sexta-feira, 30 de julho de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 07.02

ARTE em PORTO ALEGRE após a REVOLUÇÃO de 1930


Arquivo Geral do IA-UFRGS– Fundo PELICHEK



Fig. 01 – Francis Pelichek CARTÃO POSTAL de 1931. com o TEMA

1º EXPOSIÇÂO AGRÍCOLA, PASTORIL e INDUSTRIAL Livararia da GLOBO Porto Alegre

CLIQUE sobre as FIGURAS para as AMPLIAR.



A partir da Revolução de 1930, Porto Alegre acelerou os seus meios produtivos da 1ª era industrial. Este evento político pode ser visto como um marco para a facilidade do acesso aos meios e aos bens da indústria cultural.


No, entanto este acesso era pouco visível, esrteito e sem grandatradição local como é possível verificara no cartão acima [fig.01]. Nela é visível a predominância do espaço gráfico e visual destinado à Agricultura e o Pastoreio em prejuízo da representação da Indústria. Neste cartão, desenhado por Francis Pelichek, a Indústria é representada no horizonte, tímida e escondida pela figuras centrais.


Fig. 02 – FOTO de Francis Pelichek

Esta limitada tradição local, que a era industrial tinha de enfrentar em Porto Alegre, pode ser atribuída ao fracasso daquilo que fora prometido, ou ficou muito longe da expectativa[1]. Uma desta promessas pode ser visto entre o projeto inicial da criação da Instituto Technico Profissional [Futuro Instituto Parobé] e aquilo que ele é nos tempos atuais no século XXI em relação à era industrial.




[1] - O mesmo destino pode ser atribuído ao Liceu de Artes e Ofícios mantido pela Sociedade Propagadora das Belas-Artes, inaugurado, 09 .01.1858, Império no Rio de Janeiro criada pelo arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva [DENIS, 1997 p. 190 ]

DENIS, Rafael Cardoso, « A Academia Imperial de Belas Artes e o Ensino Técnico» in 180 Anos de Escola de Belas Artes. Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro:EBA,1997.pp.181/195.

Não fugiu ao mesmo destino : LICEU de ARTES e OFÍCIOS de SÃO PAULO : missão de excelência [org. Margarida Cintra Gordinho]. São Paulo : Marca D’Água. 2000, 282 p. de Azevedo Ramos em São Paulo




Arquivo Geral do Instituto de Artes da UFRGS

Fig. 03 – Logo do Instituto Technico Profissional[1] Desenho de Giuseppe GAUDENZI




Contudo é necessário estar atento ao contraditório e diante da era industrial. Esta era supõe, no contraditório, ter clareza em relação ao não cumprimento, da reiterada promessa do ensino profissionalizante que ela preconiza e necessita. Um dos pontos, desta frustração desta promessa, é que, na era industrial, tanto o trabalho, como o consumo, são em escala e coerentes com a linha de montagem. Reforçando este ponto contraditório, esta infra-estrutura trabalha e produz dentro do princípio da obsolescência programada. Assim, na era industrial as próprias profissões não possuem a lógica da formação característica do período do artesanato da peça-única. A linha de montagem trouxe a rápida entropia, sentida por meio da obsolescência que acompanha os objetos do mundo do trabalho industrial, comprometendo a longa vida dos objetos artesanais. Nesta lógica industrial a casa, a residência é projetada e construída para se constituir um bem simbólico, pronta para o mercado no lugar da residência definitiva, personalizada e original do período da peça única do artesanato.


A impossibilidade da migração coletiva, para esta era industrial, provocou, não só esta frustração, mas uma imensa defasagem entre as diversas mentalidades ativas na cultura porto-alegrense. Defasagem visível nas favelas do urbanismo incontrolável, da improvisações do saneamento básico e do exército dos desprotegidos sociais, gerados pela obsolescência de uma agricultura e da pastoreio tradicionais e que não alcançarem coletivamente os benefícios prometidos por esta nova infra-estrutura da era industrial.


Os choques entre estas mentalidades, inclusive aquelas decorrentes da Revolução de 1930, abriu espaço cultural para a política da criação do paradigma cartorial da universidade brasileira. Universidade que se projetava como destinada a todos os saberes e para todo o território nacional, além dos singelos e simples cursos superiores profissionalizantes existentes no Brasil a partir do período Colonial. Cursos superiores que decorriam da reserva de mercado para o exercício de certas atividades, consideradas superiores e legitimados pela política corporativa contra o charlatanismo no exercício profissional. A seleção, para estas profissões, iniciava pelo vestibular.


Deve-se aos revolucionários a criação, para todo Brasil, no dia 11 de abril de 1931, pelo Decreto nº 19.851[2], de um paradigma único universidade na qual havia um lugar potencial para o saber da arte. Em Porto Alegre, os diversos cursos superiores, criados no início da República reuniram-se na Universidade de Porto Alegre (UPA) seguindo este Decreto. O Instituto de Belas Artes foi uma das seis instituições exigidas, pelo Decreto Federal, para constituírem a UPA. As Artes seguiam, em 1934, o seu destino de origem como complemento da Ciência e da Técnica industrial como acontecera em 1908. A sombra que pairava e era projetada sobre as Artes e a Cultura, além do preço a pagar, era que as duas deviam comportar-se e conduzir-se também pelo taylorismo industrial.



O Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, com esta inclusão na universidade, foi autorizado para contratar artistas experimentados e atuantes na indústria cultura, tanto na área teórica como na sua prática. Na área teórica o Professor Ângelo Guido começou a atuar profissionalmente e na tábua curricular típica da era industrial. Ângelo Guido atuava dentro da lógica da indústria cultural nos Diários de Notícias de Assis Chateaubriand. Na Escultura e na Modelagem foi contratado Fernando Corona, atuante na arquitetura das empresas de construção de Porto Alegre. Nesta qualificação também cabem Ernani Dias Corrêa[3] e José Lutzenberger (1882-1951)[4]. Este último era o arquiteto dos prédios da Igreja São José, Palácio do Comércio e Pão dos Pobres. A tarefa de substituir o recém falecido Francis Pelichek (1895-1937) coube a João Fahrion também experimentado na produção gráfica do Desenho, fora da instituição mas coerente com a indústria cultural. Na Pintura, Castañeda e Maristany de Trias[5] com umbelo currículo internacional na Espanha, Chile e Argentina.




[1] - Imagem: cabeçalho de notas de venda de material (Busto de Demosthenes) emitida no dia 31.01.1915 para Escola de Artes do I.B.A. O desenho vem assinado no ângulo esquerdo inferior ’GAUDENZI’. (Documentos avulsos do Arquivo do IA-UFRGS de 1908-1918)


[2] DECRETO N. 19.851 - de 11 DE ABRIL de 1931 Dispõe que, o ensino superior no Brasil obedecerá, de preferência, ao sistema universitário, podendo ainda ser ministrado em institutos isolados, e que a organização técnica e administrativa das universidades é instituida no presente decreto, regendo-se os institutos isolados pelos respectivos regulamentos, observados os dispositivos do seguinte Estatuto das Universidades Brasileiras. Veja em www.fis.ufba.br/dfes/PDI/financ/decreto%2019.851.doc


[3] - Ernani Dias Corrêa era irmão de Tasso Bolívar Dias e formado, em 1922, na Escola Nacional de Belas Artes na turma de Lúcio Costa e Atílio Corrêa. No Rio Grande do Sul trabalhou na legendária Secretaria de Obras. Ali projetou o balneário de Irai, as urbanizações de Arroio do Meio e a Vila Floresta de Porto Alegre, Foi fundador dos Cursos Técnicos de Arquitetura e, depois, do Curso Superior de Arquitetura do IBA-RS e 1º Presidente das Setor RS do IAB.


Obra do acervo da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do IA-UFRGS

Fig. 04Luis MARISTANY de TRIAS – Estaleiro em Porto Alegre

Como vimos, no artigo anterior, após a Revolução de 1930[1] os revolucionários tomaram rumos diversos e contrários[2]. Com a aproximação do Centenário da RevoluçãoFarroupilha (1835-1845) estes ventos, diversos e contrários, em Porto Alegre ganharam um projeto político, técnico e cultural para lhes emprestar um mínimo de coerência política. Este evento foi a oportunidade para transformar em totem político o velho tabu regional da “Revolução dos Farrapos”.




[1] - ARANHA Oswaldo. Breviário Cívico Conceitos referentes ou applicáveis ao actual momento político Porto Alegre: Revista do Globo, nº 18, 12 de out de 1929 fl 01 http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1930




Fig. 05GENERAL FLORES da CUNHA por Francis Pelichek

O governo de Flores da Cunha planejou solenizar o evento do 20 de setembro de 1935[1] para o intenso brilho deste totem. Este governante aproveitou a oportunidade para socializar os avanços técnicos, realizados nesta época, exibindo-os ruidosamente no antigo Parque da Redenção[2] e junto aos demais Estados Regionais.




[1] Ver Revista do Globo, ano VII, nº 170, 23 de out de 1935 – Dedicado ao Evento da Exposição Farroupilha

Editor: Érico Veríssimo, Gerente: Henrique Maia, Secretário: Luis Estrela, Editores: Barcelos, Bertasso & Cia


Fig. 06FOTO da EXPOSIÇÃO de 1935

A presença do pavilhão do estado de São Paulo parece marcar a superação positiva da crise provocada pela Revolução Constitucionalista de 1932.


Fig. 07– Perspectiva do Pavilhão de São Paulo na Exposição Farroupilha de 1935


A Revolução Constitucionalista teve, no Rio Grande do Sul, a adesão de políticos de peso, como Borges de Medeiros. Nas artes plásticas, a revolução de 1932, deixou em Porto Alegre, o monumento ao Coronel Aparício Borges, projetado por Francis Pelichek e elaborado por Vitório Livi[1].




[1] - http://www.margs.rs.gov.br/ndpa_sele_osestatuarios.php


Foto do acervo da Arquivo do IA-UFRGS – Fundo Francis Pelichek

Fig. 08 – Foto de Francis Pelichek e Vitório LIVI diante do monumento ao Coronel Aparício Borges

erguido no Quartel da Brigada Militar da Avenida com o nome do militar.



O Rio Grande do Sul retribuiu a gentileza paulista, 20 anos após a Exposição Farroupilha. Para tanto construiu e manteve um dos pavilhões do 4º Centenário de São Paulo, de 1954, onde foi apresentada, ainda em gesso[1], a estátua do Laçador, símbolo de Porto Alegre e do Rio Grande Sul.

As Ciências e as Artes ganharam, na Exposição Farroupilha de 1935, um prédio que permaneceu como centro núcleo da formação de docentes do sistema educacional sul-rio-grandense. Este prédio foi construído ao longo do ano de 1934 e passou a ser conhecido e ocupado pelo Instituto de Educação Flores da Cunha. O prédio é
obra do arquiteto Fernando Corona
[2] e segue a tipologia da ordem jônica[3]. Neste prédio organizou-se a exposição cultural, sob o comando de Walter Spalding (1901-1979)[4]. Ângelo Guido foi o curador da sessão de Pintura onde expuseram, entre outros Carlos Scliar e Gastão Hofstetter.




[1] ALVES, José Francisco. A Escultura pública de Porto Alegre – história, contexto e significado. Porto Alegre : Artfolio, 2004,p. 67


[2] CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amo Tomo I 604 f. Ver a ano 1934 Folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm.Arquivo GEDAB Faculdade de Arquitetura. UFRGS ( vol 1 )


[3] - A tipologia unívoca e linear neo-clássica prolongava a tradição da cidade de Washington, dos prédio napoleônicos e na época revivida pelo regimes nacionalistas, totalitários e centralistas da época,



Revista do Globo, nº 172, 23 de nov de 1935, p. 23

Fig. 09– FOTO do PRÉDIO do INSTITUTO GENERAL FLORES da CUNHA em 1935



Fora do Parque Farroupilha a cidade guarda o Monumento a Bento Gonçalves de Antônio Caringi, além da doação da Fonte de Talavera, localizada na Praça Montevidéu, frente ao prédio da Prefeitura Municipal. Esta doação foi relaizada pela Colônia Espanhola radicada em Porto Alegre


Desenho doado, por Fernando Corona, para a Pinacoteca Aldo Locatelli – Prefeitura Municipal de Porto Alegre – Foto Fernando Zago


Fig. 10 - FONTE de TALAVERA na PRAÇA MONTEVIDÉU de PORTO ALEGRE-RS

Entre 1937 e 1945, o Estado Novo tentou apagar todos os vestígios regionais[1] e locais ao modelo daquele de Portugal[2].


No âmbito da paisagem urbana de Porto Alegre, o Estado Novo foi a oportunidade, para rasgar largas avenidas para a circulação dos veículos da era industrial. O automóvel, como um dos produtos mais visíveis e cobiçados da era industrial, exigia pistas e espaços na urbanização da cidade e destinados para a sua passagem e o seu estacionamento. O Prefeito Loureiro da Silva abriu, em 1940, as avenidas Farrapos, Salgado Filho e André da Rocha. A Avenida Farrapos talvez seja a mais conhecida e coerente com este período. Prevista já por Cândido José de Godói ela significou, esteticamente o triunfo, em Porto Alegre da Art Decô, funcional e despojada de todo ornamento. Esta tipologia estética interpreta o triunfo das técnicas industriais e dos seus
materiais prediletos. Coerentemente a Avenida Farrapos sofre, no século XXI, das mesmas patologias da obsolescência e da ferrugem da era industrial.





[1] - No dia 19 de novembro de 1937 a bandeira do Rio Grande do Sul, junto com as demais dos Estados Brasileiros, foi incinerada na Pira da Pátria, enquanto se erguia a bandeira brasileira única. O hino sul-rio-grandense também foi proibido e a imprensa controlada pelo Departamento de Ordem Pública e Social DOPS. Este órgão de controle havia sido criado em 1930 e com o Estado Novo tomava uma forma legal aguda . Ver em http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao33/materia04/



Fig. 11FOTO de um DETALHE da FACHADA da IGREJA SÃO GERALDO da AV. FARRAPOS – POA-RS

Enquanto se erguia o prédio do Ministério e Cultura no Rio de Janeiro o Instituto de Belas Artes iniciou, em 1941, construiu, e inaugurou o seu prédio em 01 de julho de 1943, com a expressiva ajuda da sociedade civil através dos seus “Legionários do IBA-RS” espalhados por todo o território brasileiro

.

Foto de autoria de Carolina Hermann

Fig. 12FOTO da FACHADA do INSTITUTO de ARTES da UFRGS

As paredes com cada vez mais nuas e com menos elementos visuais recebe, como contrapartida, obras janelas envidraçadas[1] elaborados por uma plêiade de artistas. Eles organizam-se na produção industrial nas oficinas comandadas por Genta, Hans Veit e Eduardo Peuckert[2].

As tentativas, e as formas, para associar os artistas visuais, em Porto Alegre, são variadas e em época distintas. A Associação Francisco Lisboa[3], nasceu em agosto de 1938[4] nove meses após a proclamação do Estado Novo[5]. Em Porto Alegre ela é a maior com número de sócios, na sua continuidade[6] e no seu de funcionamento. Os seus integrantes procuravam fazer do seu ofício a razão de sua união como trabalhadores especializados. Este projeto de sua origem foi registrado pela pesquisadora Kern. Ela escreveu (1981, f. 113) que “a Associação Francisco Lisboa foi fundada com o objetivo de reunir os artistas que se encontram isolados e que tem dificuldades para se fazer conhecer seus trabalhos”. A Associação não gerou uma linha de pesquisa, nem se definiu por uma estética identificadora do grupo. O grupo não manteve uma estrutura burocrática administrativa, e só, recentemente, investiu em bens ou sede[7].



[2] - WERTHEIMER, Mariana – Estudo do Patrimônio de Vitrais produzidos em Porto Alegre no período 1920-1980 . Porto Alegre : Mitra Arquidiocesana de Porto Alegre- Comissão de arte Sacra – CD – ROM Patrocínio Petrobrás – Lei Incentivo à Cultura –MEC-BR

[4] Ver http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html ORIGENS do INSTITUTO de ARTES da UFRGS nas fl.s 417 a 422

[5] - Carlos Scarinci escreveu (1980, p.8, col.1) Os objetivos da nova entidade não podem ser definidos como uma tomada de posição de classe, mas sua criação coincide quase com a transformação da Associação Paulista de Belas Artes em Sindicato dos artistas políticos(1937) que coincide também com as orientações sindicalistas do Estado Novo recentemente implantado”.


[6] - SCARINCI, Carlos «Da Francisco Lisboa ao Pseudo-Salão Moderno de 1942» in Correio do Povo, Caderno de Sábado, Volume CVI, Ano VIII, no 606, 08.03.1980, pp 8/9.

[7] - Conforme Scarinci, (1982, p. 111) já em 1945 houve uma promessa do governo do Estado de uma sede, o que não se concretizou.

Acervo da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo – Instituto de Artes - UFRGS

Fig. 13 – João Faria VIANNA - Gravura.


Entre os fundadores da “Chico Lisboa” havia discípulos de Giuseppe Gaudenzi[1], do Instituto Parobé, sendo um João Fahrion e João Faria Vianna (1905-1975)[2] o 1º presidente da Associação. Fahrion já era professor do Instituto, chamado que fora, em 24 de agosto de 1937 para substituir Francis Pelichek falecido em 01.08.1937. Romano Reif era professor e toreuta estabelecido no bairro operário Navegantes de Porto Alegre[3]. Do mesmo bairro vinham Gastão Hofstätter e Guido Fernando Mondin[4]. Gastão era da equipe de Ernest Zeuner da Editora do Globo. Mondin tornou-se político, eleito senador da
republica e ministro de Estado, sem renegar a pintura e o seu bairro de origem
[5]. José Rasgado Filho ilustrou a Revista Máscara em 1925 com o pseudônimo ‘Stellius’ e expos desenhos no Salão de Outono de 1925 de Porto Alegre[6]. Gustav Epstein enviou, ao salão do IBA-RS de março de 1942, uma aquarela intitulada ‘Vista do Quintal–Copacabana’ contribuindo com os artistas do Rio de Janeiro na construção do prédio do IBA-RS[7].

A Associação mostrava que a profissionalização, em arte, era considerada como possível nesta época de cries, conflitos e mudanças. A resolução de ‘vencer ou morrer pela arte[8]. foi tomado, em 1941 pelo jovem Iberê Camargo[9] e concluinte do Curso Técnico de Arquitetura no IBA-RS. Ele expressava o contexto de confrontos extremos de uma guerra real em andamento no conflito na cena mundial. O indivíduo isolado deveria fazer opções, reais e definitivas, entre forças antagônicas que se materializavam em figuras da fachada sorridentes, benevolentes e triunfantes. O Estado totalitário apontava o rumo, onde ele incluía a arte. No Brasil, essa política tomou o nome de Gustavo Capanema que na análise de Williams (2000: 251/69) acumulava simultaneamente as funções de administrador, de ideólogo e de mecenas das artes. A reprodução da arte era possível, no rumo que o Estado apontava[10].

A Associação Francisco Lisboa continua a sua ação como uma das forças do sistema de artes do Rio Grande do Sul.


Antes dela surgiram outros grupamentos de artistas plásticos que já desapareceram ou estão desativadas. Já em novembro 1913, reuniu-se uma efêmera associação num “Centro Artístico” ao redor de uma exposição de Pedro Weingärtner[11] em Porto Alegre, conforme Doberstein registrou (1999:91). O Salão de Outono de 1925 também foi fruto de
uma associação efêmera, que nasceu dos preparativos do baile de carnaval da Sociedade de Filosofia (Scarinci, 1982: 35) e que se tentou institucionalizar (Revista Máscara, ano VII, no 7, jun 1925). Nesta associação estavam vários membros do ILBA-RS como Fábio Barros e Manuel André da Rocha, além de professores da época do Instituto, como Pelichek, ou futuros, como Fernando Corona. Kern também estudou (1981: 208-214) a ‘Associação Araújo Porte Alegre’ (AAPA), formada, entre 1948 e 1952, por estudantes de Artes Plásticas, Música e de Arquitetura do IBA-RS
[12] e entre 1954 e 1955 a ‘Sociedade de Amigos da Arte’. Scarinci registra (1982: 106) a experiência da Sociedade de Cultura do IBA (SOCIBA), constituída no aniversário do Instituto em 1953 que nos documentos do AGIA-UFRGS[13] descobre-se como uma interface entre a instituição e a sociedade civil, aos moldes de uma “fundação”. A SOCIBA foi desativada em 1958, dando lugar à ‘Associação Cultural dos Ex-Alunos do IBA-RS” [14], que foi responsável pela experiência da Escolinha de Artes do Instituto[15].


A necessidade de o artista plástico buscar novas formas de se associar[16] como uma das condições para a reprodução da arte derivava do plano mundial como na Europa ao longo de século XIX[17]. O artista plástico transforma a sua contradição em complementaridade, levando o seu trabalho isolado em buscar o seu oposto: a associação. Em Paris, Meissonier, Puvis de Chavanes e Rodin cindiram a “Société nationale des beaux-arts”, criada no dia 15 de junho de 1882, constituindo, por sua vez, em 1890, Société des artistes français” (SAF), segundo Monnier (1995: 269). No Rio de Janeiro os artistas plásticos lançaram, em 1919, a Sociedade Brasileira de Belas Artes” com estudantes da ENBA, conforme relata Miceli (1996: 156). Zanini se refere (1983: 579) ao Grupo Bernardelli que reuniu esses estudantes de ENBA, entre 1931 e 1940. As associações de artistas plásticos de São Paulo geraram versões sindicais, como a transformação da Associação Paulista de Belas Artes em Sindicato dos Artistas Plásticos e até proletárias, como do Grupo Santa Helena.



BIBLIOGRAFIA

ALVES, José Francisco. A Escultura pública de Porto Alegre – história, contexto e significado. Porto Alegre : Artfolio, 2004, 264 p. : il ISBN 85-99012-01 -0 CDU: 730.067.36(816.51)



CINTRA GORDINHO Margarida LICEU de ARTES e OFÍCIOS de SÃO PAULO : missão de excelência [org. ]. São Paulo : Marca D’Água. 2000, 282 p. de Azevedo Ramos em São Paulo



DENIS, Rafael Cardoso, « A Academia Imperial de Belas Artes e o Ensino Técnico» in 180 Anos de Escola de Belas Artes. Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro:EBA,1997.pp.181/195.


GAY, Peter Guerras do prazer: a experiência burguesa: da Rainha Vitória a Freud - São Paulo : Companhia das Letras 2001 349 p.

SOUZA, Pedro Luiz Pereira de[18],. ESDI: biografia de uma idéia. Rio de Janeiro : EdUERJ, 1996. 336p.


WILLIAMS in CASTO GOMES, Ângela. Capanema: o ministro e seu ministério. Rio de Janeiro : Fundação Getúlio Vargas, 2000 . pp.215-269.




[3] - Romano Reif, como toreuta foi responsável inúmeros quadros de formatura em diversos estabelecimentos de ensino da época, identificados com a assinatura ‘ROMANO’ que escolas tradicionais da época ostentam em Porto Alegre. Ele é nome de Biblioteca Pública na Vila do IAPI de Porto Alegre.[ http://www.cultura.rs.gov.br/principal.php?inc=complx_publ] A inovação de Romano que permanece no final do século XX é uma firma (Madelâmina –Bairro Navegantes) que comercializa chapas aglomeradas sintéticas, como prolongamento de sua oficina de marcenaria Sua filha Margarida Reif, foi aluna do Instituto, formou-se em escultura com o prof. Fernando Corona.

[5] - MONDIN, Guido Fernando. - Bairro sem água: reminiscências do 4o distrito. Porto Alegre : FEPLAN, 1987, p. 188. Mondin presidiu o Instituto Histórico Geográfico de Brasília – DF - onde veia a falecer no dia 18 de maio de 2000.


[6] - Nesse Salão de Outono de 1925 estavam expostos os trabalhos de Judith Fortes e de João Fahrion, A referência a José Rasgado Filho é : “ José Rasgado Filho, o ‘Stellius’ que os leitores de ´Mascara´ admiram, expõe seus expressivos desenhos Revista Máscara, Porto Alegre, ano VII, nº 7 , jun. 1925 s/p.


[7] Na lista dos fundadores da Associação Francisco Lisboa, que praticam o mesmo gesto altruísta de enviar obras ao Salão do IBA-RS, estão Carlos Scliar, Guido Mondin Filho, João Faria Vianna, Judith Fortes e Júlia Felizardo.


[8] - Depoimento informal, ao autor, de Carlos Petrucci sobre o gesto de Iberê Camargo, seu colega na Secretaria de Obras Públicas do Estado. Petrucci foi enfático em relação a intensidade e a veracidade da expressão “vida ou morte” que acompanhou a escolha pela arte realizada por Iberê Camargo.

[10] - Esse rumo, apontado pelo Estado Novo, trazia, às vezes, conseqüências dramáticas. Foi o caso da Editora do Globo que quase naufragou devido a um gesto de Gustavo Capanema. Bertasso escreveu (1993, p. 29) que “em 1942, quando a seção da Livraria do Globo havia chegado ao auge de sua capacidade de publicação de livros nas suas diversas linhas editoriais a empresa foi brutalmente atingida pela reforma de ensino orquestrada pelo ministro da Educação, Gustavo Capanema [ ...] ministro da ditadura Getúlio Vargas, com a melhor das intenções para o ensino brasileiro, por pouco não fez soçobrar a seção da Livraria do Globo encarregada dos livros didáticos”. O ministro, ao mudar o programa de ensino sem avisar a ninguém, tornou obsoletos praticamente todos os livros didáticos já impressos na Globo, e que tiveram de ser transformados em papel velho, com enormes prejuízos para a empresa.

[12] - Conferir «Associação Araújo Porto Alegre» in Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume XCVI, ano VIII no 596, 29.12.1979, pp. 8/10. Procurar Estatutos da Associação Araújo Porto Alegre , disponíveis no Serviço de Registro Civil das Pessoas Jurídicas de Porto Alegre, inscritos sob nº 50.022 no Livro A, nº 4 do Protocolo em 02 de abril de 1947.


[13] - Atas da SOCIBA Sociedade de Cultura do Instituto de Belas Artes (22/04/1953 – 1958) SOCIBA: Programas e estatutos - 1953 - 1958

[14] - Entrevista informal com o autor, em 17.12. 2001, com Iara de Mattos Rodrigues que estagiou na Escolinha de Artes do Rio de Janeiro de Augusto Rodrigues, financiada pela Associação de Ex Alunos do IBA-RS.

[15] - Além dos diversos textos pedagógicos produzidos por Iara Mattos Rodrigues, para conhecer os vínculos institucionais da Escolinha de Arte, mantida pela Associação Cultural dos Ex-Alunos do Instituto de Artes da UFRGS, pode-se compulsar o processo dirigido ao Reitor Tuiskon Dick e que recebeu o n.o 23078.028061/91-44 no Protocolo Geral da UFRGS no dia 24.06.1991 as 11h24min.

[16] - Entre as formas para associar artistas é possível incluir o espaço virtual http://www.artistasgauchos.com.br/

[17] - Peter Gay escreveu (2001, p.84) "as associações privadas de artes que surgiram por volta de 1800 em vários países e se multiplicaram no século XIX - em 1896 havia noventa dessas associações, com cerca de 100 mil membros por toda a Alemanha - participavam do empreendimento didático com exposições e leilões"


[18] - Pedro Luiz Pereira de Souza - Paulista de Araraquara – sobrinho-neto do presidente Washinton Luiz - optou pelo Rio de Janeiro em 1968. Formou-se em Desenho Industrial pela ESDI, Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde ensina desde 1972. Nesse período participou do desenvolvimento de pesquisas e projetos para o Ministério da Indústria e do Comércio e para o Ministério da Educação e Cultura, entre eles o Manual para planejamento de embalagens e Móvel pré-escolar e Móvel para escolas da zona rural do Nordeste. Em 1980 foi convidado para estruturar uma nova escola de design, a Faculdade de Desenho Industrial Silva e Souza, dirigindo-a de 1981 até 1986. Retornou à ESDI, sendo eleito, por unanimidade, seu diretor em 1988, cargo que exerceu até 1992. Há 25 anos realiza trabalhos de pesquisa e reflexão teórica sobre design, tendo publicado diversos trabalhos e artigos. O mais recente é o livro ESDI: Biografia de uma Idéia. http://www.esdi.uerj.br/graduacao/professores/email.shtml e

Ricardo Ohtake