domingo, 6 de junho de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 03

03 – PORTO ALEGRE antes do AÇORIANO e a ARTE.


Quando o projeto lusitano se expandiu para além das terras delimitadas as pelo Tratado de Tordesilhas (07.06.1494)[1] e rumo ao Sul, a 1ª conquista já amadurecera no Brasil. Esta Coroa era proprietária legal, por este Tratado, até a atual cidade de Laguna. Contudo o lusitano fez território de sua conquista de Laguna até o Rio da Prata, com limite Oeste no Rio Uruguai. Pelo lado do litoral desta conquista o jesuíta português fez contatos , em 1605, com os índios Tapes. Pelo lado do Rio Uruguai o jesuíta espanhol fundou as, a partir de 1625, as suas Missões. Por este lado
os paulistas foram derrotados em M’Bororé no ano de 1641
[2].


Com a criação em 1680 da Colônia do Sacramento[3] a grande jogada lusitana aconteceu neste tabuleiro de fronteiras móveis e de indecisões seculares. Cidade criada no estilo clássico a partir do pelourinho lusitano, do forte, das casas urbanas e antes de ocupação dos campos adjacentes.


A constante circulação dos bandeirantes, depois do fracasso no Rio Uruguai, voltou-se para explorar a Depressão Central do atual estado do Rio Grande do Sul. Ali pastavam imensas manadas de gado pastoreadas pelos Tapes “amigos de mais de um século” segundo registro de 1635 da Câmara de São Paulo.


O reino lusitano encontrou um vigoroso ponto de apoio sua conquista na área geográfica ocupada pela atual Porto Alegre. O local era estratégico e que seria confirmado, em 1772, depois a sua escolha para a 3ª capital do Rio Grade do Sul.



Antes da escolha oficial as adjacências dos rios formadores do Guaíba passarem a constituir-se em local natural de afluência informal de uma rede de fazendeiros e peões. Começou assim um longo ciclo de boiadas e de tropeiros de gado. Estes comboios tinham um dos seus centros de concentração na várzea onde se encontra hoje o parque Farroupilha de Porto Alegre. Dali partiam as pontas de gado que serão engrossadas em Viamão que se deslocavam para Conceição do Arroio através de Passinhos. Após 1750 a Aldeia dos Anjos será outro centro das boiadas, com pousadas em Glórinha e Santo Antônio da Patrulha. Estas juntavam-se às tropas que subiam de Cidreira. As duas pontas passavam por Tramandai. O destino seguinte será Torres, Laguna, Curitiba e Sorocaba, Estas tropas irão engrossar e se intensificar após a descoberta da minas de ouro de Minas Gerais (1695) e o abandona da agricultura do planalto paulista.

A partir de 1725 s colinas graníticas da margem oriental da “Lagoa do Viamão” assistem periódicas concentrações e partidas de gado tangidas pelos capatazes e peões do madeirense Jerônimo Ornelas Meneses e Vasconcelos (1691-1771)[1]. Este traz a família, por volta de 1735, e a instala num solar a moda madeirense e a cavaleiro das colinas na Fazenda de Sant’Ana. Às margens do Guaíba começou a se formar o “Porto do Ornellas”.


O “Porto do Ornellas” prosperou a partir da afluência de criadores de gado e do meio rural. A sua nuclearização - ao contrário das Missões e das cidades nordestinas - não nasceu da implantação de igrejas e de fortes que depois se espraiaram para o hinterland. O processo de nuclearização de fora para dentro resultou da afluência destes peões de fazendas, de suas famílias e dos donos para constituírem uma urbanização distinta daquelas do Nordeste e das próprias Missões jesuíticas. Talvez este aspecto de sua criação do somatório de vontades individuais tenha influído definitivamente na sua genética e que tenha sida razão para Dom Sepúlveda elevá-la à capital de uma região que tinha um longo históricos de atritos e de acordos com os súditos da Coroa de Castela.

Evidente que as expedições exploratórias, à margem da política oficial das duas coroas, muitas vezes sigilosas e desmentias pelos seus promotores ou que as sustentavam, não deixaram muitos documentos escritos ou se existem necessitam credenciá-los às ideologias dos interesses em jogo.


[1] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B4nimo_de_Ornelas_Meneses_de_Vasconcelos




Pintura de Círio SIMON – maio 2010 acrílico sobre papel craft 66 cm x 48 cm

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Perto da linha da água, na desembocadura do Arroio Dilúvio, entre as atuais ruas Espírito Santo e Gen. Auto, começam a reunir-se o ranchos coberto de palha dos agregados, formando o “Porto do Ornelas”. Aos poucos se estendeu pela “Rua da Margem” (atual João Alfredo). Jerônimo recebeu, em 1740, o título definitivo sobre a légua de sesmaria que ocupava grande parte do território da atual Porto Alegre.


Nestes cenários instáveis e provisórios os historiadores de arte de Porto Alegre pouco encontram de obras dignas de estudo e de seu registro.


Na atualidade o hábito do churrasco[1] parece ser um hábito comum aos povos e etnias em constante mobilidade deslocando-se ao lado do gado chimarrão. O churrasco parece incorporar o hábito indígena do moquém[2] usado por eles no preparo das carnes de suas caças e pescados, nas suas diversas maneiras de preparação.


O hábito das permanentes migrações preservou traços profundos do nomadismo e expressos na sua arte. Neste ciclo a humanidade aplicava a sua arte ao seu próprio corpo, à sua montaria e aos objetos transportáveis nos seus primitivos carroções de duas rodas.



[1] - Este hábito possui reflexos no mercado imobiliário de Porto Alegre onde há muita dificuldade para vender um apartamento sem churrasqueira. Ou então as imobiliárias fazem deste quesito um atrativo para seduzir o seu cliente.

Na atualidade a arte que possui o couro como matéria prima passou ao nível de bens simbólicos deste período semi-nômade. A arte dos seus tentos ultrapassa, em muito, a simples utilidade do laço, dos calçados e da selaria. Na busca de suas origens, permaneceu o cultivo do hábito e do pensamento do período heróico, enquanto remanesceram poucos objetos originais do período, devido a natureza deste suporte físico.

As vestimentas variadas e anteriores às suas tipificações estilísticas e formais de sua produção industrial, produz uma peça independente das séries agrícolas intensificadas na era industrial.


Esta época também marca o ingresso dos metais nesta região. Metais preciosos, como a prata, aplicada aos adereços pessoais para o cavaleiro como distintivos, botões, adereços e enfeites das cuias e bombas de chimarrão sem falar das moedas variadas da numismática da época. Os metais úteis destinavam-se às suas montarias, formando uma galeria de aplicações nas selas, nos arreios ou ferraduras. Junto às comitivas figurava o ferreiro para os cavalos, trempes, panelas, chaleiras e carroças.

O hábito do chimarrão, com e os seus utensílios, também são herdados do indígena. Este hábito foi cultivado zelosamente e incorporado, na sua singeleza, pelas diversas etnias e gerações. No seu trânsito todas as épocas, técnicas e hábitos, que o hábito do mate atravessou, formou uma grande roda intemporal onde todos sentem-se como iguais.

ALGUMAS FONTES BIBLIOGRÁFICAS

PARALELAS a ESTE TEMA



DAMASCENO. Athos. Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900). Porto Alegre : Globo, 1971, 520 p



FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre.: guia histórico. Porto Alegre : UFRGS, 1983, 441 p.



GOLIN,Tau. A Guerra Guaranítica: como os exércitos de Portugal e Espanha destruíram os Sete Povos dos jesuítas e índios guaranis no Rio Grande do Sul. (1750-1761). Passo Fundo : PUF e Porto Alegre : UFRGS, 1998, 624 p.



KERN, Arno Alvarez. Antecedentes indígenas. Porto Alegre : UFRGS, 1994, 144p.



LANGER , Protásio Paulo. A Aldeia Nossa Senhora dos Anjos: a resistência do guarani missioneiro no processo de dominação do sistema luso. Porto Alegre : EST, 1997, 128 p.



MACEDO., Francisco Riopardense de. ( ) A Arquitetura no Rio Grande do Sul . in RIOGRANDE do SUL: Terra e Povo. Porto Alegre : Globo 1964

---------------Porto Alegre: história e vida da cidade. Porto Alegre : UFRGS, 241p.

________. Porto Alegre: aspectos culturais. Porto Alegre : SMED/Div. De Cultura, 1982, 122 p.



ORNELLAS, Manoelito Máscaras e Murais da Minha Terra. Porto Alegre : Globo, 1966



PORTO - ALEGRE, Apolinário (1844-1904).Populárium Sul-Rio-Grandense (2ª ed). (Lothar Hessel Org.)

Porto Alegre : UFRGS, 1976, 429p.


SPALDING, Walter Construções do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Globo, 1966

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