quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O GERENCIAMENTO NÃO FAZ A UNIVERSIDADE.

No Brasil a lei precede o fato. Na universidade não é diferente

Leis são de competência do Legislativo. Contudo a universidade brasileira possui a sua raiz no Executivo do Governo Provisório de 1930 e teve as suas estruturas alteradas pelo Golpe do Executivo de 1964. O Legislativo tentou correr atrás do prejuízo pelas sucessivas edições da LDB (1961-1971-1996).

O administrador universitário perde, externamente, qualquer lógica, ou sentido envolto na confusão de leis vindas dos três poderes do Estado Brasileiro e que cada um tentam controlá-lo à sua maneira.

Internamente os administradores universitários são compelidos a exercerem as funções de augures diante do altar público do culto da teologia trinitária da PESQUISA – EXTESÃO- ENSINO. Culto da teologia trinitária que estes administradores universitários sabem capaz de levar os estudantes e os docentes até a esquizofrenia ao quadrado e na terceira potencia. Em decorrência deste culto da teologia trinitária o pesquisador é condicionado a lecionar sem a menor preparação pedagógica[1]. Para progredir na carreira o docente vocacionado é obrigado, a realizar e apresentar pesquisa a pela quais não sente menor pendor. Como fruto destas duas teologias trinitárias e esquizofrênicas a extensão avança, no máximo, para constituir-se numa “feirinha” para vender produtos baratos e de 2ª mão para uma população incapaz de distinguir ciência de tecnologia ou cultura de arte. Isto se o docente, que se qualificou para tal, não for compelido, na administração a ser “culpado de tudo” e aplacar a “Ira deorum” de uma Justiça cega.

Este tipo de lógica - apenas focada no legal e no administrativo - foi conceituada de “gerenciamento institucional”, por Tomas Aroldo da MOTTA e SANTOS, reitor (1994-1998) da Universidade Federal de Minas Gerais[2].

Na inexorável escolha entre natureza da universidade ou sua administração se predominar a voz da administração a sua natureza ficará relegada à heteronomia. Em especial ao se tratar de universidade mantida pelo poder estatal esta universidade será apenas um incômodo apêndice de um repartição pública e deverá comportar-se como tal. Uma discussão da autonomia universidade será apenas mais um puro exercício de ficção. Os limites burocráticos levarão as competências desta instituição ao fazer administrativo que atingirá apenas o universo do fazer dos docentes, estudantes e técnicos administrativos e sem o menor sentido ou coerência ao mundo externo.

Nestes limites burocráticos as leis brasileiras não passam de práticas e que a população abandona na primeira ocasião[3] ou logo que alguém sai da porta da universidade. Para preencher o vazio da natureza da universidade, importamos práticas, vigentes em outras culturas[4], sem importar os hábitos que dão suporte a estas práticas nos locais de origem desta tradição. Importamos as práticas universitárias, sem importar o hábito da integridade intelectual que, segundo Max Weber (1989: 70 ), é a única coisa que uma universidade pode ensinar aos seus estudantes[5].

Nas universidades - que não cultivam o hábito da integridade intelectual – a prática qualquer sustentação do contraditório de uma mentalidade é interpretada como ofensa pessoal.

A esterilização de um possível espanto diante de algo novo leva à absoluta impossibilidade de confessar, com Sócrates, “que só sabe que não sabe nada”. Esta esterilização abre espaço e faz brotar o cultivo da onisciência, da onipotência, da eternidade e da onipresença. A demonstração do avesso de uma determinada mentalidade à uma determinada mentalidade, na maioria das vezes penosa, deveria ser uma ajuda, senão um elogio.

A universidade, que julga ter resolvido todos os seus problemas, corre o risco de se transformar numa empresa cujos cargos são disputados por razões extra-universitários. A Ciência e continuada nos seus métodos e cumulativa nos seus resultados. A administração divide o tempo e estabelece períodos com metas específicas.

Formação X profissionalização

O agir X fazer

Ritmos próprios

Já não é caso da Arte

Einstein como administrador de uma universidade?

Hannah Arendt[6] na administração do Estado de Israel.

O artista que se torna rico e se transforma em rico: e só.

O mundo político x administrativo Sintomático o silêncio dos intelectuais depois que um deles foi presidente da Republica e pediu à nação que esquecesse a sua condição e produção anteriores. Gerente intelectual encabulado.

É meramente administrativo o argumento do artigo publicado em revista internacional e textos em livros com ISBN...

O GERENCIAMENTO NÃO FAZ A UNIVERSIDADE E, EM GERAL, ATRAPALHA MAIS QUE AJUDA.

Agora se o objetivo da universidade estatal brasileira for o de atrapalhar e o de colocar obstáculos, ela atinge esta meta. O raciocínio é simples, cínico e objetivo: o Brasil não oferece trabalho - e os nacionais devem procurar este bem cada vez escasso em outros países – a solução do problema consiste em incrementar cada vez mais escolas – até o pós-doutorado - e presídios para manter ocupada esta potencial mão de obra para o qual não se encontra outra alternativa. Diante desta carência do trabalho qualquer Estado nacional possui atualmente a escolha entre oferecer, para este universo ocioso, a ESCOLA para seus menores ou o PRESIDIO para quem está maioridade cronológica. Forçado pela falta de outra alternativa o império romano oferecia, aos seus ociosos, o projeto cultural do PÃO e do CIRCO.

Para concluir é necessário reconhecer, no interior do hábito da integridade intelectual, que muitas instituições universitárias sacrificaram o seu futuro do altar público do culto da teologia trinitária da PESQUISA – EXTESÃO- ENSINO e que torna impraticável qualquer mudança. A endogenia destes rituais está garantida pela existência institucionalizada das pró-reitorias PESQUISA – EXTESÃO- ENSINO. Para abandonar este hábito mitificado haveria necessidade de uma série de atos heróicos e romper com esta endogenia.

Contudo existem outras alternativas como trabalhar institucionalmente nos pólos da INVESTIGAÇÃO e da SOCIALIZAÇÂO do saber. INVESTIGAÇÃO do conhecimento novo. SOCIALIZAÇÂO interna e externa do patrimônio do conhecimento já acumulado.

INVESTIGAÇÃO do novo, do original e coerente com as circunstâncias nas quais se localiza a universidade.

SOCIALIZAÇÂO interna do saber disponível e distribuído hierárquica e organicamente na evolução e que o estudante necessita para trilhar o caminho até a fronteira da investigação do novo. SOCIALIZAÇÂO externa eventual e na medida das necessidades e lacunas existentes nas circunstâncias nas quais se localiza a universidade

Ver também:

http://www.lemonde.fr/societe/article/2009/10/12/l-universite-n-est-pas-une-entreprise_1252706_3224.html#ens_id=1088072



[1] - “Queremos ter professores sem cuidar de formá-los (...). Daí em quasi todos os ramos de atividade a improvisação de curiosos em competência” .Discurso de Francisco Campos no dia 18.11.1930 ao tomar posse como ministro no MESP. Boletim do MESP, ano 1 nº 1 e 2, p.5 jan. jun 1931.

[2] MOTA SANTOS Tomas Aroldo.da- . Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais(1994-1998). Numa entrevista informal (21.06.2000). ao autor, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ressaltou a importância da arte na universidade, ao mesmo tempo em que frisava que administrar não é simplesmente gerenciar. (ver nota nº 1.797 - fl 554) http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4787262Z6

[3] - Isto por que “ os Jurisconsultos habituam-se mais a justificar o que acham estabelecido, do que a raciocinar sobre o que deve ser.”.

Hipólito José da Costa in CORREIO BRAZILIENSE nº 175 p. 592 Miscellanea. - dez, 1822

http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/060000-175.

[4] - A busca desta genealogia - das universidades para preencher um vazio legal - encontra um exemplar acabado na criação da Universidade Brasileira para conferir o título de Doutor Honoris Causa ao rei da Bélgica. Mas o hábito não cessou e vai até o presente. Presente no qual são criadas universidades estaduais e federais apenas para marcar território, e que, na prática, abandonam os estudantes a situações desesperadoras depois de incendiar o seu imaginário com uma lei vazia – da criação de uma universidade - se não prejudicial.

Nesta lógica o Estado Brasileiro continua-se o hábito lusitano de ocupar território por meio da criação no papel e nos mapas para dar forma legal à sua expansão colonial.

[5] - “O único elemento, entre todos os “autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente, oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmos

Max WEBER WEBER, Max. Sobre a universidade. São Paulo : Cortez, 1989. 152 p.

[6] - Hannah ARENDT uma época como a atual em que a moralidade é a última coisa que se acredita ser evidente, há pouco espaço para a justiça, mas sobra para o nihilismo e para o cinismo”. http://www.terciosampaioferrazjr.com.br/?q=/publicacoes-cientificas/116

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