domingo, 30 de maio de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 02


A BUSCA de FORMAS do ESTUDO e da COMPREENSÃO da


ARTE INDÍGENA em PORTO ALEGRE.


Foto de Círio SIMON – maio 2010

Fig. 01 – Artesanato plumário de projeção da arte indígena exposta no Brique da Redenção de Porto Alegre 2010



As manifestações artísticas, de qualquer cultura, estudadas a partir do repertório do nosso tempo e cultura, corre o sério perigo de incompreensão e falsificação. As manifestações humanas, que ocuparam o atual território de Porto Alegre, a serem submetidas aos paradigmas ocidentais nos quais predominam a onisciência, onipotência e a busca da onipresença de conceitos estéticos, mais atrapalham do que ajudam. No bojo da cultura européia desenvolvem-se conceitos que foram muito testados e submetidos a rigorosas avaliações e das quais poucos europeus possuem consciência clara e objetiva.


Manejados por mentes despreparadas, estes conceitos subliminares, inibem mais e aniquilam as manifestações de uma cultura como aquele era vigente no território onde iria afirmar-se a arte e cultura de Porto Alegre antes desta cultura européia. O estudo da arte indígena, por meio das concepções européias hegemônicas, necessita de extremos de cautela, apesar de seguir estágios que as culturas mais avançadas também já trilharam[1]. Internamente o indígena também não separava a Arte das demais manifestações de sua própria vida e cultura.

[1] - Mesma na cultura ocidental européia, se o estudante partir dos conceitos que animam as obras de Leonardo da Vinci irá achar limitada a origem deste culturas quando se manifesta na época de Dúcio e Giotto de Bondone




Gráfiico de Círio SIMON – maio 2010


Fig. 02 – Porto Alegre – A infra-estrutura e o poder humano na diacronia e sincronia;


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No início do século XXI, a etnia, a cultura e a arte dos povos dos primeiros a chegar a este recanto do planeta - possuem vida que ostenta ainda a sua identidade nas ruas e nas praças de Porto Alegre. A vida tribal e do clã orienta a sua estrutura política. Não tomam posse da terra, pois o espírito de posse individual não é da sua cultura.





Desenho de Círio SIMON – maio 2010


Fig. 03 – Primitivo cenário imaginado pelo autor e ambiente que poderia estar disponível ao indígena no atual sítio de Porto Alegre






Os primeiros seres humanos a chegar a este recanto do planeta, vaguearam nela ao longo de muitos séculos, sem pressa e ao sabor da Natureza e dos seus ciclos.




Ao rarearem os produtos naturais que coletavam, como ariticuns, pitangas e butiás, alguns trouxeram ou desenvolveram lentamente a fabricação rudimentar de objetos de apreensão e de caça. A caça lhe oferecia antas, macacos, veados, emas e jacus. Na apreensão da pesca uma variada gama de peixes além da coleta de mexilhões. A sobreposição das camadas do acúmulo dos restos como as conchas, ossos e cinzas da suas fogueiras constituem livros abertos para a decodificação do modo de vida e da cultura destes seres humano. Estes sambaquis indicam idade que variam de 6 a 7 mil anos.





Fig. 04 – Cerâmica e alimentos disponíveis ao indígena que ocupava o atual sítio de Porto Alegre






A direção destas ocupações parecem indicar a sua origem vinda do Oeste e
do Norte. No interior das sucessivas ondas culturais que ocuparam a América alguns grupos involuíram cultural e artisticamente. Naqueles que encontraram pela frente espaços geográficos mais favoráveis , pode-se perceber vestígios arqueológicos a permanência ou a involução aos seus hábitos de coleta e abandono de técnicas superiores. Estas técnicas superiores levaram para civilizações elaboradas, especialmente nos grupos que tiveram de vencer os desafios de uma natureza avara e de uma elevada densidade demográfica como aquelas da América Central e dos Andes.




Quando os primeiros europeus chegaram a este recanto, onde se situa hoje
Porto Alegre, o encontraram ocupado por grupos de caçadores. Neste campo de caça da tribo dos Tapi-Mirim. Estes haviam obrigado os coletadores primitivos a migrar para terras mais inóspitas das serranias onde ocorrem as nascentes do diversos rios que formam o rio Uruguai ou a bacia do Guaíba.




Os vestígios de suas armas são as machadinhas líticas, o tacape de madeira de lei, o arco e as flechas. Estas tinham elaboradas pontos em forma heleicoidal e com penas amaradas na de direção na mesma disposição.




A cerâmica que se encontrava no Morro do Osso, em Porto Alegre, era feita com cilindros de argila, enrolados e sobrepostos e ligados por incisão ungular. As mais elaboradas apresentam vestígios de engobe rudimentar.




A linha melódica - dos seus cantos e músicas - orienta-se por uma sucessão de sons monocórdios dispostos em ascensões e quedas sucessivas e contínuos. Estas melodias eram ritmadas por maracás, tambores, chocalhos e e sustentadas por flautas das mais diversos formatos[1]. Não há registro, anterior aos europeus, de instrumentos musicais indígenas de cordas.













[1] Ouça Música guarani e veja http://www.youtube.com/watch?v=74HnhdsJ5dI&NR=1 o violão é herança dos europeus espanhóis das Missões. Neste vídeo é usado apenas para acompanhar o ritmo.






Desenho de Círio SIMON – maio 2010


Fig. 05 – A lenda da Obirici






Suas lendas tentam interpretar os seus contatos diretos e íntimos com a natureza. Os homens são criados a partir de árvores que aprenderam a andar e os amores frustrados de Obirici[1] - pelo filho do cacique - são transformados em lágrimas origem das águas de um riacho do local, que depois, será conhecido como Passo da Areia.




Ao longo do século XVI o tempo do primitivo habitante - do que será depois Porto Alegre - se acelera e produz um salto mortal para a sua cultura acostumado com o ritmo natural. Ao mesmo tempo animais estranhos penetram no seus campo de caça. Um é o cavalo e outro é bovino depois os muares e os ovinos. Soube adaptara este animais aos seus costumes que procuravam não predar o meio em que vivia antes. As etnias charruas e os minuanos transformaram o cavalo em ajudante nas suas guerras. A etnia tape preferem usá-lo para acompanhar os rebanhos de bovinos e muares que se multiplicaram de uma forma vertiginosa. Estes rebanhos começaram a despertar a cobiça dos introdutores destes animais no continente. Atrás dele não tardaram aparecerem os bandeirantes, os jesuítas, os portugueses e os espanhóis.






Foto de Círio SIMON – maio 2010


Fig. 06 – Artesanato de projeção da arte indígena exposta no Brique da Redenção de Porto Alegre 2010






O índio sente-se mais a vontade com a presença do jesuíta, ainda que contrariado. Por meio de rituais, da dança, da música e com o uso de uma língua geral aprende os rudimentos de cuidara de plantas e maneiras novas de construir as suas primitivas aldeias.




Contudo sente-se pouca a vontade com a agricultura. Era estranho para o homem guerreiro cuidar de vegetais quando sabia a que era descendente de árvores que começaram a andar. Desde os tempos imemoriais lhe haviam ensino que o aipim havia nascido do corpo de Mani e o se cultivo era destinado às mulheres. Ele preparava para ela as queimadas da coivaras.




O ardor do primitivo guerreiro e do caçador, encontrou no cavalo uma forma de tornar-se um excelente ginete. Nesta condição não era raro encontrá-lo tangendo o gado que se multiplicava livremente nos seus campos de caça.




De um lado estava pronto para tornar-se peão de estância do jesuíta e outros aventureiros que se arriscavam nestas paragens. Mas, de outro lado, no seu orgulhoso isolamento cultural, não lhe satisfaziam os miseráveis toldos, das piores terras que o invasor dos seus campos de caça.




Nos cíclicas aproximações e isolamentos chegou ao século XXI aspirando a preservar a sua identidade e recuperar os espaços geográficos que ele sabe como sagrado pela sua tradição oral. Nas suas interações, cada vez mais freqüentes com a cultura adventícia, ele não consegue acompanhar o ritmo desta[1].










[1] - Conforme a informação da prefeitura de Porto Alegre ali vivem três povos indígenas, no início do século XXI da nossa era, (Guarani, Kaingang e Charrua). Cada um deles tem identidade própria: cultura, língua, crenças e costumes. A fonte de subsistência dos Guaranis e Kaingangs é o artesanato e o cultivo de pequenas roças.


Kaingang: cestarias confeccionadas a partir do cipó e da taquara; coleta de ervas e alimentos nos campos e matas da região.


Guaranis: produzem esculturas em madeira e cestarias com fibras de taquara. Também cultivam espécies de uso alimentar (batata, feijão, milho, amendoim, cana de açúcar, abóbora) e fumo.


Charruas: produzem artesanato e projetam o cultivo e a criação de pequenos animais como uma atividade produtiva que pretendem efetivar.





Foto de Círio SIMON – maio 2010


Fig. 07 – Cestaria de projeção do artesanato indígena exposta no Brique da Redenção de Porto Alegre 2010





Face a este descompasso há necessidade da continuação da cautela para seguir os estágios da arte das primeiras etnias a chegar aos campos onde se edificaria Porto Alegre. A dúvida que o próprio indígena vive - em relação ao que o europeu denomina arte - atualiza questões já vencidas e já incorporadas nas culturas mais avançadas. Dúvida que o mantém firmemente ancorado nas demais manifestações de sua própria vida e cultura e constitui um patrimônio único e insubstituível da civilização


Fontes bibliogrfiacas



ASSIS BRASIL, Luiz Antônio de «Indios» in Zero Hora : Porto Alegre, ano 40, no 14.083, p. 20, 3a coluna, Domingo 14.03.2004



GUIDO, Ângelo O reino das mulheres sem lei: ensaio da mitologia amazônica. Porto Alegre ; Globo – 1937 –




LANGER , Protásio Paulo. A Aldeia Nossa Senhora dos Anjos: a resistência do guarani missioneiro no processo de dominação do sistema


luso. Porto Alegre : EST, 1997, 128 p.



PORTO - ALEGRE, Apolinário (1844-1904).Populárium Sul-Rio-Grandense (2ª ed). (Lothar Hessel Org.) Porto Alegre : UFRGS, 1976, 429p.



RAMIREZ, Hugo et alii. O índio no Rio Grande do Sul : perspectivas. Porto Alegre : CORAG, 1975, 195 p.



INSTITUIÇÔES



Museu Antropológico de Taquara http://www.cultura.rs.gov.br/principal.php?inc=marsul



Registro de contatos de europeus com o indígena ao longo do século XVI.



ANCHIETA José de, (1534-1597) Arte de grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil Feyta pelo padre Ioseph de Anchieta da Cõpanhia de IESV. Com licença do Ordinario & do Preposito geral da Companhia de IESV. 1595 [1]



CABEZA DE VACA Naufrágio & comentários Alvar Núñez; tradução de Jurandir SOARES DOS Santos 2 ed Porto Alegre : L&PM, 2009 240 p


CARDIM Fernão, (1540-16250 Do principio e origem dos indios do Brasil e de seus costumes, adoração e ceremonias - 1881[2]



STADEN Hans, ca. 1525-ca. 1576 Hans Staden : suas viagens e captiveiro entre os selvagens do Brasil tradução direta em português a partir do texto original de 1557. Revista do Instituto Histórico e Geographico do Rio de Janeiro, volume 55, parte 1 1900[3]









[1] - Ver texto na Coleção Brasiliana USP http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/00059200




[3] Veja o texto traduzido na Coleção Brasiliana USP http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01737100



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