segunda-feira, 4 de julho de 2011

ISTO não é ARTE - 26

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

BELO e FEIO não são ARTE.

A antiga designação BELAS ARTES simplificou-se para ARTES. Esta simplificação eliminou o adjetivo restritivo e conferiu grande amplidão conceitual e prática. Na sua nova amplidão conceitual, as ARTES não são, por sua natureza, nem BELAS e nem FEIAS. diante do espelho da VERDADE as obras humanas são ARTES, ou não. Estas mesmas obras, que desejam nomear de ARTES, são coerentes e justas, ou não, na sua prática face ao vestibular da JUSTIÇA em relação à VIDA HUMANA e considerando os cenários empíricos do seu próprio TEMPO e do seu ESPAÇO.


Fig. 01 - REMBRANDT HARRNENSZON VAN RIJN - 16606-1669 Boi esquartejado 1638 - Galeria de Glasgow – Esta OBRA e uma lição da VERDADE da PINTURA - tinta e pincel –e ao mesmo de JUSTIÇA com o ambiente doméstico holandês da época do pintor.

As ARTES incorporaram a busca da VERDADE e da JUSTIÇA na natureza de suas obras. As OBRAS de ARTE tornam-se verdadeiras, na medida em que evitam a mentira, o equívoco e o embuste. São JUSTAS na medida em que cultivam a coerência interna e externa com o seu próprio tempo e lugar nos quais foram concebidas e vieram ao mundo físico.


Fig. 02 - LE CORBUSIER [Charles Eduard Jeanneret Gris 1887-1956] Cabana em Roquebrune-Cap-Martin 1952-1965 - in Le Monde 24.06.2011 – O ícone da Arquitetura Moderna Mundial oferece um exemplo de VERDADE e de JUSTIÇA

Reduzir estas categorias ao BELO, ou ao FEIO, é uma forma de desqualificação. Desqualificação provocada também em relação à VERDADE. Na medida do conhecimento da VERDADE esta sempre provoca desconforto, pois ela impõe rupturas epistêmicas com hábitos anteriores e incoerentes daqueles desvelados pela inteligência. Desde a Filosofia escolástica a BELEZA já era conceituada como o “o esplendor da verdade”.


Fig. 03 - GIOTTO de BONDONE c. 1266-1337 - pastores na Cena da Vida de São Joaquim. Capela Scrovegni Além da VERDADE da PINTURA- tinta e pincel – o artista é JUSTO e coerente com o lugar e sue tempo- Poderia ser feita a correlação da CABANA de GIOTO com a de CORBUSIER pois ambos eram arquitetos e pintores.

A revelação da VERDADE sempre foi perigosa. Como diz a canção popular francesa: “o primeiro que disser a verdade, deve ser executado” [“Le Premier qui dit la Vérité doit être exécuté”]. No entanto uma autêntica OBRA de ARTE é sempre um suporte JUSTO para este processo de descoberta, de ruptura e de mudança rumo ao novo saber.


Fig. 04 – No imenso cenário da Praça de São Pedro de Roma uma estátua de São João Batista do escultor e arquiteto Gian Lorenzo BERNINI 1598-1680 .

A mesma Filosofia criou o seu capítulo da ESTÉTICA, ao tentar buscar o caminho pela colaboração mais estreita dos sentidos humanos. O BARROCO, ao convocar os cinco sentidos humanos e mergulhá-los em ambientes onde se conjugava música, olhares, odores, tato e sabores, consolidou e deu corpo para este espaço conceitual . (Loyola 1548, aforismos 121 até 125) Neste espaço conceitual faz sentido a pergunta do estranho à cultura Brasileira:

_ Por que as estátuas do barroco são tão feias?

Estas obras do Barroco não são para serem contempladas separadamente. Elas pertencem a um cenário planejado para atingir e ativar os cinco sentidos humanos. Assim individualmente não podem ser objeto de contemplação individual. O mesmo escultor Bernini produz uma obra para ser contemplada de longe no cenário da Praça São Pedro (fig.04) e outra para a contemplação próxima e individual em museu (05).


Fig. 05 – O mesmo escultor e arquiteto. Gian Lorenzo BERNINI 1598-1680 em estátua do Rapto da Europa pra contemplação individual no interior de um palácio

No contraditório as obras de arte fogem, via de regra, da heteronomia de um cenário de interações coletivas e de estímulos simultâneos aos cinco sentidos humanos. As manifestações da ARTE são ciumentas e querem ser consideradas individualmente. Cada manifestação busca evitar reforços de rivais. Isto inclusive em relação à Natureza, por mais esplendorosa que ela se apresente a um dos sentidos humanos, mas da qual a ARTE se afasta e busca se distinguir. É caso de Picasso frente ao mal estar da jovem Brigite confrontada com a obra do mestre espanhol.


http://tinatarnoff.typepad.com/thought_patterns/2009/06/picasso-sylvette-and-bardot.html

Fig. 06 – PICASSO e BRIGITE BARDOT o artista vendo o mal-estar da modelo, ponderou para ela que se quisesse ver a natureza que ela olhasse pela janela do estúdio.

A tradição da busca da VERDADE e da JUSTIÇA é longa e frutífera. GIOTTO di BONDONEE (c.1266-1337) praticou o mesmo gesto do jovem Francisco de Assis (c.1181-1226). Este se despir, em praça pública, das vestes de sua condição de filho de rico e vestiu-se com um simples burel depois de, para viver uma VIDA autêntica e pura, sem mentira, afetação e embustes. O pintor ao optar pela tinta e pincel e recusar usar, nas suas obras, as riquezas e jóias que cobriam os ícones bizantinos, buscava a VERDADE de sua ARTE e a JUSTIÇA com o seu tempo e cultura.


Fig. 07 - Ambrogio LORENZETTI, (1290-1348) - A PAZ - Alegoria do Bom Governo c. 1340 – Os irmãos Lorenzetti instalaram na República de SIENA a mesma tradição de GIOTTO, de FLORENÇA, da pintura com tinta e pincel e com os modelos do se próprio ambiente.

O gesto de GIOTTO gerou e instaurou uma tradição que pavimentou o caminho das artes visuais do Renascimento italiano. A natureza e a forma física de uma pintura, como a MONA LISA, não deixa de ser constituído por tinta e pincel, na trilha da proposta de quem inaugurou esta tradição.

Considerando este processo verificamos que esta restrição aos elementos essenciais permite que a inteligência, que confere suporte à proposta, possa resplandecer em toda a sua intensidade e sem ruídos de comunicação provocados por elementos estranhos à mensagem. Repete-se que as manifestações da ARTE são ciumentas e evitam os reforços que não são da sua natureza. De certa forma, esta pobreza, encontra-se na lógica da ascese retomada pelo jovem Francisco de Assis para revelar, expor e oportunizar a revelação da VERDADE e do JUSTO do seu tempo e lugar.

Bem mais adiante, a VERDADE e a JUSTIÇA da tinta e do pincel foram retomadas pela pintura Impressionista (1874-1886).


Fig. 08 – Claude MONET 1840-1926 - Medas de feno- A obra deste pintor responsável pelo título “impression, soleii levant” (1872) e do movimento artístico, foi coerente durante toda a sua obra à VERDADE e à JUSTIÇA da tinta e do pince sobre uma superfície.

Contudo todas as manifestações artísticas possuem esta busca e afirmação da VERDADE da identidade dos seus recursos estilísticos. Esta busca foi caracterizada, por Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) na comparação entre os textos clássicos e populares. Ele escreveu que a interpretação dos clássicos o deixava emocionalmente indiferente, enquanto interpretações de textos do teatro de Vaudeville o comoviam até as lágrimas.


http://www.youtube.com/watch?v=pcHnL7aS64Y&feature=related

Fig. 09 – John CAGE (1912-1992) além de músico, foi professor e orientador de uma geração de artistas norte-americanos – Teve uma experiência com o mundo oriental e o Nirvana num mosteiro budista japonês . Sua obra mais conhecida é música-performance denominada 3’44’’.

Assim John Cage reconduziu a MÚSICA a escutar o silêncio o tempo. No cinema os 24 fotogramas por segundo, conduzem o olhar. A ARQUITETURA insiste sobre a “cabana primitiva” como Le CORBUSIER. A VERDADE na ESCULTURA ocorreu nas obras de Constantin Brancusi (1876-1957) nas pistas na PINTURA de Paul Cèzanne (1839-1906) e como as formas plásticas dos primitivos africanos retornadas por Picasso.


http://www.ukuleleloki.com/folderolfollies.html

Fig. 10 – VAUDEVILLE o teatro com um repertório redundante e explícito de origem popular e com finalidade de entretenimento.

Na contramão desta necessidade do despojamento formal para ressaltar a sua VERDADE, existe a busca da emoção, do resultado pelo resultado e a qualquer preço. Esta busca se vier acompanhada pela pressão e pelo comando monetário, obscurece todas esta verdade e coerência entre o conteúdo e a forma de uma OBRA de ARTE. Uma das sobras do belo é o bonito. O bonitinho, mas ordinário, ou melhor, o KITSCH, foi conceituado como “o que nasce consumido” por Umberto Eco. Esta obra nasce de 2ª mão, pois a sua original pertence ao universo de outra VERDADE que a gerou e trouxe ao mundo (MOLES – 1986).

Na conclusão que a busca da VERDADE e da JUSTIÇA colocaram as ARTES no espaço aberto onde “os caminhos se fazem ao andar” segundo Antônio Machado. Neste espaço aberto existe lugar para todas as estéticas e todos os seus agentes. Contudo nenhum deles possui o direito de impor um discurso fixo, único e definitivo. Esta mudança também implica em nova mentalidade do observar e nas formas institucionais e técnicas de mediação.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ECO, Umberto (1932- ) História da beleza – Rio de Janeiro : Record, 2004, 438 p. Il ISBN 8501068624

------História da Feiúra - Rio de Janeiro : Record, 2007, 453 p , Il - ISBN 9788501078674

LOYOLA Inácio de (1491-1556) EXERCÌCIOS ESPIRITUAIS (1ª impressão em 1548) ler QUINTA CONTEMPLAÇÃO [ aforismos 121 até 125]– disponível em

http://spedeus.blogspot.com/2009/07/exercicios-espirituais-de-santo-ignacio.html

MOLES Abraham O kitsch : a arte da felicidade (3ªed) São Paulo : Perspectiva, 1986, 231p. Il


http://www.guiarte.com/noticias/yves-klein.html

Fig. 11 – Yves KLEIN (1928-1962) com o azul de Ives Klein e frotagens de modelos. Banhadas com esta cor.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAS

Le Corbusier A l'Unesco - LEMONDE| 25.06.11 | 14h17 • Mis à jour le 25.06.11 | 14h17

http://www.lemonde.fr/culture/article/2011/06/25/a-l-unesco-le-classement-de-l-oeuvre-de-le-corbusier-dans-une-situation-fragile_1540968_3246.html

http://www.lemonde.fr/culture/portfolio/2011/06/24/les-sites-du-corbusier-presentes-dans-la-candidature-au-patrimoine-mondial-de-l-unesco_1540245_3246.html#ens_id=1540288

Cabana Roquebrune-Cap-Martin

http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/375/37506617.pdf

Le Premier qui dit La Vérité doit être exécuté

http://www.dailymotion.com/video/xejwtf_clip-le-premier-qui-dit-la-verite-d_news

PICASSO e BRIGITE BARDOT

http://tinatarnoff.typepad.com/thought_patterns/2009/06/picasso-sylvette-and-bardot.html

SINOPSE FILME BONITINHA, MAS ORDINÁRIA

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bonitinha_mas_Ordin%C3%A1ria_ou_Otto_Lara_Resende

KITSCH e a HISTÓRIA da FEIURA de UMBERTO ECO

http://arteesentido.blogspot.com/2010/10/o-kitsch-em-historia-da-feiura.html

https://bdigital.ufp.pt/dspace/bitstream/10284/747/1/kitsch.pdf

UM ARTIGO KITSCH que pretende tratar do KITSCH

http://pt.wikipedia.org/wiki/Kitsch

VAUDEVILLE

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vaudeville

http://www.google.com.br/search?q=vaudeville&hl=pt-BR&rlz=1R2RNRN_pt-BRBR430&biw=1440&bih=727&prmd=ivns&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=xy4PTpC6PMzegQeTyIHoDQ&ved=0CDUQsAQ


http://www.mapplethorpe.org/portfolios/portraits/?i=4

Fig. 12 – Robert MAPPLETHORPE (1946—1989) Ken Moody e Robert Sherman – 1984.- A coerência da VERDADE da luz e da sombra, do branco e do preto produzem a JUSTIÇA fotográfica

A PRESENTE POSTAGEM VISA APENAS FINALIDADES DIDÁTICAS IDEAIS.

NÃO VISA RETORO NEM POSSUI PATROCÍNIO

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