sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ARTE SACRA SUL-RIO-GRANDENSE - 05

QUANDO ARTE e RELIGIÃO BUSCAVAM DIALOGAR..

A resposta à pergunta “quem sou eu” está inscrita nas interações entre nós mesmos e o outros, mas se nos deixarmos transformar na arte de Deus, obra de sua mãos, então saberemos que nós mesmos podemos ser Cristo uns para os outros” Irvine, 2009, p.17.

IRVINE, Christopher . A arte de Deus: o fazer cristão e o significado da celebração religiosa. São Paulo : Loyola,, 2009, 164 p

Uma obra cinética para ambiente religiosoCorreio do Povo, Porto Alegre : Companhia Caldas Junior, ANO 74, nº 220, 22 de junho de 1969, p. 34.


Esta obra cinética de Clóvis Peretti que está ornamentando, mês que vem, a Igreja São João Batista, à rua Benjamin Constant



UMA OBRA CINÉTICA PARA AMBIENTE RELIGIOSO.



“A novidade nos foi trazida, neste fim de semana, por Círio Simon da Igreja São João Batista e responsável pela Galeria Didática do Colégio São João.


A Igreja São João Batista será o primeiro templo católico no Brasil a contra, em sua ornamentação, com uma obra cinética de autoria do artista Clóvis Peretti. O objeto tem oito metros de altura e foi executado industrialmente em plexiglass, alumínio e cobre, com jogo de som e luz. A obra, a obra que está sendo estruturado, deverá ser inaugurada na Igreja São João Batista no fim do mês que vem, julho.


A obra cinética marca o prolongamento, entre nós, a revolução arquitetônica e decorativa que atinge os templos religiosos.


Círio Simon afirma “Deus é aquele que é. Não tem nome nem imagem. A técnica atual decorre do Criador constantemente. Ela é: não figura. A técnica foi convocada ao templo para dar o melhor de si. Aí está a arte cinética. Aí está a inteligência humana traduzida. O templo convoca assim a industria. Convoca a comunidade que é constantemente por obras cinéticas. Convoca o artista que está pensando arte-movimento. Convoca o cientista que coloca em nossas mãos a técnica. Convoca a aceitar o seu criador sem imagem e sem nome”.



REFLEXÕES



Mais adiante, afirma Círio Simon que “ ainda que em nosso meio até agora não houvesse a possibilidade de criar o próprio ambiente religioso com a totalidade dos materiais contemporâneos colocados à disposição pela técnica moderna a presença de uma peça cinética postula esta experiência a partir de agora”.


Prossegue Círio Simon, em sua reflexões sobre uam obra cinética para ambiente religiosos:


- Aguardando este momento, tratamos de justificara o primeiro passo dado neste sentido em nossa cidade, estado e talvez país. Torna-se assim a presença de um mundo técnico que está nascendo em nossas mãos, colocado num ambiente de passado. Esta tensão desvirtua o sentido global do objeto.


Contudo numa retrospectiva façamos um pequeno histórico dos pontos obtidos. É evidente que a técnica marcou os significados humanos e conseqüentemente alterou o seu repertório lingüístico. A criança ao desenhar atualmente representa objetos cinéticos. Representa a conquista da Lua[1] até o seu pequeno mundo entulhado de objetos eletrônicos. A Arte englobou na sua linguagem e meios de expressão a técnica com todos os recurso.


Numa cultura marginalizada de uma corrente universalista há possibilidade de colher o que há de melhor nesta corrente. Mas acontece que a obra resultante está fora do contexto local em que está colocada. Só o tempo criará uma aura de significados locais.


Na elaboração da obra cinética para a igreja de São João de Porto Alegre tentou-se aproveitar o que se faz de mais adiantado nos melhores centros culturais.


Foi rara a felicidade de encontrar num artista o domínio da eletrônica, da música, da luz, dos elementos plásticos, do desenho técnico, das estruturas de materiais e a linguagem dos elementos visuais. A complexidade desta criação espelha bem a evolução bem a evolução das artes em nosso tempo. Em todas as épocas clássicas esta complexidade criativa existiu. O encontro com Clóvis Peretti determinou a pessoa que poderia trazer todos os elementos ao templo dentro da criatividade artística.


O caminho percorrido depois, envolveu, numa obra, uma vasta gama de pessoas que raramente participavam da criatividade artística.


O ponto de partida foi um esquema de Peretti, inspirado numa ressurreição e glorificação da verticalidade reconquistada. Este esquema passou a ao desenho industrial desenvolvido com todo rigor do desenho técnico, que depois de aprovado pelo conselho paroquial seguiu para diversas industrias onde foi fabricado com precisas especificações e possível de ser produzido em série.


Evidentemente que esta obra no futuro vai ser interpretada numa linguagem popular. O obstáculo colocado, no seu significado imediato, não vai fazer o povo procurara um deus imediato de imagem e nome fixo e limitado. Como podemos limitar o que é infinito? Cremos que a técnica está inscrita na obra do Criador e portanto faz refletir indiretamente a face do Criador. A face do Criador inscrita no que há de mais elevado na criação que é a inteligência humana. Um dos frutos mais elevado na criação é a inteligência humana. Um dos frutos mais elevado desta inteligência é a técnica. Ao levá-la ao templo prestamos uma homenagem àquele que é a origem e o fim de todos os valores”.




MEMORIAL DESCRITIVO de OBRA CINÉTICA para a IGREJA SÃO JOÃO BATISTA PORTO ALGRE – RS - 1969



DEUS É AQUELE QUE É.


NÃO TEM NOME E NEM IMAGEM.


A TÉCNICA ATUAL DECORRE DO CRIADOR CONSTANTEMENTE.


ELA É: NÃO FIGURA.


A TÉCNICA FOI CONVOCADA AO TEMPLO PARA DAR O MELHOR DE SI


AÍ ESTÁ A ARTE CINÉTICA. AÍ ESTÁ A INTELIGÊNCIA HUMANA TRADUZIDA.


O TEMPLO CONVOCA, ASSIM, A INDÚSTRIA.


CONVOCA A COMUNIDADE QUE É CONSTAMENTE SOLICITADA POR OBRAS CINÉTICAS.


CONVOVA O ARTISTA QUE ESTÁ PENSANDO EM ARTE-MOVIMENTO.


CONVOCA O CIENTISTA QUE COLOCA EM NOSSAS MÃOS A TÉCNICA. CONVOCA O FIEL A ACEITAR O SEU CRIADOR SEM IMAGEM E SEM NOME.”



A obra da igreja São João Batista da Av. Benjamin Constant, Porto Alegre, foi destruída, na década de 1970, sem deixar vestígios neste espaço arquitetônico.








[1] - Este texto foi publicado [22.06.1969] um mês antes da chegada física do homem á Lua [20.07.1969] e cujos preparativos estavam em pleno andamento. O espaço escuro-noite - da parede na qual se inseria este objeto cinético - era uma referência explícita ao ambiente espacial escuro externo à atmosfera terrestre

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