_pampulha_foto1955093.html Pampulha interior

sábado, 25 de junho de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 22

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

MÚMIAS não são ARTE.

A MORTE é universalmente temida pelos seres vivos e esconjurada por todos os meios ao seu alcance. A humanidade criou os mais diversos rituais para conviver com a idéia da MORTE com um mínimo de civilização, pois sabe que este é o seu destino final.


http://dementia.pt/o-bizarro-restaurante-caixao/

Fig. 01 – UCRANIA Restaurante

No pólo oposto a humanidade nega-se a se entregar ao que sabe que é o seu destino final. Para isto buscou formas de esquecer como aquelas de cremar e de deletar tudo aquilo que se relaciona a esta lembrança incômoda e assustadora.

Entre estes extremos a criatura humana estetizou e usou amplamente ARTE para esconjurar este conhecimento o terrível e inconcebível destino de todo ser vivo.


Fig. 02 – TUTANCAMON: máscara de ouro e esmaltes colocada sobre a múmia do jóvem faraó

Contudo a ARTE não se intimida à estetizar a MORTE ou a se reduzir face ao conhecimento do seu destino final. Ao contrário o seu desafio maior é incrementar projetos que ampliem e dignifiquem estes limites e temores universais representados pela da MORTE. No coração de cada obra de ARTE existe uma proclamação e uma mensagem daquilo que foi possível fixar e ampliar no interior do limite e do desafio representado pela MORTE.


Fig. 03 – TUTANCAMON a múmia embalsamada e depois coberta por três máscaras

Todas as espécies reconhecem os seus semelhantes mortos. A MORTE constitui algo concreto, contrário à VIDA e um limite como retorno impossível. Na medida em que a ARTE é manifestação da VIDA, ela constituiu os mais variados registros do terror da MORTE. Os trabalhos cemiteriais materializam esta estetização do inexplicável empreendida por esta humanidade. Esta manifestação é um entre tantos outros registros diretos desta possibilidade humana de conceber os seus próprios limites e de ampliar tudo o que se passa ao longo de uma vida humana.


http://www.nytimes.com/slideshow/2011/06/19/arts/design/20110619-WIC-ss-2.html

Fig. 04 - MÚMIA e ESTUDANTES in NYT - 20.06.2001

No plano social a MORTE é algo que atinge a todos e no plano individual coloca o EU diante de sua finitude. Contudo esta finitude não é estática, fixa e dada de antemão. Com esta elasticidade deste limite permitiu um imenso espaço a ser conquistado. Neste espaço construído contra uma Natureza revelam-se os mais variados e criativos espaços. Onde existe criatividade afirma-se um espaço para a ARTE.


http://www.nytimes.com/slideshow/2011/06/17/arts/design/20110617-MUMMIES-7.html

Fig. 05 - MÚMIA e ESTUDANTES in NYT - 20.06.2001

Em terras brasileiras, de rituais antropofágicos, de sambaquis e de urnas funerárias, a MORTE possui as mais variadas leituras. Leituras que vão da HONRA de mostrar a valentia a ser devorada fisicamente pelos seus inimigos, ao lixo de um sambaqui até os rituais comemorativos do QUARUP e das enfeitadas urnas funerárias.


Fig. 06 – QUARUP em aldeia indígena brasileiera

Estes rituais primevos foram continuados pelos monumentos aos guerreiros que sacrificaram a sua VIDA pela pátria, pelas comemorações dos finados e pelos vastos cemitérios coloniais e imperiais brasileiros que culminaram na Belle Epoque. O lixo industrial e o consumismo levaram aos lixões e a necessidade de administrar os vestígios do passado recente. Nesta administração a cultura contemporânea retorna às formas etruscas e romanas de lidar com os seus mortos.


Foto Círio SIMON

Fig. 07 – CAMPINA GRANDE – Paraíba – Túmulo residência no cemitério municipal.

Para esta cultura contemporâneas - com raízes brasileiras - é inconcebível que intelectuais e políticos estejam ruminando e estetizando múmias embalsamadas mesmo aquelas da modernidade européia e norte-americana recente. Esta regurgitação de múmias afasta, destes antropófagos da modernidade, qualquer um que queira alimenta-se da antropofagia da pós-modernidade local e também disponível na rede numérica digital planetária. Estes infelizes refugiados numa modernidade anacrônica, são tragados e silenciados pela torrente das idéias de novas gerações que percebem nos retardatários presos à ruminação de Gramsci, de Lênin e de Marx. Passam a categoria de sacerdotes de cultos e estetização de múmias sem sentido para as circunstâncias da pós-modernidade.


Fig. 08 - ZOFFANY Joahannes Josephus - 1733-1810 - Royal Academy - c.1771

Multidão que não mais reage às suas ideologias nas quais eles ainda se julgam oniscientes, onipotentes, universais e eternos. O “todo orgânico da consciência coletiva” proposto por Mário de Andrade não se interessa em estetizar múmias de cadáveres, pretendida pelos interesses limitados dos sacerdotes da antropofagia redivivos e sob os capas da pós-modernidade.

Na sua conferência, de 1942, Mario da Andrade evocava os resultados culturais da Semana de Arte Moderna de 1922. Ele havia sido umas das figuras centrais desta Semana. A sua conferência ocorria no auge desta ditadura que entrava em guerra com o Eixo. Mário coloca como primeiro principio da nacionalidade a busca da construção de uma consciência coletiva, contra estetização de múmias ou de um ecletismo para covardes. Em 1938 ele se indispusera com a estetização de múmias e do ecletismo tolerado ou promovido pelo Estado Novo.


Fig. 09 – Cena do filme PLANETA dos MACACOS 1967 Todas as espécies reconhecem os seus semelhantes mortos.

Contudo as universidades brasileiras, nas mãos de tais sacerdotes da estetização de múmias, populismo e ecletismo, tornaram-se instrumentos de heteronomia nas mãos das culturas planetárias hegemônicas e da reprodução interna da burocracia, no seu afã de regurgitarem os cadáveres do passado. O nacionalismo que dizem defender e procuram dar os últimos alentos mergulha em certezas infantis do século XX são tão condenáveis como as senis incertezas planetárias da poluída e imponderável atmosfera do século XXI. Como não é mais possível retornar à proporção da criatura humana como medida de todas as coisas também não é possível aceitar a desproporção do rebanho humano gerado pelas percepções da tecnologia comandada pelos instrumentos numéricos digitais.


http://adrianolobao.blogspot.com/2010/05/rembrandt-bilac.html

Fig. 10 – Rembrandt Harmeszoon Von Rjijn(1606-1669) A lição do Dr, Tulp (1632)

A homeostase múltipla, provocada por estas certezas infantis cultivadas por aqueles que se julgam oniscientes, onipotentes, universais e eternos, defronta-se com as incertezas senis daqueles que pensam e agem alertados pela entropia permanente que qualquer construção humana ou natural sofre de uma forma constante e irreversível.

Ninguém cogita na antropofagia ritual dos cadáveres recentes ou antigos embalsamados e nem deletá-los ou cremá-los num ato de anarquia infantil. Apenas propõe-se seguir o seu exemplo de consumir a mentalidade nacional ou dos seus contemporâneos universais vivos e que ainda possuíam sentido para o seu presente. Presente que, para ele, era o pré-revolucionário de 1930 e que também já foi embalsamado e que alguns ameaçam colocados nos altares, enquanto outros querem o contrário e remetê-los ao crematório.


Foto Círio SIMON

Fig. 11 – Adriano PITTANTI (1837-1917) dizeres da lápide do seu próprio túmulo e dos seus familiares erguido no antigo cemitério público de Novo Hamburgo.

O pensamento permanece, em tempos de idolatria do efêmero ou da cremação física e de deletação virtual e qualquer mensagem. Ele adquire vigor e vida na medida de sua coerência com o seu tempo, lugar e cultura. Não é a estetização deste pensamento que fornece o passaporte para o futuro. Este passaporte dependa da energia e condições para incrementar projetos que ampliem e dignifiquem estes limites e temores universais representados pela MORTE. Neste sentido as artes plásticas e visuais possuem registros em todos os recantos do planeta e desde períodos anteriores a qualquer outra civilização da qual se tenha outros registros. Não é o tema, não é a técnica ou os sentimentos que garantem esta permanência na História de Longa Duração, mas a força da mentalidade coerente com o tempo e lugar que garantem esta sobrevida da ação humana. As múmias não esgotam esta competência humana.

FONTES

ANDRADE, Mario O movimento modernista: Conferência lida no salão de Conferências da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no dia 3 de abril de 1942. Rio de Janeiro :Casa do Estudante do Brasil, 1942, p.45.

.

BELLOMO. Cemitérios do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.

VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e sociedade nos cemitérios brasileiros. Brasília: Departamento de Imprensa Nacional, 1972, v.I e II.



Foto Círio SIMON

Fig. 12 – Adriano PITTANTI (1837-1917) dizeres do frontão do seu próprio túmulo e dos seus familiares erguido no antigo cemitério público de Novo Hamburgo.

FONTES NUMÈRICAS DIGITAIS

MÚMIAS e ESTUDANTES

http://www.nytimes.com/slideshow/2011/06/17/arts/design/20110617-MUMMIES-7.html

http://www.nytimes.com/2011/06/17/arts/design/mummies-of-the-world-franklin-institute-review.html?_r=1&gwh=09A9797512CF397442BD13DD47ED4346

CEMITÉRIOS UCRANIANOS PÒS-MODERNOS

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/06/cemiterio-exotico-de-familias-mafiosas-vira-atracao-na-ucrania.html

http://www.pessoal.utfpr.edu.br/zasycki/ - corrige anterior

http://dementia.pt/o-bizarro-restaurante-caixao/

CEMITÉRIOS da IMIGRAÇÃO ALEMÂ no RS

http://cemiteriosalemaes.blogspot.com/

http://www.spectrumgothic.com.br/gothic/acervo_cemiterial/arte_cemiterial.htm

http://www.rootsweb.ancestry.com/~brawgw/cemiteriosi.html

OLAVO BILAC e a LIÇÂO do Dr. TULP de Rembrandt

http://adrianolobao.blogspot.com/2010/05/rembrandt-bilac.html