domingo, 13 de junho de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 04

PORTO ALEGRE a CIDADE AÇORIANA .e a sua ARTE .


A vila, e depois cidade de Porto Alegre, era o centro da afluência das famílias e dos donos de fazendas que se empenhavam na conquista lusitana do território sul-rio-grandense. Esta afluência de fora para dentro era uma urbanização distinta daquelas do Nordeste, onde esta fluência vinha da cidade para o campo. O processo da urbanização vinda do campo pode ser constatado na maioria das atuais cidades do Rio Grande do Sul. A grande distinção - que confirma a regra - foi a fundação oficial da Colônia do Sacramento (1680) e o assentamento efetivo da cidade de Rio Grande (1737).


Porto Alegre só viria a ser capital do Continente do Rio Grande do Sul, em 1772, depois desta ser experimentada em Rio Grande em Viamão (1763) e Rio Pardo. O “Porto do Ornellas”[1], nunca foi atacado militar e formalmente pelos espanhóis. Com estas características tornou-se progressivamente um ponto logístico para a Coroa Lusa ocupar o território que lhe concedera, em 1750, o Tratado de Madrid. Para povoar este vasto território do Continente de São Pedro do Rio Grande do Sul, a corte portuguesa estimulou a imigração vinda das ilhas dos Açores[2].


Os açorianos fizeram de Porto Alegre um ponto de apoio decisivo e estratégico na ocupação desta região em permanente conflito. Com estes imigrantes, Porto Alegre tornou-se, ao longo da 2ª metade do século XVIII e 1ª metade do XIX, uma cidade com as feições e o modo de vida dos açorianos.





Os açorianos impulsionaram a agricultura de subsistência para a qual os nativos tinham pouca experiência, tempo e gosto. Os novos chegados possuíam padrões de homens sedentários e de agricultores. Acostumados às pequenas ilhas de origem modelaram à estas condições as suas habitações, artesanato, diversões, alimentação, agricultura e pecuária. Contudo diante deles estendia-se, contraditoriamente, um continente que não cabiam nas suas medidas e limites mentais. Neste continente começam a plantar o trigo que é moído nas suas azenhas e moinhos de vento.

Se eles projetavam uma cidade de dependência agrícola, ao modelo de suas cidades de origem, a política local mudou quando, em 1763, o governador teve de estabelecer em Viamão a capital do território concedido, em 1750, pelo Tratado de Madrid[1]. Este deu-se por que os espanhóis voltaram contra este tratado, invadiram e tomaram a capital Rio Grande. O governador luso, em vez de fugir pelo mar, refugiou-se no interior do continente para resistir aos soldados de Castela




O governador Dom José Marcelino Figueiredo- futuro marechal de campo luso Manuel Jorge Gomes Sepúlveda (1735-1814)[1] empregou todas as suas energias para mudar esta capital para perto das águas do Guaiba. Para tanto mandou cercar com uma paliçada o topo da pequena localidade açoriana. A vida açoriana concentrava-se os seus interesses ao redor e fluía pela Rua da Praia - do lado contrário do antigo “Porto do Ornelas”. Esta paliçada possuía uma saída [Praça do Portão] para as estradas do Mato Grosso (atual Av. Bento Gonçalves), Caminho do Meio (atual Av. Protásio Alves) e o Caminho Novo. Este Caminho Novo (atual Av. Voluntários) ladeava depois o Guaíba em direção à Aldeias dos Anjos ( Gravataí).





[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Marcelino_de_Figueiredo

http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=350



Dom Sepúlveda conseguiu do Bispo de Desterro ( Florianópolis) em 1772 a denominação para este local de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. A Paróquia foi criada, com esta invocação, no dia 18 de janeiro de 1773. O Governador transportou, em 25 de julho de 1773, para este local todas as autoridades da capital que
estavam em Viamão. Neste mesmo ano esta freguesia capital ganhou o seu plano de urbanização das mãos do engenheiro militar Alexandre José Montanha
[1]. Nesta urbanização a rua da Igreja (atual Duque de Caxias) e a Praça da Matriz (Praça MarechalDeodoro) alinham-se os prédio do Palácio do Governo, da Câmara[2] e da Igreja da Matriz.


A rua do Comércio (atual Rua Uruguai) abrigava a população açoriana mais densa. Ela ganhou, em 1794, a Casa das Comédias a primeira casa teatral. Depois da sua Reforma, em 1804, recebeu o nome de Casa da Ópera e era arrendada pelo Pe. Amaro S. Machado As sessões deste local eram animadas por Maria Benedita Montenegro.


Nas artes é necessário notar a ausência de qualquer retrato individual que não fosse autoridade máxima, bispo ou provedor de santa Casa. As residências individuais estavam privadas de qualquer conforto ou luxo ou ostentação. Este poderia ocorrer na Metrópole ou então nas igrejas e irmandades. Ali os altares, trabalhados pela torêutica, povoaram-se de uma rica imaginária pintada ou esculpida.


Estes fatos locais ocorreram ao longo da política lusitana do Marquês de Pombal e no contexto do auge do Iluminismo europeu. Em Portugal este período é conhecido esteticamente com Dom José I.


No panorama americano estava em andamento a Revolução norte-americana. No Brasil estavam sendo plantadas as sementes das Academias de Letras que foram algumas frágeis expressões da Inconfidência Mineira brutalmente reprimida pelas forças reacionárias que se acumulavam debaixo do manto de Dona Maria I de Portugal[3]. A fuga da corte lusitana ao Brasil escancarou os interesses, a cultura e a presença inglesa sob cuja proteção se deu esta fuga.




[1] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Jos%C3%A9_Montanha


[3] -Veja o texto do Alvará de Dona Maria I de Portugal que proibiu em 05 de janeiro de 1785, as atividades industriais no Brasil http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=978&sid=107&tpl=printerview d


A derrubada dos pelourinhos marcou a independência e o final da heteronomia da Colônia Lusitana. Na Independência a ao longo do período regencial do Império as graves divisões colocaram em confronto os Imperiais e os Farrapos liderados por Bento Gonçalves, Este proclamou a República de Piratiny depois de suas forças haverem tomado Porto Alegre e a perdido.


Aglutinando estes fatos, muitos gostariam fazer desta cidade uma cidade de guerras e de conflitos para explicar como causa única o seu atraso cultural. Athos Damasceno rejeitou poeticamente esta versão ao afirmar (1971, p.449) [1] que:

“certamente, as lutas que tivemos de sustentar desde os tempos recuados da Colônia, na defesa de nosso território e na fixação de suas fronteiras, em muito entorpeceram e retardaram nosso processo cultural. Não, porém, tanto quanto seria natural que ocorresse, uma vez evidenciada historicamente a belicosidade crioula, arrolada por aí, com um abusivo relevo, entre virtudes que nos compõem a fisionomia moral. Nossa história está realmente pontilhada de embates sangrentos. Mas lutas e guerras não foram desencadeadas por nós, senão que tivemos de arrostá-las compelidos pelas circunstâncias. Nunca deixamos de ser um povo amante da paz. E, em nossos anseios de construção, sempre desejosos dela. Tropelias e bravatas de certos gaúchos em disponibilidade forçada, não têm o menor lastro Histórico: pertencem aos domínios da anedota que os próprios rio-grandenses exploram, com malícia, para a desmoralização daqueles que o fazem, com malignidade”.


Mas esta explicação dada pelos “rio-grandenses em disponibilidade” esconde as causas mais profundas e primárias deste atraso. Uma delas é a origem cultural do imigrante que aportou aqui em grande penúria. Se não vieram forçados, na simples condição oficial e aviltante de escravos, ou então como sobra rural dos povos europeus que estavam entrando na era industrial.



[1] - DAMASCENO, Athos. Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900) Porto Alegre : Globo, 1971. 540p.



Nova infra-estrutura em grande parte alavancado no ouro brasileiro que o lusitano devia às outras nações como consequência de tratados equivocados como o de Methuen[1] de 27.12.1703.


Hippólytho José da Costa, um filho da Colônia do Sacramento, sustentou a visão do mundo inglesa pelo seu “Correio Braziliense[2] de 01.06.1808 até 01.12.1822. O Diário de Porto Alegre foi, em 01 de junho de 1827, o primeiro jornal local[3]. Ele teve 292 números impressos e durou até 1828.


A origem étnica dos açorianos é diferente do luso, pois seus antepassados são do Flandres medieval. Os seus hábitos são profundamente moldados pelo trabalho, pelo lar e pela religião pré-tredentina[4]. As suas igrejas são pequenas cavernas escuras em plena luz solar. O lar resume-se a pequenas casas “cachorro sentado”[5] enfileiradas em alinhamentos democráticos formando estreitas vielas. O trabalho voltou-se ao seu alqueire rural recebido pelo seu contrato de imigração e tratado carinhosamente, Este trabalho rural dava-lhes um parco sustento e que ia e tornando opção única a medida que se afastavam do litoral e abandonado o habito da pesca marítima cultivada nas sua ilhas de origem.


As suas canções são confidenciais como ainda é possível surpreender nos profundos núcleos que eles constituíram no litoral sul-rio-grandense e nos bairros que forma a Cidade- Baixa de Porto Alegre


A cidade recebeu em 1823 a visita de Auguste Saint Hilaire (1779-1853) que registrou nos seus diários a contraposição do sul-rio-grandesne ao espírito dos mineiros[6].



Veja alguns textos correlatos a este tema.


MUSEU de ARTE do MOSTEIRO da LUZ - Apresentação de Carlos Antich -Intr. Pe. Antonio de Oliveira Godinho – Fotos de Gui Von Schmidt São Paulo : Artes . 1987, 180 p. il


VALLADARES, José Gisella – As Artes Plásticas no Brasil – Prataria. Rio de Janeiro : Tecnoprint, 1968, 208 p. il

TAQUARI e os AÇORIANOS

http://www.taquari-rs.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=48&Itemid=37


VILARES, Alfredo Augusto Varela de Guerra civil no Brasil Meridional (1835-1845) Porto Alegre : EdiPUCRS, 2008, 303 p.

Leia mais em relação ao historiador Alfredo Augusto VARELA de VILARES em:.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfredo_Augusto_Varela_de_Vilares




[5] - Ler poesia da Mário Quintana sobre “casa cachorro sentado” em seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/view/5089/2898

[6] - SAINT HILAIRE, Auguste 1779-1853 Aperçu d'un voyage dans l'intérieur du Brésil, la province Cisplatine et les missions dites du Paraguay Correspondant de l’Académie des Sciences. ( Extrait des Mémoires du Muséum d'Histoire Naturelle, 5e. année, t. 9.}, Imprimerie de A. Belin : Paris, l823, 73 p Dedicatória de Saint-Hilaire ao Monsieur L'Abbé Correa

http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search

Nenhum comentário:

Postar um comentário