terça-feira, 25 de maio de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 01



Porto Alegre singulariza-se pela localização geográfica no paralelo -30º, o que a torna a capital mais meridional do Brasil. Ela encontra-se sob o influxo tanto do frio das correntes Antárticas como da circulação do calor e umidade amazônica, sem os rigores dos extremos destas duas regiões.



Geologicamente estabilizado sobre um escudo granítico e, ao mesmo tempo, muito bem irrigado pela convergência dos rios que formam o Guaíba.


Desenho de Círio SIMON

Fig. 01 – Porto Alegre, o Lago Guaíba e as cidades da Região Metropolitana.

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Economicamente Porto Alegre é o local da convergência, da distribuição e da comercialização das riquezas geradas no estado do Rio Grande do Sul e que não possui reservas naturais de difícil exploração. Riquezas que impõe muitos esforços e trabalhos para torná-las produtivas.

Entre infinitas concepções e dívidas, se aceita ARTE como um fenômeno humano. Esta criatura reage às suas circunstâncias naturais e sociais ao conceber, produzir e deixar signos sensoriais que constituem documentos físicos simbólicos. Estas obras de arte ultrapassam aqueles que os produz. Como tais constituem-se em documentos do tempo e dos diversos condicionamentos vividos por esta criatura humana. Também se aceita a não existências de obras de arte num determinado período e lugar. Esta ausência denuncia as circunstâncias da criatura humana que vive ainda sob o rigor da natureza ou é condicionado por necessidades básicas ainda não satisfeitas.


Desenho de Círio SIMON

Fig. 02 – A cultura de Porto Alegre vista a partir do presente.

O ser humano, que vivia as suas circunstâncias na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, no início do século XIX, foi visto pelo olhar do estrangeiro Auguste Saint Hilaire que anotou (1823. p.54):

Quando o viajante entra na capitania de Rio Grande impressiona-se com a beleza de seus habitantes, pelas suas fisionomias agradáveis, pelas cores e vivacidade que os animam, pela liberdade que eles mostram nos seus comportamentos[1].





[1] “Lorsque le voyageur entre dans la capitainerie de Rio-Grande, il est d'abord frappé de la beauté de Ses habitans,de la fraîcheur de leur teint, des couleurs dont il est animé,de la vivacité de leurs mouvemens, de cet air d'aisance et de liberté qu'ils montrent dans leurs manières”.... SAINT – HILAIRE 1823. p.54

- SAINT HILAIRE, Auguste 1779-1853 Aperçu d'un voyage dans l'intérieur du Brésil, la province Cisplatine et les missions dites du Paraguay Correspondant de l’Académie des Sciences. ( Extrait des Mémoires du Muséum d'Histoire Naturelle, 5e. année, t. 9.}, Imprimerie de A. Belin : Paris, l823, 73 p Dedicatória de Saint-Hilaire ao Monsieur L'Abbé Correa




Disponível na Coleção Brasiliana USP - http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/01417800





Desenho de Círio SIMON

Fig. 03 – O passado de Porto Alegre vista a partir do presente.

Um século depois de Saint Hilaire o escultor e o arquiteto espanhol, Fernando Corona (1895-1979), e também estrangeiro, acompanhou, a partir de 1912, a vida dos habitantes de Porto Alegre. Nesta capital privou o seu dia-a-dia e partilhou com a criatura humana na intimidade das motivações do porto-alegrense. Ele anotava (1937, fl 373)[1] no seu diário, onde escreveu

Porto Alegre como capital do Estado é a cidade mais democrática de todas, dando exemplo de fidalguia a qualquer um. A sua riqueza foi conquistada com o trabalho de seus habitantes. Porto Alegre republicana foi sempre, desde sua formação democrática. Não tenho lembrança de ter visto na capital – milionários viver de rendimentos, a não ser o produto do
seu trabalho. Desde que aqui cheguei notei que um simples pedreiro ou carpinteiro já era proprietário de seu chalé mesmo que fosse de tábua. A riqueza em Porto Alegre é muito dividida e os grandes industriais cresceram com o trabalho. A influência das colonizações estrangeiras contribuiu muito para a democratização, pois, ao iniciarem o trabalho da estaca zero, o braço do patrão suou a lado do braço do operário. sempre defendi esse principio, pois todos tem direito e um dever que se crescer na medida do progresso”
.


Este esforço e trabalho coletivo determinam em Porto Alegre um ponto equilibrado de convergência de todas as culturas humanas e que são portadoras de patrimônios de todos os tempos. Constitui-se num ponto de assimilação e irradiador destes encontros e convívios étnicos e culturais, sem que se verifique algum setor que reivindique alguma hegemonia única, irreversível e consagrada.





[1] - “CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amor Manuscrito - Tomo I 302 folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm. Copiado no Arquivo GEDAB Faculdade de Arquitetura. UFRGS

Desenho de Círio SIMON

Fig. 04 – Etapas da cultura de Porto Alegre vistas a partir do presente

Esta perene busca de um equilíbrio homeostático, entre extremos, faz também com que as mais variadas correntes estéticas encontrem em Porto Alegre um lugar e guarida para o seu fluxo renovador em todas as gerações humanas que ali vivem ou já viveram.

Por estas razões torna-se fascinante o estudo deste fluxo da arte em Porto Alegre, Fluxo perene e renovado que necessita, para a sua percepção e estudo, os mais amplos quadros conceituais e um repertório adequado à compreensão destas variações infinitas do saber que procede dos sentidos humanos submetidos a estas circunstâncias

De outra parte a aplicação de tipologias estéticas vigentes em outras áreas culturais continuam a fazer o mesmo mal, ou maior, do que fizeram às altas culturas que se haviam desenvolvido antes da chegada do europeu. Pode-se argumentar que realizam rasias mais profundas e paralisantes devido ao ecletismo que provocam.

De uma forma geral há necessidade de estudos mais extensos e profundos diante de algo ainda não foi sistematizado ou sistematizado em paradigmas alheios e equivocados por não darem conta de sua verdade.



LOCALIZAÇÃO de FORMAS do seu ESTUDO e sua COMPREENSÃO


O granito dos morros que cercam Porto Alegre faz parte de uma das antigas e sólidas rochas do planeta.


Desenho de Círio SIMON

Fig. 05 – Porto Alegre no contexto das capitais do Mercosul de fala hispânica .

Seus morros atingem a cota dos 311 m. enquanto o centro de Porto Alegre encontra-se 4 metros acima do nível do mar e a 100 quilômetros da linha do litoral de Atlântico. Nas primitivas eras geológicas estas colinas ofereciam um barreira natural ao escoamento em direção Leste. O rompimento e aprofundamento gradual da barreira aberta entre morros formou o estuário natural hoje denominado Lago do Guaíba[1]. Os primeiros habitantes a conheciam como “lagoa do Viamão”,

O centro de Porto Alegre encontra-se a –30.º,01’53’’ Sul e a longitude é - 51º. 13’, 19’’ Oeste.

O clima varia entre os extremos médios de 0,7º e 37º positivos com uma média do Verão próximo dos 20º. O vento leste (do mar) ameniza as tardes do verão, enquanto o inverno é rigorosamente batido pelo vento oeste (Minuano).

A vegetação autóctone e que se fixou neste espaço geográfico caracteriza-se por arbustos rústicos e tortuosos. A madeira para a construção de troncos retos vinha dos bosques do interior do estado e em especial as araucárias da serra sul-rio-grandense.



[1] - Uma das características do sul-rio-grandense, e do porto-alegrense em particular, é nunca aceitar algo como dado e pacífico. Até o presente há oposições radicais em relação à denominação do Guaíba. Discute-se ardorosamente se ele é um rio, um estuário ou um lago.

Aceita-se a designação de lago convencido pelo professor:

MENEGAT, Rualdo,et alii --Atlas ambiental de Porto Alegre 3ª. ed. rev. Porto Alegre : Editora da Universidade/UFRGS, 2006 xix, 228 p. : il. color. ; 42 cm + 1 CDRO

No contraditório ver http://www.popa.com.br/docs/cronicas/rio_guaiba_Contestacao_ampla_5-04_ilustrada.htm

Desenho de Círio SIMON

Fig. 06 – O brasão de Porto Alegre no seu contexto e na rede mundial.


Neste cenário desenvolveu-se uma cultura que - vista na sua abrangência maior – permite o seu estudo a partir da ótica contemporânea. Esta sequência será ampliada nos tópicos deste serie de artigos deste blog.


2 - A etnia, a cultura e a arte dos povos - que foram os primeiros a chegar a este recanto do planeta - possuem vida que ostenta ainda a sua identidade nas ruas e nas praças de Porto Alegre. A vida tribal e do clã orienta a sua estrutura política. Não tomam posse da terra, pois o espírito de posse individual não é da sua cultura. O seu estudo, por meio das concepções européias hegemônicas, necessita de extremos de cautela, apesar de seguir estágios que as culturas mais avançadas também trilharam.


3 - Na mentalidade de posse - desenvolvida pelos europeus- a área geográfica de Porto Alegre pertencia ao reino espanhol, pelo Tratado de Tordesilhas (1492). A sua conquista pelo reino lusitano encontrou um vigoroso ponto de apoio de sua primitiva expansão. A arte do e suplantado depois pela 1ª conquista lusitana

4 - Esta 1ª conquista já amadurecera no Brasil quando empreendeu o início a conquista do Sul. Assim o território onde surgiria a vila e depois cidade de Porto Alegre era o centro de uma rede de fazendas e que encontram no Guaíba o porto para realizar o processo da nuclearização. Foi a afluências destas famílias e donos de fazendas constituíram uma urbanização distinta daquelas do Nordeste que nasceram ao pés de fortes e depois se espraiaram para o hinterland. Porto Alegre só viria a ser capital em 1772, depois desta ser experimentada em Rio Grande (1737), em Viamão (1763) e Rio Pardo e um ponto de apoio decisivo para o território concedido à Coroa Lusa pela Tratado de Madrid (1750).


5 - Os açorianos fizeram de Porto Alegre um ponto decisivo na estratégia de ocupação do vasto território do Rio Grande do Sul resultante do extermínio das Missões jesuíticas. Esta cidade tomou as suas feições e modo de vida ao longo da 2ª metade do século XVIII e 1ª metade do XIX.


6 - O Império trouxe os imigrantes europeus para o Sul do Brasil onde eles tinham como se aclimatar melhor do que nas condições do Espírito Santo, Friburgo e nos cafezais paulista onde foram confundidos pelo estatuto da escravidão. Se em Porto Alegre foi deflagrada a Revolução Farroupilha em 20 de setembro de 1835, ela foi reconquistada pelos Imperiais , cercada de muro e sendo atacada constantemente. Feitas as pazes e as forças unidas marcharam para o Paraguai. Em Porto Alegre brotavam as idéias e idéias republicanos na medida em que se adensava a sua população.


7 - Com a crise de 1929 chegava ao fim a política de República Velha e de Porto Alegre partiram as forças centrais da Revolução de 1930. Esta abriu para Porto Alegre o acesso aos meios produtivos da 1ª era industrial.


8 - Porto Alegre reforçou a sua conexão com cultura planetária contemporânea, depois de 1945, através de novos meios numéricos digitais que estavam ao seu alcance. Como vizinha mais próxima das três capitais do Mercosul de fala hispânica.

A mentalidade que pretende orientar estas buscas estéticas sul-rio-grandenses inscreve-se no projeto geral proposto para a arte praticada no Brasil. Em 1942 Mário de Andrade[1] resumia, para a UNE, as idéias da Semana Arte Moderna quando escrevia:



“O direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência nacional [..] A novidade fundamental, imposta pelo movimento, foi a conjugação dessas três normas num todo orgânico da consciência coletiva”


Este projeto de busca da arte em Porto Alegre, segue as concepções aplicadas ao mundo objetivo e que, em termos gerais, são provenientes dos princípios da inteligência, da vontade e do direito à arte.





[1] - ANDRADE, Mario O movimento modernista: Conferência lida no salão de Conferências da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no dia 3 de abril de 1942. Rio de Janeiro :Casa do Estudante do Brasil, 1942, p.45.


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